São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mulheres de 30 renovam a dramaturgia carioca

Peças de Daniela Pereira, Carla Faour e Alessandra Colasanti estão em cartaz no Rio e em SP

Temas tratados por elas vão da verborragia acadêmica à inconseqüência adulta; Daniela e Carla já foram indicadas ao Prêmio Shell


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma é flamenguista roxa, fã de Kid Abelha, soma três indicações ao Prêmio Shell (o mais importante do teatro brasileiro) em quatro anos e atualmente escreve para Marco Nanini. Outra é uma atriz que largou o jornalismo por ter um estilo "barroco, metafórico" e, na estréia em dramaturgia, emplacou uma menção ao mesmo prêmio. A terceira já teve loja em Ipanema, é formanda em teoria do teatro e, lá pelas tantas, descobriu que "sua viagem como autora" era um "discurso intelectual blasé delirante". Os perfis são de Daniela Pereira de Carvalho, 30, Carla Faour, 38, e Alessandra Colasanti, 33, dramaturgas respaldadas por público e crítica que ajudam a renovar a cena do Rio. Após passagem bem-sucedida pela cia. Os Dezequilibrados (em que se destacou com "Vida, O Filme"), Daniela chamou atenção em 2005, com "Tudo É Permitido", sobre bem-nascidos que roubam carros por lazer. Em seguida, "Não Existem Níveis Seguros para o Consumo destas Substâncias" fazia um retrato desolado de uma repartição pública e dava à autora a segunda indicação ao Shell: "É legal ir à festa [do prêmio] e beber champanhe, mas, na prática, não sei se muda algo. O patrocinador se liga em retorno, e autor não dá retorno". A agenda dela para 2009 sugere que a fala é pura modéstia: há projetos com Paulo de Moraes, da Armazém Cia. de Teatro (um "quase thriller" sobre um casal em crise), e Hector Babenco (a adaptação de "Hell", diário de uma frívola teen francesa), além da parceria com Nanini em "La Paz", em que um homem vai à Bolívia buscar o filho desaparecido.

É fácil criticar
Em cartaz em São Paulo com o musical "Tom e Vinicius", Daniela acusa "dificuldades estruturais" no teatro carioca, mas sai em sua defesa: "É muito fácil dizer que o teatro daqui é ruim. O Rio passou por anos de governos massacrantes. Não há política cultural efetiva, o que cria dificuldades para que surja uma produção plural". Mesmo julgando "brutalmente distintas, formal e tematicamente" as dramaturgias de sua geração, ela vê "um conjunto de referências parecido". Para Carla, indicada ao Shell 2008 por "A Arte de Escutar" (em que uma confidente nata ouve intrigas e desabafos), "são as nossas dificuldades que nos unem, a tentativa de produzir nossos textos sem patrocínio". Em cartaz com "Nenê Bonet", adaptação de romance-folhetim de Janete Clair, ela tem na manga "Açaí e Dedos" (investigação da falta de comunicação numa família) e "Mulherada" ("revisão da figura feminina de Eva a Madonna") -além de um convite para verter "Arte" em romance. Alessandra, que escreveu e atua em "Anticlássico" (na pele da Bailarina de Vermelho), mix de sátira à retórica acadêmica e pensata sobre a arte, vê-se como parte de um "fenômeno de resistência". "Os apoios institucionais são mínimos. Quem produz um trabalho de reflexão artística fica sufocado, pois não conta com a bilheteria." Foi Daniela, curadora de um festival de teatro em 2006, a primeira a dar trela à bailarina intelectualóide. A peça curta de então foi redimensionada e se desdobrou em blog, vídeos e intervenções -incluindo uma prevista para a Bienal de SP.

TOM E VINICIUS
Onde ver: teatro Copa Airlines (av. Rebouças, 3.970, SP, tel. 0/xx/11/4003-2330); sex. e sáb, às 21h30; dom., às 18h; até 14/12; de R$ 70 a R$ 100; censura 10 anos

NENÊ BONET
Onde ver: teatro 1 do CCBB (r. 1º de Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020); qua. a dom., às 19h; até 16/11; R$ 10; censura 14 anos ANTICLÁSSICO


Onde ver: Casa de Cultura Laura Alvim (av. Vieira Souto, 176, Rio, tel. 0/xx/ 21/ 2267-1647); ter. e qua., às 21h; até 22/10; R$ 25; censura 12 anos



Texto Anterior: Líder do AfroReggae filma "quem faz diferença"
Próximo Texto: Análise: Geografia cultural une autoras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.