São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Geografia cultural une autoras

MACKSEN LUIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para além da perspectiva geracional e de gênero, Alessandra Colasanti, Carla Faour e Daniela Pereira de Carvalho se ligam pela geografia cultural. Cariocas, de formação acadêmica semelhante, essas autoras com carreiras em velocidade de arranque se aproximam pela diversidade estilística e diferenças de universos dramatúrgicos. O que caracteriza as peças de Faour é sua indiscutível identidade com o literário, seja nas adaptações de "A Força do Destino" (do romance de Nélida Piñon) e "Nenê Bonet" (romance-folhetim de Janete Clair), seja em seu único texto já encenado, "A Arte da Escuta". A habilidade com que Faour afina para o palco narrativas de outro meio expressivo demonstra a percepção da especificidade cênica do material de origem e, no caso do próprio texto, a capacidade de estabelecer circulação formal entre dramaturgia e literatura, na qual cenas curtas se insinuam como contos minimalistas. Colasanti cria em "Anticlássico..." a Bailarina de Vermelho, pastiche de figura de Degas, que evolui pela banalidade intelectual e cultural da citação com a desenvoltura dos conceitos superficiais e ignorância empostada. Ela transfere para conferência "nonsense" o humor rascante sobre a vulgarização do discurso teórico. Pereira, que tem uma dezena de peças escritas, pode ser apontada como autora consolidada. Pelo menos do ponto de vista "comercial", tanto que tem recebido "encomendas" do mercado, como atestam "Um Certo Van Gogh" e "Tom e Vinicius". Mas sua produção, iniciada com o grupo Os Dezequilibrados, em que despontou com a desigual, provocantemente e melancólica "Dilacerado", reflete múltiplas vivências de sua geração, com ênfase no desmoronamento de quaisquer convicções e no jogo de marginalidades. Vozes dissonantes ("Renato Russo"), desencontros urbanos ("Tudo É Permitido", o seu melhor texto), ausência de futuro ("Por Uma Vida Menos Ordinária"), alienação de qualquer sentido ("Não Existem Níveis Seguros para Consumo Destas Substâncias") impulsionam a dramaturgia em processo de Pereira, entreaberta para tantas outras possibilidades.

MACKSEN LUIZ é crítico de teatro do "Jornal do Brasil"



Texto Anterior: Mulheres de 30 renovam a dramaturgia carioca
Próximo Texto: "Família Soprano" volta em maratona
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.