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análise
Geografia cultural une autoras
MACKSEN LUIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para além da perspectiva geracional e de
gênero, Alessandra
Colasanti, Carla Faour e Daniela Pereira de Carvalho se
ligam pela geografia cultural.
Cariocas, de formação acadêmica semelhante, essas
autoras com carreiras em velocidade de arranque se
aproximam pela diversidade
estilística e diferenças de
universos dramatúrgicos.
O que caracteriza as peças
de Faour é sua indiscutível
identidade com o literário,
seja nas adaptações de "A
Força do Destino" (do romance de Nélida Piñon) e
"Nenê Bonet" (romance-folhetim de Janete Clair), seja
em seu único texto já encenado, "A Arte da Escuta".
A habilidade com que
Faour afina para o palco narrativas de outro meio expressivo demonstra a percepção
da especificidade cênica do
material de origem e, no caso
do próprio texto, a capacidade de estabelecer circulação
formal entre dramaturgia e
literatura, na qual cenas curtas se insinuam como contos
minimalistas.
Colasanti cria em "Anticlássico..." a Bailarina de
Vermelho, pastiche de figura
de Degas, que evolui pela banalidade intelectual e cultural da citação com a desenvoltura dos conceitos superficiais e ignorância empostada. Ela transfere para conferência "nonsense" o humor
rascante sobre a vulgarização do discurso teórico.
Pereira, que tem uma dezena de peças escritas, pode
ser apontada como autora
consolidada. Pelo menos do
ponto de vista "comercial",
tanto que tem recebido "encomendas" do mercado, como atestam "Um Certo Van
Gogh" e "Tom e Vinicius".
Mas sua produção, iniciada com o grupo Os Dezequilibrados, em que despontou
com a desigual, provocantemente e melancólica "Dilacerado", reflete múltiplas vivências de sua geração, com
ênfase no desmoronamento
de quaisquer convicções e no
jogo de marginalidades.
Vozes dissonantes ("Renato Russo"), desencontros urbanos ("Tudo É Permitido",
o seu melhor texto), ausência
de futuro ("Por Uma Vida
Menos Ordinária"), alienação de qualquer sentido
("Não Existem Níveis Seguros para Consumo Destas
Substâncias") impulsionam
a dramaturgia em processo
de Pereira, entreaberta para
tantas outras possibilidades.
MACKSEN LUIZ é crítico de teatro do "Jornal do Brasil"
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