São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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BIA ABRAMO

Novela em ritmo de aventura


Em vez do passado, "Negócio da China" aposta num presente meio caótico, caricato

NO MESMO dia em que o dólar disparou e as Bolsas do mundo inteiro entraram em parafuso, a nova novela das seis começou mostrando um golpe típico do capitalismo financeiro globalizado. O mesmo que estava, no noticiário, entrando em colapso.
O cenário é um cassino em Macau, China. Um funcionário provoca um blecaute; mas, não se sabe como, consegue deixar um computador funcionando. Desse computador, transfere todo o dinheiro em circulação no cassino para uma conta na Suíça. Vemos tudo acontecendo virtualmente - o "dinheiro" existe apenas como símbolos e imagens na tela do computador, o "roubo" é representado pela movimentação da barra de transferência de arquivos.
Certamente essa coincidência não foi a responsável pelos índices animadores de audiência obtidos por "Negócio da China" em sua estréia, mas, além de servir de comentário irônico sobre aquilo que se passava no mundo real, marcou bem a sua diferença com suas antecessoras.
Em vez do passado, a novela aposta num presente meio caótico, meio caricato e em ritmo de aventura. Arranha-céus de aço e pontes impressionantes em São Paulo, cenas de rua na China e Portugal, um Rio de Janeiro urbano, ainda que um tantinho nostálgico.
A novela começou em tom dramático -um homem, literalmente no leito de morte, faz a mulher prometer que vai revelar ao filho um segredo guardado por 20 anos, o casal central começa separado e melancólico, o patriarca da família rica lamenta a falta de herdeiros. Mas, mesmo cumprindo a obrigação noveleira de fazer drama, Miguel Falabella tem lá suas obsessões e elas estão presentes na trama: vedetes decadentes e megeras intrometidas dão o tom cômico escrachado que também destoa em relação ao padrão ingênuo do horário.
O golpe descrito no início enseja uma série de aventuras em torno da fortuna desviada -perseguido pela máfia chinesa, o funcionário do cassino foge para Lisboa, deixando o pendrive onde está gravada a transação na bagagem de um dos mocinhos da história, um português que está de mudança para o Rio. Ainda que as cenas de ação sejam um ponto fraco, a intenção de fazer uma novela mais movimentada, com referências à cultura pop oriental, pode se transformar num fator de atração para o público mais jovem.
Agora, se tudo isso vai, de fato, fazer "Negócio da China" voltar para os índices de audiência esperados, não se sabe. Provavelmente não. Aqueles índices, assim como o dólar a R$ 1,50, são coisa de "época".

biabramo.tv@uol.com.br



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