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Crítica
"Longe Dela" cativa pela sensibilidade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Se Julie Christie tivesse ganho o Oscar por "Longe Dela"
(HBO, 1h05; não recomendado
para menores de 12 anos), o
que aliás seria bem merecido, a
repercussão desse filme de Sarah Polley seria outra.
Como não ganhou, temos então um mero "filme de doença", no caso o mal de Alzheimer. O roteiro cerca todas as
circunstâncias que tornem a situação explícita, no que tem de
particular ou de geral. Fiona
não é uma mulher especialmente idosa (de modo que não
devemos estabelecer uma relação obrigatória entre idade e
doença). É culta, casada há
muitos anos, ama e é amada.
Essa última circunstância é
essencial: "Longe Dela" precisa
ser uma "love story" para ser
engolida pelo espectador. Ela
compensa o horror da situação,
a saber: a perda progressiva de
memória.
Sarah Polley trabalha com
inteligência: usa o caso de amor
para, por um lado, tornar palatável esse mal horrível (esquecer de si mesmo equivale a
morrer em vida, não?). Por outro, coloca Grant (Gordon Pinsent, também notável), o marido, num estado de perfeita solidão. Cabe a ele amar uma pessoa incapaz sequer de reconhecê-lo. É a mesma com quem viveu e, ao mesmo tempo, não é.
O terrível num filme desses é
que, por melhor que se faça,
sempre o mal será visto antes
da obra. E não se admitirá que
este é um filme estimável não
só por sua grande atriz mas
também porque foi feito com
muita sensibilidade.
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