São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Crítica

"Longe Dela" cativa pela sensibilidade

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Se Julie Christie tivesse ganho o Oscar por "Longe Dela" (HBO, 1h05; não recomendado para menores de 12 anos), o que aliás seria bem merecido, a repercussão desse filme de Sarah Polley seria outra.
Como não ganhou, temos então um mero "filme de doença", no caso o mal de Alzheimer. O roteiro cerca todas as circunstâncias que tornem a situação explícita, no que tem de particular ou de geral. Fiona não é uma mulher especialmente idosa (de modo que não devemos estabelecer uma relação obrigatória entre idade e doença). É culta, casada há muitos anos, ama e é amada.
Essa última circunstância é essencial: "Longe Dela" precisa ser uma "love story" para ser engolida pelo espectador. Ela compensa o horror da situação, a saber: a perda progressiva de memória.
Sarah Polley trabalha com inteligência: usa o caso de amor para, por um lado, tornar palatável esse mal horrível (esquecer de si mesmo equivale a morrer em vida, não?). Por outro, coloca Grant (Gordon Pinsent, também notável), o marido, num estado de perfeita solidão. Cabe a ele amar uma pessoa incapaz sequer de reconhecê-lo. É a mesma com quem viveu e, ao mesmo tempo, não é.
O terrível num filme desses é que, por melhor que se faça, sempre o mal será visto antes da obra. E não se admitirá que este é um filme estimável não só por sua grande atriz mas também porque foi feito com muita sensibilidade.


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