São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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A CONTADORA DE HISTÓRIAS

Artista norte-americana Laurie Anderson discute relação entre intimidade e barulho em megaexposição no CCBB

FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

Travesseiros, mesas e paredes vão falar, a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Isso se tudo der certo, pois, na última sexta-feira, quando a reportagem visitou o espaço, nada estava montado.
Esses objetos vão ser portadores da voz de Laurie Anderson, a artista norte-americana multimídia que realiza "I in U - Eu em Tu", sua primeira grande mostra no país.
"Eu me considero uma contadora de histórias, foi a primeira coisa que fiz como artista e é a de que mais gosto", disse Anderson, 63, à Folha, no café do CCBB.
Para contar suas histórias, a artista criou um clima intimista, uma espécie de abrigo antiestresse das caóticas ruas do centro de São Paulo.
"Estive aqui há alguns meses para conhecer o espaço e pensar sua ocupação. Como essa região é muito barulhenta, achei que deveria criar uma situação que valoriza a privacidade", disse.
A primeira peça da mostra, "Handphone Table" (mesa de telefone manual), que deve estar no hall de entrada do CCBB, é uma boa síntese do objetivo da artista: trata-se de uma mesa que emite sons e, para escutá-los, é preciso apenas encostar uma parte do braço no objeto e a voz de Anderson irá vibrar pelos ossos do visitante, até alcançar suas mãos, que devem ficar junto aos ouvidos.
Nessa obra, uma recriação de um trabalho dos anos 1970, quando os sons eram gravados em fitas cassetes, a tecnologia de ponta é um instrumento para o dom de narradora de Anderson.
"A tecnologia não representa para mim um fim, ela é apenas um meio. Ninguém deve mais ficar abismado quando se aperta um botão e algo acontece, é preciso ter uma razão para usar esse tipo de instrumento", diz.
A própria artista reconhece que parte desse uso instrumental da tecnologia tem a ver com sua formação inicial como violinista, quando adolescente, em Chicago (EUA): "Eu trabalhei muito em estúdio e, em minhas ações iniciais, eu levava o equipamento para o palco".

PÍLULAS NARRATIVAS
Na mostra "I in U - Eu em Tu", organizada por Marcelo Dantas, a artista estará presente em 31 obras, entre instalações, fotografias, desenhos, vídeos, músicas, documentações de performances e 19 filmes.
Entre os desenhos, um que tinha sido finalizado na parede do segundo andar contava a história de um burro que havia morrido quando estava seguindo um cenoura.
Histórias assim, simples, compõem a principal instalação da mostra, "Delusion", criada a partir da morte da mãe de Anderson, ocorrida recentemente, que se transformou numa peça para o palco.
""Delusion" é como rever a vida, foi algo que fiz para ela.
Já aqui, busquei transformar essa homenagem que estava no palco em algo tridimensional e não algo para assistir em laptops", conta.
A instalação é composta por 20 contos, todos sendo narrados de várias formas distintas.
Essas pílulas narrativas fazem parte da busca constante de contato com o público: "Para mim, interessa perguntar o que realmente queremos. Eu faço esforço para não estar numa bolha, mas não busco grandes audiências, o que eu busco é que as pessoas compreendam e gostem do que eu faço", conta a artista, que hoje abre a mostra com a performance "Duets on Ice", realizada originalmente em 1975.
O dueto é feito com um "violino autotocante", objeto que Anderson criou e que fica sobre gelo durante a ação.
"Eu preciso acabar essa performance de alguma forma e quando o gelo derrete, é o fim, para ela."
Depois da performance, às 18h, ela faz uma palestra, para a qual é preciso se inscrever antecipadamente pelo tel. 0/xx/11/3113-3649.

I IN U - EU EM TU: LAURIE ANDERSON
QUANDO abre hoje, às 16h; de ter. a dom., das 10h às 20h; até 26/12
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, tel. 0/xx/ 11/3113-3651)
QUANTO grátis




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