São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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Ator alemão tem retrospectiva no Festival Mix Brasil, que começa amanhã em SP

Udo Kier solta seus monstros no Brasil

Steven Meisel/Reprodução do livro "Sex"
Ao centro, o ator alemão Udo Kier em foto que fez a convite da cantora Madonna (agachada) para o livro "Sex"


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator alemão Udo Kier, 57, não vem prestigiar a retrospectiva em sua homenagem na 9ª edição do Festival Mix Brasil, que começa amanhã em São Paulo. Mas o próprio ator selecionou os quatro filmes que serão exibidos durante a mostra, três deles sobre histórias de monstros: "Drácula" e "Frankenstein", ambos de 74, dirigidos por Paul Morrissey, com produção da Factory, de Andy Warhol, e "A Sombra do Vampiro" (2000), de Elias Merhige, que faz sua pré-estréia no Brasil.
Será exibido ainda "Medéia" (88), filme cult de Lars von Trier, primeira obra do ator com o diretor dinamarquês. Desde então, Kier participa de todas as produções de Trier, inclusive seu mais ambicioso trabalho, que tem estréia prevista para 2024. "Espero que esteja vivo até lá", disse o ator à Folha, por telefone, da Califórnia, onde vive.
Será uma pequena mostra, pois Kier já fez cerca de 120 filmes, com alguns dos mais renomados diretores. Apesar de ter também trabalhado em "blockbusters", como "Armageddon" e "O Fim dos Dias" ("é uma maneira de poder realizar outros trabalhos, até mesmo bancar novos diretores"), Kier é mais conhecido pelos personagens cults que interpretou, caso de Hans, em "Garotos de Programa", de 91. Foi por participar do filme que um dia o telefone tocou em sua casa: era Madonna convidando-o para participar do livro "Sex", com fotos de Steven Meisel, de 92.
Apesar de não vir agora ao Brasil, Kier garante que vem no próximo. "E arrume um diretor com quem eu possa trabalhar aí", diz.

Udo Kier - Antes de começar, gostaria de dizer que estou muito triste por não poder ir ao Brasil, porque começo a rodar um novo filme, "Betty", na Alemanha, no qual faço o personagem principal. Vou mandar um vídeo com um depoimento e prometo que no próximo ano estou aí.

Folha - Quais os critérios para a seleção da retrospectiva?
Kier -
Escolhi os filmes mais marcantes em minha carreira e também um dos mais recentes, "A Sombra do Vampiro", de Elias Merhige, no qual Willem Dafoe está excelente. "Medéia", de 88, foi meu primeiro encontro com Lars von Trier, com quem depois trabalhei em todas suas outras produções. E escolhi "Drácula" e "Frankenstein", produzidos por Andy Warhol, pois foram os filmes que me deram projeção.

Folha - "Medéia" é um filme muito visual, diferente das atuais produções de Trier. Quais suas lembranças das filmagens com ele?
Kier -
Foi meu primeiro encontro com Trier. Em 87, ele apresentou "Element of Crime", sua primeira produção, num festival em Mannheim, na Alemanha, e eu estava com um filme de Fassbinder, "The Last Trip to Harry's Book". Ambos competíamos no festival e fiquei tão tocado pelo filme que fui falar com ele. Logo em seguida, Trier me ligou, convidando para fazer o rei Jasão, em "Medéia", com uma recomendação clara: "Não lave mais seu cabelo, nem faça a barba".
Duas semanas depois, apresentei-me como apareço no filme, pois ele não deixa usar maquiagem. Aprendi que ele não gosta de atores que deixam perceber que estejam atuando, mas que atuem naturalmente, como você mesmo. Isso é difícil, pois como podemos saber quem somos...
Foi uma ótima experiência e, desde então, fiz todos os seus filmes, sou até padrinho de seu filho. Agora estou em sua nova produção, que começa a ser filmada em fevereiro, com Nicole Kidman, chamada "Doc's Will".

Folha - O senhor também participa do filme de Trier, que deve estrear em 2024, não é?
Kier -
Sim. Ele se chama "Dimension". Não posso contar a história, para manter um mistério sobre ela. Há sete anos, por volta do Natal, gravamos por um dia algumas cenas. Será uma produção realizada em 30 anos, de 90 minutos, sobre como o tempo atua em algumas pessoas, como Jean-Marc Barr ("Europa"), Stellan Skarsg†rd ("Ondas do Destino") e outros. Espero que eu esteja vivo até a estréia (risos).

Folha - E como foi trabalhar com Madonna em "Sex"?
Kier -
Ela assistiu a "Garotos de Programa", de Gus van Sant, e praticamente me alugou para as fotos. Ela é um dos maiores fenômenos da cultura de nossos tempos, e mal conversamos durante as fotos. Mesmo assim, ainda participei do videoclipe de "Deeper and Deeper".

Folha - Alguns de seus personagens mais conhecidos são dos filmes de Gus van Sant e Von Trier, com tipos decadentes. O senhor se identifica com eles?
Kier -
Eu gosto de decadência, adoro tudo que é decadente.


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