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RELÂMPAGOS
Várzea
JOÃO GILBERTO NOLL
O velho senta à beira do regato, os pés no veio sussurrante. Ele não conhece ninguém, vem de longe, à procura de um lugar para ficar.
Que um cachorro apareça
para lhe fazer companhia nas
gratas horas de sono -enrodilhados ambos, o animal no
centro, o velho ao redor com
a inesgotável lã, os dois no
mesmo afã de se ausentar...
Ali vem o carro, cada vez
mais lento, como quem encontra o que estava a procurar. Do carro sai o homem
que faz com a mão a aba, preparando a vista para a miragem calculada: põe toda a sua
atenção no velho a se refrescar. Quem é o novo personagem? Por que sonda o outro
tão de longe? Vê-se que são
tomados pela relva... A relva
farfalha digerindo os corpos
com vísceras sedosas, ah... O
cão fareja.
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