São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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RELÂMPAGOS

Várzea

JOÃO GILBERTO NOLL

O velho senta à beira do regato, os pés no veio sussurrante. Ele não conhece ninguém, vem de longe, à procura de um lugar para ficar. Que um cachorro apareça para lhe fazer companhia nas gratas horas de sono -enrodilhados ambos, o animal no centro, o velho ao redor com a inesgotável lã, os dois no mesmo afã de se ausentar... Ali vem o carro, cada vez mais lento, como quem encontra o que estava a procurar. Do carro sai o homem que faz com a mão a aba, preparando a vista para a miragem calculada: põe toda a sua atenção no velho a se refrescar. Quem é o novo personagem? Por que sonda o outro tão de longe? Vê-se que são tomados pela relva... A relva farfalha digerindo os corpos com vísceras sedosas, ah... O cão fareja.


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