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MÚSICA
Projeto do violonista, interrompido em 95, homenageia Capiba com interpretações de convidados como Chico e Caetano
Vozes da MPB afinam CD de Raphael Rabello
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
Projeto no qual Raphael Rabello
trabalhava quando morreu em
1995, aos 33 anos, o disco "Mestre
Capiba por Raphael Rabello e
Convidados" foi ressuscitado. As
fitas, que começavam a oxidar,
largadas numa estante do estúdio
do violonista, precisaram de muitos banhos químicos para desvendarem, após sete anos de esquecimento, o virtuoso violão que
acompanhava um naipe precioso
de vozes da MPB cantando composições do pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904-1997), um dos maiores
entre os compositores de frevo.
O resultado é uma homenagem
de Rabello às músicas mais delicadas desse compositor -entre
as quais não estão apenas frevos,
mas sambas, serestas e outras
canções- por meio das vozes de
Chico Buarque, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Gal Costa, Maria Bethânia, Alceu Valença e Claudionor
Germano, o intérprete tradicional
de seus frevos. Além das mãos e
da voz de João Bosco e do sopro
de Paulinho Moura.
"Capiba fez parte de nossa infância. Raphael teve mais um trabalho de escolha de repertório
que de pesquisa. Capiba era amigo de nosso avô José Queiroz Batista", conta Luciana Rabello, 41,
irmã do violonista e responsável
pela retomada do projeto que se
concretiza agora.
As dificuldades para completar
o disco foram principalmente de
articulação. "Só quando contatei
a Ação pela Cidadania é que as
coisas começaram a andar", explica Luciana lembrando que o
CD faz parte do programa Natal
sem Fome desde que foi pensado.
Depois foi acertar o que o violonista planejara. "Foi um processo
de tentar lembrar as conversas
que tive com meu irmão, pois ele
não deixava nada escrito."
Entre as faixas que comporiam
o CD, "Sino, Claro Sino" ainda
não tinha voz quando o violonista
morreu. Dela, Rabello deixou
uma gravação com violão na qual
cantarolava a letra da música -a
voz-guia. Para gravá-la, descobriu-se que Rabello tinha pensado em Milton Nascimento.
"O Milton chegou ao estúdio de
caso pensado. Cantou apenas pedaços da música. Não me intrometi. No final, comentei que precisaríamos regravar, ao que ele
respondeu sorrindo "não faço
mais nada, coloque a voz-guia"." E
estava registrada a primeira e única participação vocal de Rabello.
Em duo com Milton Nascimento.
O sucesso "Valsa Verde" foi gravado duas vezes. Uma na voz de
Paulinho da Viola e outra em registro instrumental. O pedido foi
feito pelo próprio Capiba a Rabello, que não pôde recusar. A valsa
foi considerada a música de apresentação do jovem Capiba, ao
compô-la em 1932.
Ainda menino, esse filho do
professor de música, arranjador,
clarinetista e violinista Severino
Atanásio já se interessava pela
música. Mas foi por volta de 1934
que ganhou os carnavais com "É
de Amargar", seu primeiro frevo.
Aos 90 anos, Capiba foi conhecer as gravações em que Rabello
estava trabalhando. "Embora
meu irmão tenha mantido as músicas como concebidas, Capiba
achou estranhos os vocais de João
Bosco no samba "A Mesma Rosa
Amarela" [risos]", conta Luciana.
"Mas a única versão do disco,
no sentido de uma "releitura", a espanholada de Ney Matogrosso
para "Serenata Suburbana", não
causou estranheza. Capiba disse
que gostou do que ouviu."
Mas as novidades póstumas do
violão de Rabello não param em
Capiba. Foram encontradas gravações do músico num estúdio
americano que devem virar disco
no ano que vem. "Eles me chamaram para identificar algumas músicas que meu irmão tinha deixado por lá", conta Luciana. "Encontrei-o tocando choros, sozinho, ao estilo de seus primeiros
discos." É esperar.
MESTRE CAPIBA POR RAPHAEL
RABELLO E CONVIDADOS - artista:
vários. Lançamento: Acari Records/BMG.
Quanto: R$ 19,90 (em média).
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