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MÚSICA
Feito a partir de apresentação em Minas, em 81, disco é o único registro fonográfico apenas piano-e-voz do maestro
Raridade, CD traz show de Tom Jobim
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Do baú de Tom Jobim, cujo fundo ainda não é visível, salta para
as lojas na próxima semana uma
raridade: "Antonio Carlos Jobim
em Minas ao Vivo" (Jobim Biscoito Fino). Fruto de um show de
1981, é o único registro fonográfico apenas piano-e-voz do maestro. Com exceção das palmas da
platéia, não há, nas 18 faixas, nenhum outro som além da voz
roufenha e do piano econômico
de Tom, ambos inigualáveis.
"É um disco único mesmo. Há,
em outros discos, pedaços dele
cantando e tocando sozinho, mas
um show inteiro eu nunca tinha
ouvido", ressaltou, na entrevista
coletiva realizada na quarta-feira,
Paulo Jobim, filho do maestro e
responsável pela preservação e
ampliação de sua obra. "Se eu tivesse ouvido essa gravação antes
de escrever todos os arranjos para
piano das músicas [para o 'Cancioneiro Jobim'], tudo teria sido
mais fácil", completou.
O show
Acontecido no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em 15 de
março de 1981, o show se deu pouco antes de Tom começar a montar a Banda Nova, com a qual se
apresentaria até o fim da vida (há
dez anos, em 8 de dezembro de
1994). Ele ainda evitava subir aos
palcos, fazendo temporadas apenas ao lado de amigos, como a de
sete meses em 1977 com Toquinho, Vinicius de Moraes e Miúcha.
A anomalia da apresentação é
ressaltada pelo próprio Tom na
abertura do disco. Antes de cantar
a primeira música, ele ainda dedica o show a seus parceiros, que
norteiam a montagem do repertório: primeiramente, músicas
com Newton Mendonça (2), depois Dolores Duran (2), Vinicius
(7), Aloysio de Oliveira (2), Chico
Buarque (1) e o letrista Tom (4).
No bis, vem "Garota de Ipanema", letra de Vinicius.
Ele canta, entre outros clássicos,
"Samba de uma Nota Só", "Por
Causa de Você", "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Água de Beber", "Eu Sei que Vou te Amar",
"Modinha", "Chega de Saudade",
"Dindi", "Corcovado", "Lígia" e
"Águas de Março".
O disco
Para o mercado exterior, o CD
não terá as falas de Tom. Já os
consumidores brasileiros poderão ouvir gracejos como o que ele
faz antes de cantar o mega-sucesso "Desafinado": "Ninguém quis
gravar, os editores não queriam
editar, João Gilberto não quis nada com ela". Ou lembrando quando Vinicius o chamou para ser
seu parceiro na trilha de "Orfeu
da Conceição" e ele, ainda desconhecido, perguntou: "Tem um dinheirinho nisso?". Ou exaltando
Chico, antes de interpretar "Retrato em Branco e Preto": "É craque mesmo, tipo Pelé, Garrincha".
Mas o que importa mais, é claro,
são as músicas. A possibilidade
rara de ouvir Tom sozinho ao piano, cantando e tocando muito
bem afasta qualquer preconceito
em relação ao desejo dos herdeiros do compositor de escarafunchar seu baú. "Não vamos lançar
qualquer coisa, apenas o que tiver
qualidade bacana", esclareceu
Paulo Jobim, que retirou do disco
a versão de "A Felicidade" exatamente por não estar em boas condições técnicas.
Segundo ele, gravações em mau
estado, mas que tenham valor de
curiosidade ou pesquisa, estarão
no site do Instituto Antonio Carlos Jobim, ainda em construção.
O objetivo, a médio prazo, é criar
uma rádio virtual para levar à internet as músicas de Tom, mas
cobrando de quem quiser baixar
os arquivos. "Não vamos vender,
como uma gravadora, mas é preciso pagar direitos autorais. Liberar tudo, como há quem defenda,
não resolve o problema", disse
Paulo.
"Antonio Carlos Jobim em Minas ao Vivo" é o primeiro produto do selo Jobim Biscoito Fino,
uma associação entre a Jobim
Music -comandada pela viúva
Ana Lontra Jobim- e a gravadora Biscoito Fino, de Kati Almeida
Braga e Olívia Hime. Nos planos
também estão lançar em DVD
uma apresentação de Tom no
Mosteiros dos Jerônimos, em Lisboa, recuperar especiais de TV,
transformar em disco trilhas sonoras e outras gravações inéditas,
e negociar com gravadoras americanas os títulos que nunca tiveram edições nacionais.
"Acho que criamos a gravadora
para chegar nesse momento, o de
podermos lançar Tom Jobim. É o
nosso prêmio", comemorou Olívia Hime.
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