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Um dos pais do "new journalism", autor é tema de 2 filmes e tem 4 livros lançados, um inédito
O ano capote
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O "new journalism", novo jornalismo ou jornalismo literário,
movimento que surgiu nos EUA
nos anos 60 e primeiro aplicou
técnicas de narrativa literária em
textos para a imprensa, tem mais
autoproclamados fundadores do
que o Partido dos Trabalhadores.
Mas, se existe um nome que estava mesmo lá, bem na foto, junto
da companheirada norte-americana, é o do esquisitão Truman
Capote. Esquisitão, não: esquisitinho, ele não media nem 1,60 m.
Autor de um dos livros mais importantes do gênero, "A Sangue
Frio" (1966), Capote morreu em
1984, prestes a completar 60.
Estivesse vivo, estaria feliz, pavão que era. O escritor e jornalista
é tema de duas cinebiografias, teve pela primeira vez todos os contos reunidos num livro, mais um
volume só de cartas, ganha no
Brasil uma reedição caprichada
de sua principal ficção, "Bonequinha de Luxo", e, nos EUA, o lançamento de seu primeiro romance, até então perdido.
Nas telas, "Capote", atualmente
em cartaz nos Estados Unidos e
com previsão para estrear no final
de janeiro no Brasil, já é um dos
favoritos ao Oscar 2006. Dirigido
pelo estreante Bennett Miller, traz
Philip Seymour Hoffman no papel principal e foca no período
que daria em "A Sangue Frio".
Era 1959, e o jornalista, então
trabalhando na revista "New Yorker", viu uma notícia escondida
nas páginas internas do jornal
"The New York Times". Herbert
W. Clutter, sua mulher e seus dois
filhos, da cidadezinha de Holcomb, no Kansas, tinham sido assassinados. Enxergou ali uma boa
história, convenceu seu editor e
passou o próximo ano e meio lá.
Ao colocar o ponto final na série
de reportagens que mostraram ao
resto do país um crime bárbaro
cometido por dois homens, tinha
inventado o que chamou de "romance sem ficção", em que o narrador presume pensamentos e intenções de personagens reais, baseado em conversas e anotações.
"É um marco importante do
novo jornalismo, embora, se você
quiser ser rigoroso historicamente, experiências nesse sentido já
eram feitas em tempos tão distantes quanto o século 17, por Daniel
Defoe, de "Robinson Crusoe", que
também era jornalista", disse à
Folha James Bettinger, titular da
cadeira de jornalismo literário da
Universidade Stanford.
"Ao mesmo tempo que é um
marco importante, porém, "Sangue Frio" teve algumas de suas técnicas questionadas, como se sabe", disse ele. "Mesmo assim, influenciou muitos escritores, e é
uma pena que Capote nunca tenha terminado outro livro."
Bettinger assistiu a "Capote", o
filme, e acha que o retrato que
Hoffman faz do jornalista é "fantástico", mas que o filme como
um todo não é tão bom. Douglas
McGrath gostaria de ouvir esta
frase. Ele é o diretor de "Have You
Heard?", outra cinebiografia de
Capote que narra o mesmo momento da vida do escritor, mas
que teve de ser adiada para 2006,
por conta da concorrência.
Intrigas, disputas, competição.
Tudo isso faria os olhos de Capote
brilhar: fofoqueiro, mesmo vindo
do sul sem dinheiro nem tradição
e sendo abertamente homossexual numa época conservadora,
ele conseguiu entrar e ser aceito
pela high-society nova-iorquina,
a qual tinha orgulho de "trabalhar" a seu favor e sobre a qual escrevia como ninguém.
É do período de ascensão profissional e social pré-"A Sangue
Frio" que saiu da pena de Capote
"Bonequinha de Luxo" (1958),
que a Companhia das Letras relança agora no Brasil, em edição
com outros três contos.
Nos EUA, outros lançamentos
literários acompanham o "Ano
Capote". "Too Brief a Treat - The
Letters of Truman Capote" (uma
ameaça muito breve - as cartas de
Truman Capote) reúne grande
parte da correspondência com celebridades amigas, que depois lhe
virariam os rostos, quando Capote ameaçou escrever um livro com
"tudo o que sabia" sobre elas.
Pela mesma editora, Random
House, chega "The Complete Stories of Truman Capote" (os contos completos), de título auto-explicativo, que incluem o inédito
"The Bargain" (a barganha), encontrado em 2004. Inédito também e com previsão de lançamento para este mês é o primeiro romance do autor, "Summer Crossing" (travessia do verão), de
1943, sobre uma jovem socialite
abandonada numa cobertura.
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