São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Romance biográfico põe Marilyn no divã

Misto de ficção, ensaio e biografia, "Marilyn, Dernières Séances" retrata a relação pouco (ou muito) freudiana entre a atriz e seu analista

Livro lançado na França pelo psicanalista Michel Schneider cria diálogos de sessões de análise e mostra "loucura passional" em relação

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Como a maioria das celebridades de Hollywood, Marilyn Monroe (1926-62) tinha seu analista. Insegura, lutando contra uma insônia tão monumental quanto sua dificuldade de viver, a atriz era fascinada pela teoria freudiana da cura pela palavra. Sem contar Anna Freud, filha do pai-fundador, cujo divã freqüentou em Londres, quando filmava "O Príncipe e a Corista" (1957), Marilyn teve três analistas. Mas, com toda a angústia que a habitava, a loura platinada podia ser também muito engraçada. Elia Kazan, de quem foi amante, definiu-a como uma das pessoas mais divertidas que conheceu. A psicanálise não a ajudou a se livrar das anfetaminas, como mostra o livro "Marilyn, Dernières Séances" (últimas sessões), do psicanalista francês Michel Schneider. O romance -entre os mais vendidos na França desde que foi lançado, em setembro, e com lançamento previsto para o segundo semestre de 2007 no Brasil pelo selo Alfaguara, da Objetiva- reconstitui brilhantemente a relação complexa entre Marilyn e seu último analista, o psiquiatra Ralph Greenson. Com ele, a atriz teve durante 30 meses uma relação intensa e pouco ortodoxa. Greenson -que desempenhava o papel de analista, conselheiro e guru da atriz- foi a última pessoa a vê-la com vida e a primeira a vê-la morta. Mas o Greenson do romance, como o inspetor que investiga o caso, lança dúvidas sobre a tese do suicídio. "Eles não tinham um caso de amor, mas viveram uma história passional de domínio e dependência recíprocas, a mil léguas de distância da ortodoxia freudiana", disse Michel Schneider ao jornal "Le Monde", que, como toda a imprensa francesa, não poupou elogios a um "romance notável sob todos os pontos de vista".

Refúgio
Em Hollywood, atores e realizadores descobriram na psicanálise um refúgio contra a loucura e a depressão que rondavam os estúdios. John Huston, que dirigiu "Freud Além da Alma", baseado num roteiro de Jean-Paul Sartre, costumava lembrar que a psicanálise e o cinema nasceram no mesmo ano. "Marilyn, Dernières Séances" é um romance. Mas os personagens são verdadeiros, e a maior parte dos fatos aconteceu. Freqüentemente, o leitor se surpreende lendo o livro como uma biografia de Marilyn, que Schneider descreve como uma "drogada de freudismo". O autor exercita seu talento de romancista ao criar diálogos de sessões de análise e tecer os fios emocionais que ligavam o analista a sua analisanda, por quem Greenson era fascinado. Em certo momento, após a morte da atriz, ele diz: "Ela tinha virado minha filha, minha dor, minha irmã, minha loucura". Abalado pela morte da paciente, "crucificado pela imprensa", Greenson procura um colega para retomar sua análise. "A primeira sessão durou 12 horas", escreve o romancista. O livro é um notável romance-ensaio-biografia que tenta reconstituir o que se passou nos meses em que Greenson e Marilyn "foram envolvidos na loucura passional de uma psicanálise que extrapolou seus próprios limites". Schneider escreve: "Se os diálogos e cartas são muitas vezes inventados pelo autor, na maioria das vezes eles são retranscritos fielmente dos artigos ou dos livros citados na bibliografia". Dos três psicanalistas de Marilyn por quase dez anos, Marianne Kris foi a mais intervencionista, chegando a interná-la numa clínica psiquiátrica, o que não impediu a atriz de incluí-la em seu testamento. Kris era próxima de Anna Freud e também foi analista de Jackie Kennedy, cujo marido foi amante de Marilyn. Aliás, o próprio Greenson (o personagem ou o analista?) traça um gráfico das relações entre os principais personagens da história, mostrando como eram próximos, mesmo quando nunca se encontraram, como Marilyn e Jacqueline Kennedy. A fundação criada por Anna Freud para tratar de distúrbios psíquicos de crianças foi a maior beneficiária do testamento da atriz. Apesar de ter sido por pressão de Anna que Huston desistiu de Marilyn para o papel da primeira histérica tratada por Freud, toda vez que Marilyn aparece no cinema ou na TV é a fundação que recebe os direitos de exibição.


MARILYN, DERNIÈRES SÉANCES
Autor:
Michel Schneider
Editora: Editions Grasset
Quanto: 29,90 (R$ 57, 532 pág.)


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