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Romance biográfico põe Marilyn no divã
Misto de ficção, ensaio e biografia, "Marilyn, Dernières Séances" retrata a relação pouco (ou muito) freudiana entre a atriz e seu analista
Livro lançado na França pelo psicanalista Michel Schneider cria diálogos de sessões de análise e mostra "loucura passional" em relação
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Como a maioria das celebridades de Hollywood, Marilyn
Monroe (1926-62) tinha seu
analista. Insegura, lutando
contra uma insônia tão monumental quanto sua dificuldade
de viver, a atriz era fascinada
pela teoria freudiana da cura
pela palavra.
Sem contar Anna Freud, filha
do pai-fundador, cujo divã freqüentou em Londres, quando
filmava "O Príncipe e a Corista"
(1957), Marilyn teve três analistas. Mas, com toda a angústia
que a habitava, a loura platinada podia ser também muito engraçada. Elia Kazan, de quem
foi amante, definiu-a como
uma das pessoas mais divertidas que conheceu.
A psicanálise não a ajudou a
se livrar das anfetaminas, como
mostra o livro "Marilyn, Dernières Séances" (últimas sessões), do psicanalista francês
Michel Schneider. O romance
-entre os mais vendidos na
França desde que foi lançado,
em setembro, e com lançamento previsto para o segundo semestre de 2007 no Brasil pelo
selo Alfaguara, da Objetiva-
reconstitui brilhantemente a
relação complexa entre Marilyn e seu último analista, o
psiquiatra Ralph Greenson.
Com ele, a atriz teve durante
30 meses uma relação intensa e
pouco ortodoxa. Greenson
-que desempenhava o papel
de analista, conselheiro e guru
da atriz- foi a última pessoa a
vê-la com vida e a primeira a
vê-la morta. Mas o Greenson
do romance, como o inspetor
que investiga o caso, lança dúvidas sobre a tese do suicídio.
"Eles não tinham um caso de
amor, mas viveram uma história passional de domínio e dependência recíprocas, a mil léguas de distância da ortodoxia
freudiana", disse Michel
Schneider ao jornal "Le Monde", que, como toda a imprensa
francesa, não poupou elogios a
um "romance notável sob todos os pontos de vista".
Refúgio
Em Hollywood, atores e realizadores descobriram na psicanálise um refúgio contra a
loucura e a depressão que rondavam os estúdios. John Huston, que dirigiu "Freud Além da
Alma", baseado num roteiro de
Jean-Paul Sartre, costumava
lembrar que a psicanálise e o cinema nasceram no mesmo ano.
"Marilyn, Dernières Séances" é um romance. Mas os personagens são verdadeiros, e a
maior parte dos fatos aconteceu. Freqüentemente, o leitor
se surpreende lendo o livro como uma biografia de Marilyn,
que Schneider descreve como
uma "drogada de freudismo".
O autor exercita seu talento
de romancista ao criar diálogos
de sessões de análise e tecer os
fios emocionais que ligavam o
analista a sua analisanda, por
quem Greenson era fascinado.
Em certo momento, após a
morte da atriz, ele diz: "Ela tinha virado minha filha, minha
dor, minha irmã, minha loucura". Abalado pela morte da paciente, "crucificado pela imprensa", Greenson procura um
colega para retomar sua análise. "A primeira sessão durou 12
horas", escreve o romancista.
O livro é um notável romance-ensaio-biografia que tenta
reconstituir o que se passou
nos meses em que Greenson e
Marilyn "foram envolvidos na
loucura passional de uma psicanálise que extrapolou seus
próprios limites". Schneider
escreve: "Se os diálogos e cartas
são muitas vezes inventados
pelo autor, na maioria das vezes
eles são retranscritos fielmente
dos artigos ou dos livros citados
na bibliografia".
Dos três psicanalistas de Marilyn por quase dez anos, Marianne Kris foi a mais intervencionista, chegando a interná-la
numa clínica psiquiátrica, o
que não impediu a atriz de incluí-la em seu testamento. Kris
era próxima de Anna Freud e
também foi analista de Jackie
Kennedy, cujo marido foi
amante de Marilyn. Aliás, o
próprio Greenson (o personagem ou o analista?) traça um
gráfico das relações entre os
principais personagens da história, mostrando como eram
próximos, mesmo quando nunca se encontraram, como Marilyn e Jacqueline Kennedy.
A fundação criada por Anna
Freud para tratar de distúrbios
psíquicos de crianças foi a
maior beneficiária do testamento da atriz. Apesar de ter sido por pressão de Anna que
Huston desistiu de Marilyn para o papel da primeira histérica
tratada por Freud, toda vez que
Marilyn aparece no cinema ou
na TV é a fundação que recebe
os direitos de exibição.
MARILYN, DERNIÈRES SÉANCES
Autor: Michel Schneider
Editora: Editions Grasset
Quanto: 29,90 (R$ 57, 532 pág.)
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