São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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Música

Crítica/show

R.E.M. celebra "fim do mundo" em SP

Pela primeira vez na cidade, grupo apresenta show emocionante embalado por euforia política e revisão de sua história

Sidinei Lopes/Folha Imagem
O vocalista do R.E.M., Michael Stipe, durante apresentação anteontem, no Via Funchal

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Lá pelo final do show, Michael Stipe começa a se despedir: "Pela primeira vez, estou animado por ter que voltar para casa". Fora de contexto, seria a mais antipática das declarações, mas, anteontem, no Via Funchal, tudo que o cantor do R.E.M. dizia adquiria novos significados.
Foi um daqueles típicos shows apoteóticos: banda e público emocionados, hipnotizados, entoando hinos, entre muitas luzes, calor infernal etc., ou seja, tudo aquilo que é insuportável e a um passo do brega quando não se entra no clima.
Mas, em sua primeira apresentação em São Paulo, o grupo conseguiu manter a equação equilibrada. Se, em Porto Alegre, a euforia pela eleição de Barack Obama dava o tom, anteontem Stipe tentou ser mais contido, deixando a música falar por si própria.
O show começa punk, urgente, como se liberasse em som altíssimo a raiva reprimida durante anos de governo Bush. A primeira música, a nova "Living Well Is the Best Revenge" (viver bem é a melhor vingança), já dá a dica. Stipe, sabemos, é da turma dos militantes, mas sem cair na caricatura de Bono.
Excelente showman, o cantor passa a maior parte do tempo sorrindo, em estado de graça. "A história mudou para melhor há alguns dias", diz. "Durante os anos, temos feito músicas que refletem a política." O público urra, aplaude, como se o R.E.M., e não Obama, fosse o real vencedor.
Além de sorrir, Stipe faz graça. Coloca óculos escuros e ensaia a dancinha do robô durante a roqueira "What's the Frequency, Kenneth?". Mais tarde, vai de flamenco, como se tocasse castanholas; depois, fica de costas para o público rebolando loucamente. E, milagre, continua um dos astros mais cool do rock, vestindo um blazer escuro que só tira lá pelo fim, indiferente ao calor.

Repertório
Nas músicas, o R.E.M. foi democrático e usou bem as melhores faixas do disco novo, "Accelerate", e fez um show mais roqueiro, entre algumas baladas. Eles sabem bem que o público não se interessa por novidades e quer mais é ver os clássicos, dos anos 80 e 90.
"Fall on Me", "Everybody Hurts" e "The One I Love" são momentos de emoção/catarse; "Drive" e "Orange Crush" relembram o momento em que a banda estava entre o mundo indie e o mainstream.
Em "Losing My Religion", seu maior sucesso, a casa vem abaixo, mas Stipe parece não ter muita fé ao cantar que está perdendo sua fé. Em "It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)", ele canta a plenos pulmões "I feel fine" (eu me sinto bem). Neste momento, Stipe parece dar uma piscadela para o público, anunciando o fim de uma era. Nem precisou fazer discursos, para felicidade de todos.

Avaliação: ótimo


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