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Música
Crítica/Creedence Clearwater Revival
Fábrica de hits do pântano chega aos 40
Seis álbuns originais do famoso grupo de rock caipira Creedence Clearwater Revival são lançados com extras e encartes
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
Existem duas curiosidades sobre o Creedence
Clearwater Revival que
ajudam a definir a banda.
A primeira diz respeito ao
som propriamente dito. Ele
evoca, tanto as letras quanto as
músicas, um som rural, interiorano, de uma América profunda. "Born on the Bayou",
"Green River", "Lodi", "Who'll
Stop the Rain", "Cotton Fields"
são clássicos que falam com um
otimismo irreal das belezas e
vantagens da vida no campo,
em detrimento do buzinaço e
da maldade das cidades.
Isso é óbvio para quem escuta o Creedence já na primeira
vez. A curiosidade vem agora:
os guitarristas John e Tom Fogerty, o baixista Stu Cook e o
baterista Doug Clifford não são
do sul dos Estados Unidos, não
nasceram nos pântanos da
Louisiana, não foram criados à
margem de rios nem cresceram
correndo por líricos campos de
algodão.
Os quatro são de San Francisco e John Fogerty, o compositor de tantos clássicos, inspirou-se no que via no cinema e
na TV ou ouvia nos rádios para
montar essa persona caipira
com quem viria a se confundir.
Essa é uma das histórias contadas pelo jornalista Ben Fong-Torres, famoso por seu trabalho na revista "Rolling Stone"
nos anos 60 e 70, no encarte do
primeiro disco da banda.
O relançamento dos seis discos originais, agora com músicas extras, fotos e novos textos,
marca o aniversário de 40 anos
do Creedence, cujo primeiro
disco saiu em julho de 1968
(confira quadros à esq. e à dir.).
A segunda curiosidade referente ao CCR tem a ver com sua
quase inacreditável velocidade
em fabricar hits. Está certo que
era uma época em que Beatles,
Rolling Stones e Kinks lançavam um clássico atrás do outro,
mas o Creedence exagerou.
Em 1969 e 1970, lançou cinco
álbuns, todos eles figurando no
top ten. A esses cinco, soma-se
a estréia em 1968 e um disco
temporão em 1972, "Mardi
Gras", que apesar de ostentar o
nome da banda na capa, já não
era mais o CCR original.
Tom Fogerty tinha abandonado o barco e seu irmão John,
a principal força criativa do
grupo, estava livre para exercer
sua ditadura. Assim, obrigou o
baixista e o baterista a comporem canções nas quais se recusava a colaborar de qualquer
maneira além de fazer uma guitarrinha base. Uma única canção restou dessa fase esquecível: "Sweet Hitch-Hiker", de
John Fogerty.
Já os extras sonoros dos seis
álbuns trazem takes descartados, canções ao vivo -principalmente gravadas na Europa,
para onde a banda excursionou
em 1971, já sem Tom- e uma
única música inédita em CD:
"Call it Pretending", lado B do
primeiro single do Creedence,
ainda sob o nome The Golliwogs. O lado A, "Porterville",
saiu no primeiro disco do CCR.
Número dois
Uma última curiosidade, esta
apenas curiosa: apesar de emplacar tantos hits e lançar tantos álbuns campeões de vendagem, o CCR jamais colocou
uma canção em primeiro lugar
nos Estados Unidos.
Meteu, isso sim, cinco em segundo lugar: "Proud Mary",
"Bad Moon Rising", "Green River", "Travellin" Band" e "Lookin" Out My Back Door".
Outros top ten foram "Down
on the Corner" (3º lugar), "Up
Around the Bend" (4º), "Have
You Ever Seen the Rain" (8º) e
"Sweet Hitch-Hiker" (6º).
"Proud Mary", hoje provavelmente a canção mais conhecida do Creedence, conseguiu
manter a segunda posição por
três semanas, mas não chegou
lá no topo. Bob Dylan, por outro lado, declarou ser esta sua
canção preferida de 1969. O que
já é mais que suficiente.
DISCOS DO CREEDENCE
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 44,90, cada
Avaliação: ótimo
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