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Política e intimismo dão o tom no Mix Brasil 2008
Festival da diversidade sexual começa hoje em SP e exibe mais de 200 filmes
Será exibida paródia de "O Segredo de Brokeback Mountain", além de um documentário sobre vida do cineasta Derek Jarman
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Com mais de 200 títulos, entre longas e curtas, e atrações
paralelas como o Mix Music, a
16ª edição do Mix Brasil, abre
hoje para convidados a festa da
diversidade sexual que fica em
cartaz em São Paulo até o dia 23
e depois segue para Belo Horizonte, onde acontece de 8 a 14
de dezembro.
O cardápio do festival dirige-se ao público que quer se enxergar retratado na tela. O fato de
ser uma mostra sobre a diversidade sexual não quer dizer, porém, que todos os títulos programados sejam movidos por
imagens de sexo, apesar de parte da programação abrigar produções picantes. Neste quesito,
a maior atração é a releitura
pornô de "O Segredo de Brokeback Mountain" protagonizada
pela transexual Buck Angel,
uma ex-modelo de ar angelical
dos anos 80 hoje com aparência
de garanhão musculoso, tatuado e com cara de mau.
Mas é na amplitude do conceito de sexualidade que o Mix
Brasil mantém sua singularidade no calendário cultural. O
que abarca a política, por exemplo, representada neste ano na
produtiva filmografia israelense, que estará abrigada no 6º Ciclo Multicultural promovido
pelo Centro de Cultura Judaica
entre os dias 19 e 23. Em títulos
como "Em Busca do Prepúcio
Perdido", "Caminhando sobre
a Água" e "Fucking Different
Tel Aviv", questões como a
identidade religiosa se misturam ao projeto de construções
de gênero que permeiam as ficções e documentários gays.
Nem só de temática homossexual sobrevivem os filmes,
sobretudo os de ficção. A busca
de uma expressividade, por
exemplo, pode ser vista em dois
dramas selecionados. "Solos",
produção de Cingapura, é feita
por dois jovens diretores que se
arriscam no terreno da dramaturgia sem palavras e bebem na
fonte asiática de diretores como Tsai Ming-liang, com sua
contemplação do vazio.
Formalmente mais inquieta
é também a experiência do espanhol Sergio Candel em "Dos
Miradas", filme de realização
aberta, feito como uma aventura do diretor com duas atrizes e
equipe minúscula. No cenário
desértico do Atacama, uma crise emocional reflete os contornos dos espaços únicos, de que
o cineasta estreante consegue
se apropriar sem cair na armadilha do cartão-postal.
Zumbis gays
Provocação é o mínimo que
se espera de Bruce LaBruce, diretor de ultrajes como "No Skin
off My Ass", que mantém a coerência de seu percurso "queer"
e visita o gênero filme de zumbi
em "Otto; ou Viva a Gente Morta". Refúgio recorrente da parábola política, os zumbis de LaBruce servem de metáfora
morta-viva à homossexualidade e aos medos residuais que
cercam sua receptividade.
Da memória do antes e depois da Aids alimentam-se três
documentários. Não enfocam a
epidemia, mas sim artistas cujas trajetórias foram interrompidas pela morte precoce.
O mais aguardado é "Derek",
que parte de uma carta da atriz
Tilda Swinton para revisitar a
obra do cultuado cineasta britânico Derek Jarman. "O Universo de Keith Haring" reconstrói com detalhes o percurso do
artista que rompeu o muro que
isolava o esnobismo das galerias da democracia urbana.
Menos conhecido é Arthur
Russell, músico de vanguarda
cuja trajetória, retratada em
"Combinação Selvagem", coincide com a da atitude libertária
que cruzou os EUA desde fins
dos anos 60 ao advento da era
Reagan, na década de 80, que
marcou o retorno do neoconservadorismo ainda vigente.
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