São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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Schama pede atenção a imagens da dor

Historiador comparou John McCain a animal "dotado de uma fúria adolescente" e Obama, a toureiro

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Usando sapatos amarelos e uma gravatinha verde, que destoavam do sisudo terno cinza, o historiador e performer Simon Schama, 63, discorreu anteontem sobre "Arte e Calamidade", em palestra do Fronteiras do Pensamento, na capital gaúcha.
Os momentos que marcaram a noite e a tarde de entrevistas, porém, foram aqueles em que o britânico falou do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, e do que considera ser o fim de uma era de conservadorismo, iniciada com Ronald Reagan.
"Sabia que a maré iria mudar, só não imaginava que fosse tão rápido", disse. O estudioso, especialista em artes plásticas, comparou a postura do democrata ao que se pode ver em telas do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828) que retratam os reis Carlos 4º e Fernando 7º a cavalo. Nelas, os soberanos aparecem altivos, montando animais que mantêm uma das patas para o alto, enquanto eles seguram as rédeas só com uma mão, como demonstração de poder.
"A diferença é que o cavalo de Obama é a TV. Nunca a imagem e a palavra dita em voz alta ditaram tanto o resultado de uma eleição como agora." Ainda fazendo a ponte com representações visuais, Schama afirmou: "McCain era um animal dotado de uma fúria adolescente. Obama, o toureiro."
Schama chamou a atenção para a ironia dos eventos recentes. "Apesar de ter provocado o horror de guerras, Bush acabará entrando para a história como o último governante socialista. Ele devia ser enterrado ao lado de Lênin", brinca.
Com o mesmo estilo informal que exibe em seus programas sobre história da arte na TV, o historiador também relacionou o modo como obras de arte e registros fotográficos de ontem e hoje refletem a dor e o sofrimento humanos.
Da análise de pinturas como "O Triufo da Morte", de Pieter Bruegel, e da "Guernica", de Picasso, às fotos do 11 de Setembro ou das torturas de Abu Ghraib, ele falou sobre como imagens podem criar empatia entre tragédias e o homem.
"Pensar a história sem elas é empobrecedor, uma vez que boa parte da humanidade que a vivenciou era analfabeta. Hoje convivemos com a morte lenta do planeta por meio das transformações ecológicas e com a morte rápida causada por bombardeios. Como reagiremos é o que determinará nosso legado histórico."


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