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Schama pede atenção a imagens da dor
Historiador comparou John McCain a animal "dotado de uma fúria adolescente" e Obama, a toureiro
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Usando sapatos amarelos e
uma gravatinha verde, que destoavam do sisudo terno cinza, o
historiador e performer Simon
Schama, 63, discorreu anteontem sobre "Arte e Calamidade",
em palestra do Fronteiras do
Pensamento, na capital gaúcha.
Os momentos que marcaram
a noite e a tarde de entrevistas,
porém, foram aqueles em que o
britânico falou do presidente
eleito dos EUA, Barack Obama,
e do que considera ser o fim de
uma era de conservadorismo,
iniciada com Ronald Reagan.
"Sabia que a maré iria mudar,
só não imaginava que fosse tão
rápido", disse. O estudioso, especialista em artes plásticas,
comparou a postura do democrata ao que se pode ver em telas do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828) que retratam os reis Carlos 4º e Fernando 7º a cavalo. Nelas, os soberanos aparecem altivos,
montando animais que mantêm uma das patas para o alto,
enquanto eles seguram as rédeas só com uma mão, como
demonstração de poder.
"A diferença é que o cavalo de
Obama é a TV. Nunca a imagem
e a palavra dita em voz alta ditaram tanto o resultado de uma
eleição como agora." Ainda fazendo a ponte com representações visuais, Schama afirmou:
"McCain era um animal dotado
de uma fúria adolescente. Obama, o toureiro."
Schama chamou a atenção
para a ironia dos eventos recentes. "Apesar de ter provocado o
horror de guerras, Bush acabará entrando para a história como o último governante socialista. Ele devia ser enterrado ao
lado de Lênin", brinca.
Com o mesmo estilo informal que exibe em seus programas sobre história da arte na
TV, o historiador também relacionou o modo como obras de
arte e registros fotográficos de
ontem e hoje refletem a dor e o
sofrimento humanos.
Da análise de pinturas como
"O Triufo da Morte", de Pieter
Bruegel, e da "Guernica", de Picasso, às fotos do 11 de Setembro ou das torturas de Abu
Ghraib, ele falou sobre como
imagens podem criar empatia
entre tragédias e o homem.
"Pensar a história sem elas é
empobrecedor, uma vez que
boa parte da humanidade que a
vivenciou era analfabeta. Hoje
convivemos com a morte lenta
do planeta por meio das transformações ecológicas e com a
morte rápida causada por bombardeios. Como reagiremos é o
que determinará nosso legado
histórico."
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