São Paulo, quinta-feira, 12 de novembro de 2009

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O alquimista

Artistas se reúnem para tributo a Suba, produtor nascido na ex-Iugoslávia que trabalhou com brasileiros e morreu há dez anos

Rui Mendes
Suba em foto feita por Rui Mendes no final dos anos 90, já no Brasil

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Suba estava com as malas prontas. Aos 38 anos, o iugoslavo (nascido em Novi Sad, hoje Sérvia) era um produtor musical em íngreme ascensão. Radicado no Brasil desde os 29, acabara de lançar por um selo belga o primeiro álbum autoral, "São Paulo Confessions".
A crítica internacional elogiava o disco e o anunciava como um dos preferidos de Madonna naquela temporada. Partiria para um mês de entrevistas na Europa.
Aqui, o prestígio do produtor se sedimentava em trabalhos com Marina Lima, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Mestre Ambrósio. Acabava de produzir o primeiro álbum "internacional" de Bebel Gilberto, que seria lançado a seguir. E, quando voltasse da Europa, faria os novos de Daniela Mercury e Skank, entre outros.
Dois dias antes da viagem, Suba dormia no apartamento em que morava, em Pinheiros, quando um curto-circuito na fiação da TV iniciou o incêndio. Morreu horas depois, no Hospital das Clínicas. Era terça-feira, 2 de novembro de 1999.
Agora, dez anos depois da tragédia, amigos do produtor se reúnem para o que chamam de "celebração". Marcaram para 1º de dezembro, no Sesc Pompeia, um show reunindo boa parte dos artistas que trabalharam com Suba. A "convocação" foi feita por Marisa Orth.
"Queríamos trazer Bebel Gilberto de Nova York, Cibelle de Londres, Marina do Rio, Daniela da Bahia. Estamos tentando", diz a atriz. "Se não conseguirmos viabilizar isso, vamos nos concentrar no núcleo que trabalhou com Suba em São Paulo", conclui.
Estão confirmadas as adesões de Scandurra, Taciana Barros, João Parahyba (do Trio Mocotó), Siba (do Mestre Ambrósio), Kátia B e Renata Melo, diretora que trabalhou com Suba em trilhas de teatro.
"O Dinho [Ouro Preto] também estava fechado, tinha que ter se estabacado no palco?", diz a atriz, sobre o vocalista do Capital Inicial, que teve seu único álbum solo produzido por Suba e se acidentou recentemente em um show. "Tomara que ele já esteja bem até lá e possa vir com a gente."
A direção musical fica nas mãos do produtor Paulo Lepetit, com quem Suba teve um estúdio em São Paulo.

Bossa eletrônica
Segundo Lepetit, Suba já chegou ao Brasil com todas as ideias que realizaria aqui fermentando na cabeça.
"Quando ele me mostrou o primeiro sample de bossa nova com batida eletrônica por cima, não entendi muito", diz o produtor. "Ele sabia que estava introduzindo uma coisa diferente, uma possibilidade de mistura que, não fosse ele, demoraria ainda muito a chegar aqui."
A mistura inventou Bebel Gilberto para o mundo em 2000 -e Suba nem estava mais vivo para ver o alvoroço que aquele último trabalho causaria. A mesma mistura que, na sequência, formaria uma geração de "cantoras de bossa eletrônica" querendo pegar carona na estética criada por ele.
"Suba falava delas [das cantoras] com a maior naturalidade", conta Taciana, viúva do produtor. "Dizia que era bom que surgisse muita gente. Que quanto mais novidade, melhor. Só os bons se destacariam."
Foi num álbum de Taciana, vale destacar, que essas experimentações primeiro ganharam a forma que se tornaria definitiva. "Janela dos Sonhos" é de 1995 -cinco anos antes de "Tanto Tempo", de Bebel.
A chegada de Suba ao Brasil parece anedota, mas era repetida por ele para todos os amigos.
Depois de produzir boa parte da geração roqueira da ex-Iugoslávia nos anos 80, foi trabalhar em Paris. Lá, ganhou um prêmio da Unesco e podia escolher qualquer país do mundo para passar uma temporada.
Estava em dúvida. Na agência de viagens, pegou um globo nas mãos e girou. Parou o movimento com o dedo indicador e, ao acaso, escolheu o país que seria seu destino. O Brasil.
A década que passaria aqui -sua última- seria a mais importante de sua vida.


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