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Governo adia consulta sobre direito autoral
Posição do MinC é ataca por entidades de artistas
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Queremos consulta pública
para já. Ouvimos muita coisa,
mas ninguém entendeu nada",
dizia, ao fim do 3º Congresso de
Direito de Autor e Interesse
Público, Fernando Anitelli, do
movimento Música para Baixar
(MPB), que prega o fim do direito autoral tal qual é hoje.
"O governo age de forma quase secreta. É incompreensível a
ausência do texto integral no
debate", criticava Juca Novaes,
da Associação Brasileira de
Música e Artes (Abramus), defensora do modelo atual.
Anunciado como ponto de
partida para a reforma do direito autoral no Brasil, o encontro
encerrado anteontem, na Fecomercio, em São Paulo, terminou com um grande ponto de
interrogação. Destinado a incluir o país na nova cena tecnológica, que origina novas leis no
mundo todo, o anteprojeto do
Ministério da Cultura (MinC)
é, ainda, um enigma.
"Não queríamos que a proposta fosse vista como algo acabado. O anteprojeto irá a consulta pública no momento certo", diz José Luiz Herência, secretário de políticas culturais.
Se os detalhes são uma incógnita, o mesmo não se pode dizer
do papel do Estado."A necessidade de presença do Estado nas
questões do direito autoral ficou clara", afirma Herência.
Isso significa que deve ser levada adiante a criação do Instituto Brasileiro de Direito Autoral, espécie de agência reguladora que teria o poder de fiscalizar, por exemplo, o Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que distribuiu, em 2008, R$ 270 milhões
em direitos autorais.
Nesse ponto, Abramus e
MPB ficam em lados opostos.
"O Ecad não reconhece o direito de o autor escolher como sua
música será tratada", diz Anitelli, do MPB. "Somos a favor do
pagamento de direitos, mas
não é possível, na era da internet, que a gente não possa liberar alguns usos da obra."
Novaes, por outro lado, vê aí
um "discurso fácil, libertário" e
garante ser mentira que apenas
os artistas das grandes gravadoras recebam do Ecad. Anitelli refuta: "Só as 600 músicas
mais tocadas recebem. Ou seja,
recebe quem paga jabá".
Tão polêmica quanto a questão do Ecad promete ser a discussão sobre downloads caseiros. "A miopia em torno das novas tecnologias levou à crise das
gravadoras. A tentativa de controlar a internet é frágil e anacrônica", diz Herência, antecipando o tom do anteprojeto
guardado a sete chaves.
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