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ARTES PLÁSTICAS
Galeria Brito Cimino apresenta maior conjunto da última série realizada pelo artista entre 1986 e 1998
"Sobras" de Geraldo de Barros pulsam em SP
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Como transformar uma imagem quadrada em uma forma retangular? Durante toda sua vida, o
artista Geraldo de Barros (1923
-1998) fotografou com uma câmara Rolleyflex, no típico formato 6x6. Em sua última série, iniciada em 1986 e denominada "Sobras", Barros utilizou-se de seu
arquivo de fotografias, recortando-as, criando sobreposições e
novos fundos que, no final, se
transformaram em fotografias
com formato retangular.
É a partir desse procedimento,
que o curador Rubens Fernandes
Junior deu nome à retrospectiva
de Barros, "A(s)simetrias", que é
aberta hoje à noite na galeria Brito
Cimino, em São Paulo.
"Ele estava sempre nessa tensão
do assimétrico dentro do formato
simétrico e, por isso, "Sobras" pode ser vista como a síntese de sua
carreira", conta o curador.
Recentemente, o trabalho de
Barros conquistou importante
respaldo internacional, já que
duas imagens de sua série "Fotoformas" foram adquiridas pelo
Museu de Arte Moderna de Nova
York, o MoMA.
Para Fernandes Junior, a exposição em São Paulo tem como
"grande homenageada" a última
série do artista -das 380 "Sobras" que realizou, 93 estão expostas na galeria -, mas como
forma de contextualizar sua produção, o curador apresenta uma
seleção de obras que tem início
com seus primeiros trabalhos figurativos, no final dos anos 40.
Com isso, no mezanino da galeria estão os primeiros trabalhos,
divididos em duas seções: "Auto-Retratos" e "Outros Retratos",
que incluem desde telas figurativas, do início de sua formação como pintor, a retratos que o artista
realizou ao longo de sua carreira,
muitos deles experimentais e com
caráter performático.
Nessas imagens podem ser observadas várias influências e marcas de seu trabalho, como o surrealismo de Man Ray, em "Auto-Retrato com Luz", uma das imagens adquiridas pelo MoMA, e a
arte concreta, movimento no qual
foi uma das figuras chaves no
país, com a série realizada a partir
de poemas de Augusto de Campos dedicados aos pintores concretos. Ainda no mezanino é exibido o filme "Geraldo de Barros
-Sombras em Obras", de 1998, dirigido por Michel Favre.
Modernidade
É no térreo da galeria, entretanto, que a obra de Barros pode ser
melhor apreciada, já que aí estão
trabalhos de suas séries "Fotoformas" e "Sobras", ao lado de trabalhos construtivos dos anos 50.
"A maioria desses trabalhos são
imagens que ninguém conhece, e
por isso apresentamos junto com
obras realizadas ao longo de sua
carreira, para mostrar que, por
trás dessa última série, há algo autoral, afinal, em toda sua carreira,
há um mesmo pulsar", afirma o
curador.
Nesse piso, as obras estão dispostas em três níveis. No mais alto, os trabalhos construtivos realizados em madeira e fórmica; no
segundo plano as "Fotoformas",
dos anos 40 e 50, e, no nível dos visitantes, as "Sobras".
Para o curador, as "Fotoformas" representam "o primeiro
momento de rompimento com a
convenção fotográfica no Brasil,
já que o artista riscava os negativos para criar neles novas imagens". A partir da foto de um sapato, por exemplo, ele criava o
rosto de uma garota. "Ele dessacralizou o negativo, que era intocável, trazendo uma modernidade tardia ao país", diz ainda.
Sofrendo de isquemia, Barros
não conseguia mais manipular a
câmara fotográfica, o que o levou
à última fase em seu trabalho, a
partir de 1986.
"Para realizar as "Sobras", ele fez
um rapa de tudo que estava disponível, é o resumo de uma vida",
diz sua filha e artista Lenora de
Barros.
Nas "Sobras", Barros realiza um
processo de colagem com negativos, positivos, ou seja, fotos já ampliadas, recortando tais suportes,
muitas vezes criando fundos escuros, novos planos na imagem
fotográfica. "Minha impressão
sobre essa série é de um trabalho
muito melancólico, especialmente com as ausências que ele cria
através dos escuros", conta Fernandes Junior.
Também no térreo, há o que o
curador denomina "Sala de Processo", onde é apresentada, em
uma vitrine, a maneira como o artista criava as "Sobras". No encerramento da mostra, em fevereiro
do próximo ano, será lançando
um livro sobre o artista, com texto
do curador e editado pela Cosacnaify.
Primeira grande mostra após
sua morte, "A(s)simetrias" coloca
Barros como um artista surgido
no modernismo, mas extremamente integrado aos processos de
criação contemporâneos. "Ele
produz uma fotografia que parece
querer mostrar aquilo que não está nas coisas visíveis do cotidiano
mas, que, ao mesmo tempo, mostra-se obcecada com a luz, que em
vez de clarear, ofusca, esconde,
impossibilita a visão imediata.
Uma reinvenção permanente que
se materializa nas características
próprias da fotografia", afirma
Fernandes Junior.
Geraldo de Barros - A(s)simetrias
Quando: abertura hoje, às 19h; de ter. a
sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 17h;
até 4/2
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de
Carvalho, 842, SP, tel. 0/xx/11/3842-0634)
Quanto: entrada franca; obras de R$ 3.000 a R$ 30 mil
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