Fundado no século 15, grupo mantém tradição de música litúrgica e tem somente vozes masculinas

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dezembro é mês de concertos natalinos e, para não fugir à regra, o Cultura Artística recebe hoje membros de uma das mais antigas e gloriosas tradições corais do planeta: o King's College Choir, da Inglaterra.
"Nós conseguimos manter, inquebrantada, essa tradição de, há séculos, cantar música litúrgica ininterruptamente", afirma o maestro Stephen Cleobury, 59, que chefia o coro criado no século 15 pelo rei Henrique 6º (1421-1471).
"Um exemplo da força dessa tradição: a voz de contratenor, que, internacionalmente, teve um considerável renascimento na última geração, entre nós nunca deixou de estar em voga", explica o regente.
O contratenor é o cantor de sexo masculino que canta nos registros vocais tradicionalmente femininos de mezzo-soprano ou contralto. O King's College Choir tem quatro contratenores entre as 14 vozes adultas que traz ao Brasil -os outros são tenores e baixos. As linhas de soprano são cantadas pelos 16 meninos cantores, com idades entre 9 e 13 anos.
Tanto os cantores quanto os organistas são selecionados por Cleobury em audições anuais entre os 320 alunos do King's College, em Cambridge. O grupo tem reputação internacional de alto nível artístico e grava para a EMI. Com o acompanhamento de dois organistas, a apresentação traz programa bastante variado, incluindo peças de autores renascentistas e barrocos, como o italiano Claudio Monteverdi (1567-1643), o alemão Bach (1685-1750) e o inglês Orlando Gibbons (1583-1625), ex-membro do coro. Haverá espaço, é claro, para canções de Natal, em arranjos de compositores do século 20, como Arvo Pärt e Vaughan Williams.
"Estamos conscientes das diferenças de estilo que implica interpretar peças de períodos tão distintos", diz o maestro. "Nas obras mais antigas, obviamente levamos vantagem, porque esse repertório era cantado por uma formação muito semelhante à nossa. O timbre dos contratenores se mescla melhor do que o das contraltos mulheres com o timbre dos meninos cantores", explica.
Nas peças dos séculos 19 e 20, contudo, a vantagem é revertida, porque elas foram escritas para coro misto, e, aqui, as partes femininas serão interpretadas por cantores do sexo masculino. "Posso fazer pequenas adaptações nas peças para que a tessitura fique mais cômoda para os cantores", diz Cleobury.