São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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O coletivo Instituto participa da abertura do 4º Fórum Social Mundial, em Bombaim, na Índia

FÓRUM SOCIAL MUSICAL

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No fim da tarde de ontem, começou o vôo mais ousado do coletivo Instituto em seus dois anos de existência. Formado pelos produtores Daniel Ganjaman, Rica Amabis e Tejo Damasceno, o grupo partiu do Aeroporto de Guarulhos rumo a Bombaim, na Índia, onde será o representante brasileiro na cerimônia de abertura da quarta edição do Fórum Social Mundial.
A apresentação acontecerá na próxima sexta-feira, e a estimativa é que o grupo, única atração sul-americana da abertura, tocará diante de um público de 30 mil.
O grupo se apresenta numa programação que ainda inclui, além de discursos feitos pelas autoridades presentes na abertura, apresentações da banda paquistanesa Junoon, que faz rock influenciado pela cultura sufi, e o coletivo de dança sul-africano Siwela Sonke, capitaneado pelo coreógrafo Jay Pather.
As apresentações acontecerão no recém-inaugurado Goregaon Exhibition Grounds. A cidade de Bombaim, centro financeiro da Índia, foi escolhida para sediar o fórum, que até o ano passado se realizava em Porto Alegre, por ser palco de grandes protestos sociais no país.
Para se ter uma idéia da importância da participação do grupo no evento, basta assinalar que o único outro artista brasileiro que se apresentará no Fórum Social indiano, só que na festa de encerramento (dia 21), é ninguém menos que o ministro da Cultura Gilberto Gil.

Às cegas
"Estamos indo meio que às cegas, sem muita expectativa", conta o tecladista Ganjaman, que enfatiza a brasilidade no som da apresentação ensaiada para o evento na Índia.
"No Brasil, a gente é muito associado ao hip hop, mesmo tendo trabalhado com gente como a Nação Zumbi, o Flu e o Cidadão Instigado. Não que isso seja ruim, mas queremos mostrar uma outra cara da banda. Por isso, o novo show deve ter uma sonoridade mais raiz, mais instrumental e mais brasileira".
"Vai ser um show mais eletrônico", completa Rica, que alinha-se no palco pela primeira vez aos músicos do grupo para disparar samples e bases, saindo da discreta mesa de som que se habituou a pilotar nas apresentações do coletivo. Por ser um grupo de produtores, o Instituto não conta com uma formação definida, sempre convidando nomes -novos ou veteranos- da música pop brasileira para enriquecer sua atmosfera sonora.
Foi assim que eles revelaram para o país nomes como o rapper Sabotage (morto em 2003), o grupo Záfrica Brasil e o coletivo carioca Quinto Andar (cujos MCs De Leve, Kamal e Marechal já fizeram parte da formação do grupo).
Ao subir no palco, Rica aproveita para levar músicas de seu disco solo, "Sambadelic", lançado em 2000, antes da formação do coletivo e considerado uma espécie de embrião do Instituto.
Entre as releituras, está uma nova versão para "Vozes da Seca", de Luiz Gonzaga, cuja versão ao vivo terá a zabumba tocada por Eder "O" Rocha, do grupo pernambucano Mestre Ambrósio. O show ainda contará com versões ao vivo para "Sapo na Banca", do Záfrica Brasil, "Só Vou Deixar os Ossos" e "Solaris", do primeiro disco do grupo, "Coleção Nacional", de 2002.
Outra novidade na formação, é a presença do MC Funk Buia, do Záfrica Brasil, apresentando faixas de seu disco solo, que será lançado pelo selo da banda ainda neste ano. O terceiro elemento do grupo, o gaúcho Tejo Damasceno, não irá à Índia, por ter escolhido o verão para as férias.
O contato com o Fórum Social aconteceu por meio de Ricardo Muniz Fernandes, o curador do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, que, informalmente, indicou alguns artistas brasileiros, como o DJ Dolores, Marcelo D2 e o próprio Instituto, para a comissão organizadora do Fórum, que terminou por escolher o grupo paulistano. Fernandes conheceu o grupo pelo projeto Paisagem Zero, do qual também responde pela curadoria.
Além da apresentação no Fórum, o grupo está com dois outros shows marcados na própria Bombaim, nos dias 18 e 19. Nesta última data, eles se apresentam em uma manifestação de rua contra a atuação dos Estados Unidos nas guerras.
"Mas a gente quer fechar mais datas lá mesmo", afirma Ganjaman. "Vamos de cabeça aberta, podemos voltar de lá com parcerias e músicas novas", completa.

Shows no retorno
Na volta, o Instituto aproveita a escala na França para apresentar-se, dia 22, no Favela Chic, tradicional casa noturna parisiense voltada para a cultura brasileira. Retornando ao Brasil no fim de janeiro, o Instituto já está programando datas para apresentações no país, trazendo o mesmo show que fizeram na Índia para os palcos brasileiros.
Quem não quiser esperar, pode acessar o site do grupo (www.seloinstituto.com), que diponibilizou on-line trechos de ensaios e entrevistas em vídeo sobre a ida para o outro lado do mundo.


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