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Livros
Jeremias, o Bom, volta em charges inéditas
Reedição de álbum de 1969 tem cartuns políticos que Ziraldo havia suprimido
Espécie de anti-Amigo da Onça, personagem nasceu no "Jornal do Brasil" e migrou para "O Cruzeiro", onde teve curta carreira política
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Jeremias, o carioca, está de
mudança para São Paulo. O
"Bom", personagem criado pelo cartunista Ziraldo, 74, nos
anos 60, vai batizar um bar no
bairro da Bela Vista, onde, no
dia 20 de janeiro, próximo sábado, acontece o relançamento
de um álbum de 1969. O livro
compilava charges de Jeremias, publicadas, naquele seu
último ano de existência como
personagem semanal, pela revista "O Cruzeiro".
A reedição, da editora Melhoramentos, vem com mais
páginas do que o original, por
conta de mais de dez cartuns
inéditos em livro, que Ziraldo
na época achou melhor deixar
de fora, por conta de seu conteúdo político.
"Sempre que um personagem meu acabava, eu publicava
algumas de suas histórias em livro, para eternizá-lo. Não houve censura prévia por parte dos
editores para o álbum do Jeremias. Mas meu temor era colocar aquelas piadas políticas e os
livros acabarem sendo apreendidos pela polícia. Aí não teria
sentido", diz Ziraldo à Folha.
O temor do cartunista não
era em vão. Cerca de um ano
antes da publicação do álbum
"Jeremias, o Bom", pela Expressão e Cultura, Ziraldo participou de uma coletânea da
mesma editora, chamada "Dez
em Humor", que tinha ainda
Millôr Fernandes, Jaguar e
Henfil, entre outros. O lançamento aconteceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de dezembro de
1968, quando foi editado o AI-5. "No dia seguinte eu fui preso
em casa", conta o cartunista,
então levado para o Forte de
Copacabana, considerado "elemento perigoso".
Nasce um estilo
Jeremias, o Bom, surgiu nas
páginas do "Jornal do Brasil",
onde foi publicado entre 1965 e
1969, quando migrou para "O
Cruzeiro". Ziraldo já assinava
uma página dominical de cartuns no jornal, abordando temas diversos do Brasil, mas
achava que não tinha tanta repercussão. "Faltava um personagem. Como o Amigo da Onça,
que era um malandro, fazia sucesso, resolvi criar um anti-Amigo da Onça", conta Ziraldo,
referindo-se à criação de Péricles Maranhão (1924-1961), celebrizada nas páginas daquela
mesma revista.
Inicialmente um personagem voltado para a crítica de
costumes, Jeremias "aderiu" à
política durante as cerca de 20
semanas em que foi publicado,
segundo Ziraldo, sem que os
editores de "O Cruzeiro" notassem as críticas ao regime militar. A militância de Jeremias
acabou causando a demissão do
cartunista da revista.
O personagem, diz Ziraldo,
inaugurou um estilo que ele
voltou a utilizar em outras criações, como a Supermãe e o Menino Maluquinho. Depois de
anos desenhando "A Turma do
Pererê", o cartunista queria se
livrar do que chama de "condicionamento" de seus personagens de histórias em quadrinhos, e criar uma "anatomia
menos convencional".
"O traço do Jeremias era
mais moderno, com aqueles
pés de ferro elétrico, como dizia
o Borjalo", conta Ziraldo.
Espécie de Dom Quixote, como compara Ziraldo em texto
de apresentação da nova edição
do álbum, Jeremias era flamenguista roxo, aceitava ficar de fora de uma pelada, mesmo sendo o dono da bola, e, dizem, era
tão bom, tão bom, que nem causou dor a sua mãe ao nascer.
Além desse lado "comportamental", de crítica de costumes, como coloca Ziraldo, o livro apresenta Jeremias em sua
curta fase política, quando aparece num festival de música,
aplaudindo um cantor parecido
com Geraldo Vandré, autor do
quase hino "Pra Não Dizer que
Não Falei de Flores". E ainda
participando de passeata estudantil ou ajudando agricultores
nordestinos a assistirem a uma
missa clandestina do ex-arcebispo de Pernambuco Dom
Hélder Câmara, o "bispo vermelho", como era conhecido.
JEREMIAS, O BOM
Autor: Ziraldo
Editora: Melhoramentos
Quanto: R$ 39 (144 págs.)
Lançamento: dia 20, a partir das 12h
(Jeremias, o Bar, r. Avanhandava, 37, Bela Vista, s/tel.)
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