São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Julia Moraes/Folha Imagem
A jogadora Angela Park


mulheres em campo (de golfe)

Com bolinhas personalizadas e tacos de US$ 1.500, elas invadem um reduto machista

Os homens preferem jogar entre eles. Acham que jogo de mulher é mais demorado, que a gente conversa muito


MARIA ISABEL LATI, empresária

Sempre que viaja para o exterior, a empresária Maria Isabel Pimenta Camargo Lati não resiste a uma olhada nas vitrines de... golfe. Em uma dessas viagens, ela saiu de uma loja esportiva de Orlando (EUA) com nove tacos das marcas TaylorMade e Callaway, duas das principais grifes de equipamentos. A conta: US$ 1.500. Dona de uma loja de móveis e objetos de decoração, Bel, como é conhecida, é uma das cerca de 3.000 mulheres que atualmente jogam golfe no Estado de São Paulo, segundo estimativa da Federação Paulista da modalidade.
 

Lica Diniz, mulher do empresário Arnaldo Diniz e cunhada de Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, pratica o jogo há sete anos e até construiu um campo de 12 buracos em seu haras de 35 alqueires, em Indaiatuba (SP). "Foi meu marido que projetou, então pode colocar aí que é "made at home" [feito em casa]", diz ela, evitando falar o valor da obra. "Começamos com quatro buracos. À medida que fomos evoluindo, aumentamos o número. Estamos com 12 e a meta é chegar aos 18", conta, referindo-se ao número de buracos de um campo oficial.
 

Foi lá, onde os carrinhos têm a silhueta de Lica desenhada, que ela posou para as fotos. O clube do qual é sócia, o São Paulo Golf Club, não permite imagens em suas instalações. Lá, a mensalidade custa R$ 700. Os não-sócios que queiram jogar no local pagam uma taxa de R$ 150, nos dias de semana, e de R$ 450, aos sábados e domingos. "Não é "baratérrimo", mas razoável dentro da realidade do golfe", diz a fisioterapeuta Fabiane Alvarez, 48, também sócia do clube. Ela posou no campo público da Federação Paulista, uma das iniciativas dos dirigentes para tentar popularizar o esporte.
 

Mas quem tem a missão de fazer o golfe deixar de ser "esporte de elite" é a paranaense Angela Park, 19. Em 2007, ela foi eleita estreante do ano no LPGA, o circuito profissional norte-americano, depois de ser vice-campeã de um dos principais torneios da temporada, o US Open. Angela mora nos Estados Unidos desde os nove anos. "Lá, jogar golfe é muito mais barato. Minha família nunca foi rica. Comecei em um campo pequeno, porque os "country clubs" [clubes de campo] são mais restritos", diz ela, que não domina o português e responde a maioria das perguntas em inglês.
 

"Christian" [cristã] protestante, como diz, Ângela escreve a frase "Jesus te ama", em português, em todas as bolinhas que leva para as competições. Seu jogo de tacos, feitos sob medida, são protegidos por bichos de pelúcia. Ela calcula investir US$ 300 mil por ano na carreira, mas está próxima de alcançar o primeiro milhão de dólares em prêmios. "Não aproveito o dinheiro, porque não posso sair gastando em bolsa de grife. Ainda bem que ganho algumas de presente."
 

Até hoje, nenhum homem brasileiro alcançou os resultados obtidos por Angela, mas, no circuito amador, eles contam com privilégios. Nos clubes, a prioridade para jogar nos finais de semana é deles. Os jogos femininos acontecem às terças e quintas-feiras, "porque acham que as mulheres não trabalham", diz Fabiane Alvarez. O golfe parou no tempo? "Não, é machismo mesmo", reclama Lica Diniz. "As regras foram feitas assim e os clubes não querem se atualizar." Estima-se que a participação feminina no golfe cresceu 20% ao ano, nos últimos cinco anos.
 

"Tem torneios mistos, mas sinto que os homens preferem jogar entre eles. Acham que jogo de mulher é mais demorado, que a gente conversa muito", diz Bel Lati. No campo, as mulheres vestem camisas pólo de grifes como Armani, Lacoste e Ralph Lauren. Já as luvas, bonés e óculos escuros são modelos esportivos, de marcas como Nike e Oakley. Fabiane brinca que "é porque as lojas de golfe não vendem óculos Chanel."


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