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Mocinho cinqüentão
Ator completa 50 anos de vida e 30 de TV; a partir de segunda, será um engenheiro mulherengo, porém romântico, protagonista da próxima novela
das sete
Rafael Andrade/Folha Imagem
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O ator Edson Celulari, 49, que será um dos protagonistas de "Beleza Pura', em um intervalo das gravações da nova novela das sete da Globo, na tarde de anteontem, no Projac, no Rio
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele será mocinho de novo na
novela, mas, na vida real, Edson
Celulari neste ano se torna um
cinqüentão e completa três décadas de televisão.
A partir da próxima segunda,
seus famosos olhos azuis serão
de Guilherme Medeiros, engenheiro mulherengo, mas romântico, protagonista de "Beleza Pura", novela das sete da
Globo. À Folha, o ator fala sobre o novo papel, a vida aos 50,
a opção por peças menos comerciais e o sonho de ter um
espaço para reciclar atores.
FOLHA - Em 50 anos de vida e 30 de
TV, qual foi o maior mico que já pagou, seu melhor e pior momento?
EDSON CELULARI - O mico foi a
primeira e única peça que escrevi. Tinha 16 anos e precisava
convencer meu pai a me deixar
fazer a EAD [Escola de Artes
Dramáticas da USP]. Escrevi
um monólogo, dirigi e atuei.
Era horrível, mas convenceu
meu pai. Penso que ele me
amava muito. E já foram alguns
[melhores] papéis e momentos
também: Calígula, "Asa Branca", "Don Juan", Vadinho, Ciccilo Matarazzo, "Don Quixote",
"Inocência", "Decadência",
"Ópera do Malandro". Do pior,
já não me lembro, tenho memória seletiva.
FOLHA - Seu nome não costuma estar vinculado a questões políticas.
Por que prefere não se envolver?
CELULARI - Arte e política se
atraem, mas não combinam,
são água e óleo. O melhor para o
artista é crer nas suas utopias.
FOLHA - Aos 50, o assédio das mulheres é maior que aos 20, 30 e 40?
CELULARI - Diferente, ainda
bem. Porque 50 anos com tudo
igual seria monótono. As mulheres estão mais ousadas, com
mais atitude. O assédio é mais
consistente, os personagens ganham mais visibilidade. É igual
Mega-Sena: tem a acumulada.
FOLHA - Você e a Cláudia [Raia] discutem sobre como lidar com o jornalismo de celebridades, se devem ou
não ir a festa, ilha de "Caras"?
CELULARI - Recebemos muitos
convites para esse ou aquele
evento, essa ou aquela ilha.
Nunca fomos. Nosso tempo é
usado para o nosso ofício e nossa família. Nada contra. Quem
sabe, um dia, vamos poder estar
de pernas para o ar num desses
paraísos e cercados por camarões por todos os lados.
FOLHA - Você é metrossexual?
CELULARI - Não tenho pudor em
dizer que tento me cuidar, mas
confesso que me falta disciplina e paciência. Vivo da minha
imagem, preciso ter a capacidade de mutação até do meu "visual". Mudo a cor do meu cabelo há muitos anos e nunca escondi isso. Quero poder exercitar o camaleônico, todo ator
gosta disso e precisa ter fôlego
para suportar tanta exposição.
FOLHA - Lamenta o fato de Manoel
Carlos não ter levado adiante a idéia
de tornar Silvio, seu personagem em
"Páginas da Vida", em bissexual?
Não seria enriquecedor para um currículo dominado por mocinhos?
CELULARI - O que enriquece um
ator é um bom personagem.
Não vejo meus personagens como arquétipos simples: esse é
romântico, esse é vilão cômico.
Seria muito sem graça. A novela
do Manoel Carlos foi mais uma
experiência. Será que o fato do
Silvio ser ou não gay mudaria a
minha carreira? Acho que não.
FOLHA - Guilherme, seu personagem de "Beleza Pura", vai "bombar" como tio Glauco de "América"?
CELULARI - Guilherme Medeiros
é um cara muito bem sucedido,
atrapalhado, desligado, muito
ego centrado. É aquele cara que
não se permite errar, solteirão,
mulherengo, meio mal-humorado, encrenqueiro, de pavio
curto, impaciente, machão. E
tudo isso faz dele um homem
muito divertido, um sujeito
moderno e infantil muitas vezes. O personagem é maravilhoso. Agora, se vai ou não
"bombar", o público vai definir.
FOLHA - Você costuma optar por
um teatro menos convencional e,
curiosamente, Cláudia tem a imagem ligada a musicais da Broadway.
CELULARI - No teatro, posso ter
meus projetos artísticos realizados. Na TV e no cinema, sou
contratado, recebo convites.
No teatro, arrisco, quero outras
linguagens. Quero ir além do
meu público de TV. O teatro no
Brasil vive um momento de reconhecimento. Tem coisas novas, como os musicais chegando, com grande força comercial
e competência, e tem esse outro teatro das tais "palavras",
do pensar, que fica com um espaço cada vez mais específico.
O teatro independente vai sobreviver a espaços cada vez
mais raros, infinitos meio-ingressos, violência, flanelinhas?
Temos hoje uma platéia cada
vez mais definida para o teatro
entretenimento. Isso é ruim?
Sim, se não existirem as outras
tantas possibilidades que o teatro, como meio de modificação
social, pode oferecer. Quero
poder provar de tudo um pouco. O que não posso fazer na
TV, como linguagem, faço no
teatro. Já a Cláudia tem como
história os musicais. Começou
cedo e faz com muito talento e
alegria. É uma das poucas brasileiras que fazem bem o dançar, cantar e interpretar. Comediante, faz graça com competência e sem pudor, e trabalha com disciplina. Quem sabe
um dia, ela queira fazer seu primeiro clássico e eu meu primeiro musical? Se formos tentar fazer sem preconceito, teremos chances de nos divertir.
FOLHA - Tem daqueles sonhos de
escrever livro, construir um barco?
CELULARI - Adoraria ter um estúdio para exercícios, ensaios,
experiências. Um espaço para a
reciclagem, pré-produção do
ator. É assim que me vejo até o
fim: ator. Que não esperem de
mim esse negócio de livro, árvore, morar longe, isolado. Preciso de pessoas, cúmplice, audiência. Meu trabalho é coletivo. Se sobrar um tempinho,
construo um barco. Pode ser
um teatro flutuante que pararia
em cada porto por esse Brasil
afora. Tudo é possível, principalmente quando você também se interessa pelos gigantes, além dos moinhos.
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