São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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Mocinho cinqüentão

Ator completa 50 anos de vida e 30 de TV; a partir de segunda, será um engenheiro mulherengo, porém romântico, protagonista da próxima novela das sete

Rafael Andrade/Folha Imagem
O ator Edson Celulari, 49, que será um dos protagonistas de "Beleza Pura', em um intervalo das gravações da nova novela das sete da Globo, na tarde de anteontem, no Projac, no Rio

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele será mocinho de novo na novela, mas, na vida real, Edson Celulari neste ano se torna um cinqüentão e completa três décadas de televisão.
A partir da próxima segunda, seus famosos olhos azuis serão de Guilherme Medeiros, engenheiro mulherengo, mas romântico, protagonista de "Beleza Pura", novela das sete da Globo. À Folha, o ator fala sobre o novo papel, a vida aos 50, a opção por peças menos comerciais e o sonho de ter um espaço para reciclar atores.

 

FOLHA - Em 50 anos de vida e 30 de TV, qual foi o maior mico que já pagou, seu melhor e pior momento?
EDSON CELULARI -
O mico foi a primeira e única peça que escrevi. Tinha 16 anos e precisava convencer meu pai a me deixar fazer a EAD [Escola de Artes Dramáticas da USP]. Escrevi um monólogo, dirigi e atuei.
Era horrível, mas convenceu meu pai. Penso que ele me amava muito. E já foram alguns [melhores] papéis e momentos também: Calígula, "Asa Branca", "Don Juan", Vadinho, Ciccilo Matarazzo, "Don Quixote", "Inocência", "Decadência", "Ópera do Malandro". Do pior, já não me lembro, tenho memória seletiva.

FOLHA - Seu nome não costuma estar vinculado a questões políticas. Por que prefere não se envolver?
CELULARI -
Arte e política se atraem, mas não combinam, são água e óleo. O melhor para o artista é crer nas suas utopias.

FOLHA - Aos 50, o assédio das mulheres é maior que aos 20, 30 e 40?
CELULARI -
Diferente, ainda bem. Porque 50 anos com tudo igual seria monótono. As mulheres estão mais ousadas, com mais atitude. O assédio é mais consistente, os personagens ganham mais visibilidade. É igual Mega-Sena: tem a acumulada.

FOLHA - Você e a Cláudia [Raia] discutem sobre como lidar com o jornalismo de celebridades, se devem ou não ir a festa, ilha de "Caras"?
CELULARI -
Recebemos muitos convites para esse ou aquele evento, essa ou aquela ilha. Nunca fomos. Nosso tempo é usado para o nosso ofício e nossa família. Nada contra. Quem sabe, um dia, vamos poder estar de pernas para o ar num desses paraísos e cercados por camarões por todos os lados.

FOLHA - Você é metrossexual?
CELULARI -
Não tenho pudor em dizer que tento me cuidar, mas confesso que me falta disciplina e paciência. Vivo da minha imagem, preciso ter a capacidade de mutação até do meu "visual". Mudo a cor do meu cabelo há muitos anos e nunca escondi isso. Quero poder exercitar o camaleônico, todo ator gosta disso e precisa ter fôlego para suportar tanta exposição.

FOLHA - Lamenta o fato de Manoel Carlos não ter levado adiante a idéia de tornar Silvio, seu personagem em "Páginas da Vida", em bissexual? Não seria enriquecedor para um currículo dominado por mocinhos?
CELULARI -
O que enriquece um ator é um bom personagem. Não vejo meus personagens como arquétipos simples: esse é romântico, esse é vilão cômico. Seria muito sem graça. A novela do Manoel Carlos foi mais uma experiência. Será que o fato do Silvio ser ou não gay mudaria a minha carreira? Acho que não.

FOLHA - Guilherme, seu personagem de "Beleza Pura", vai "bombar" como tio Glauco de "América"?
CELULARI -
Guilherme Medeiros é um cara muito bem sucedido, atrapalhado, desligado, muito ego centrado. É aquele cara que não se permite errar, solteirão, mulherengo, meio mal-humorado, encrenqueiro, de pavio curto, impaciente, machão. E tudo isso faz dele um homem muito divertido, um sujeito moderno e infantil muitas vezes. O personagem é maravilhoso. Agora, se vai ou não "bombar", o público vai definir.

FOLHA - Você costuma optar por um teatro menos convencional e, curiosamente, Cláudia tem a imagem ligada a musicais da Broadway.
CELULARI -
No teatro, posso ter meus projetos artísticos realizados. Na TV e no cinema, sou contratado, recebo convites.
No teatro, arrisco, quero outras linguagens. Quero ir além do meu público de TV. O teatro no Brasil vive um momento de reconhecimento. Tem coisas novas, como os musicais chegando, com grande força comercial e competência, e tem esse outro teatro das tais "palavras", do pensar, que fica com um espaço cada vez mais específico.
O teatro independente vai sobreviver a espaços cada vez mais raros, infinitos meio-ingressos, violência, flanelinhas?
Temos hoje uma platéia cada vez mais definida para o teatro entretenimento. Isso é ruim?
Sim, se não existirem as outras tantas possibilidades que o teatro, como meio de modificação social, pode oferecer. Quero poder provar de tudo um pouco. O que não posso fazer na TV, como linguagem, faço no teatro. Já a Cláudia tem como história os musicais. Começou cedo e faz com muito talento e alegria. É uma das poucas brasileiras que fazem bem o dançar, cantar e interpretar. Comediante, faz graça com competência e sem pudor, e trabalha com disciplina. Quem sabe um dia, ela queira fazer seu primeiro clássico e eu meu primeiro musical? Se formos tentar fazer sem preconceito, teremos chances de nos divertir.

FOLHA - Tem daqueles sonhos de escrever livro, construir um barco?
CELULARI -
Adoraria ter um estúdio para exercícios, ensaios, experiências. Um espaço para a reciclagem, pré-produção do ator. É assim que me vejo até o fim: ator. Que não esperem de mim esse negócio de livro, árvore, morar longe, isolado. Preciso de pessoas, cúmplice, audiência. Meu trabalho é coletivo. Se sobrar um tempinho, construo um barco. Pode ser um teatro flutuante que pararia em cada porto por esse Brasil afora. Tudo é possível, principalmente quando você também se interessa pelos gigantes, além dos moinhos.


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