São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Rourke, a revanche

Ator volta ao auge no premiado "O Lutador", história de descida ao inferno e tentativa de ressurreição

Fotos Divulgação
Mickey Rourke, 56, em cena de "O Lutador"

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Cuidado: se você havia perdido de vista Mickey Rourke nos tempos de "O Selvagem da Motocicleta" (1983), "Nove e Meia Semanas de Amor" (1986), "Coração Satânico" (1987) e "Orquídea Selvagem" (1989), revê-lo em "O Lutador" pode ser um choque -e muita gente com mais de 40 nem o reconheceria se os créditos não garantissem que se trata da mesma pessoa.
É o que ocorre com o seu personagem no filme quando, para sobreviver, arruma emprego no açougue de um supermercado. Um cliente diz que tem a impressão de conhecê-lo de algum lugar. Solta diversos palpites, diante de um atendente incomodado, até matar a charada. "Você não foi um lutador nos anos 80?" Sim, Randy "The Ram" Robinson -o "Carneiro"- foi um astro de telecatch 20 anos atrás. O cliente não sabe, contudo, que ele ainda ganha trocados se exibindo por aí, em lutas e sessões de autógrafo. Não é apenas a idade que o torna quase irreconhecível: o uso intenso de medicamentos e uma rotina autodestrutiva, anabolizada por álcool e solidão, fizeram dele uma espécie de caricatura de si próprio.
Bastariam essas informações para entender por que o ator disputa o Oscar por esse papel, que já lhe valeu o Globo de Ouro e os prêmios da Academia Britânica e de diversas associações de críticos nos EUA: "O Lutador" conta a história de Randy, mas o verdadeiro protagonista, ao menos para a indústria cinematográfica, é Rourke. "Você não foi um astro nos anos 80?", alguém poderia questioná-lo, se o encontrasse... no vestiário de um ginásio. Rourke foi lutador profissional nos anos 90, o que lhe custou cicatrizes e cirurgias plásticas para reconstituir o rosto.
O desvio na carreira parecia condená-lo, no cinema, a produções B e a participações secundárias em filmes de culto como "Sin City" (2005), até que "O Lutador", produção independente dirigida por Darren Aronofsky ("Pi", "Réquiem para um Sonho"), obteve em setembro do ano passado o Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Retorno no inferno
Deu-se então a mágica de que Hollywood tanto gosta (porque, evidentemente, o público também): uma história de descida ao inferno e de tentativa de ressurreição, a de Randy, deu o impulso para ressuscitar a carreira de um antigo astro que simbolicamente também foi ao inferno profissional e pessoal, e veio de lá com as marcas do desgaste no corpo.
Quem pega carona com Rourke é Marisa Tomei, revelada aos 18 anos pelo Oscar de coadjuvante por "Meu Primo Vinny" (1992), mas que não correspondeu à expectativa depositada pela indústria em sua carreira. Em "Entre Quatro Paredes" (2001), com um papel secundário, obteve outra indicação ao Oscar de coadjuvante. "Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto" (2007), ótimo suspense dirigido por Sidney Lumet, com Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke e Albert Finney, escalou Tomei em papel-chave com cenas eróticas incomuns para atrizes de 40, de acordo com o comportado padrão norte-americano.
O apelo erótico retorna em "O Lutador", que lhe valeu também uma indicação ao Oscar de coadjuvante, como a stripper de quem Randy tenta se aproximar. Lutas de telecatch, Rourke desfigurado como um homem cujo maior prazer é bater e apanhar, Tomei dançando nua: talvez pareça improvável, mas Aronofsky extrai algum divertimento desse pacote.


O LUTADOR

Produção: EUA/França, 2008
Direção: Darren Aronofsky
Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei
Onde: estreia hoje no Cine Bombril, Reserva Cultural e circuito
Classificação: não indicado a menores de 14 anos
Avaliação: regular



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