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Crítica
Boa atriz e diretor em reabilitação valorizam "O Casamento de Rachel"
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Casamentos são uma obsessão maior em novelas que no cinema, apesar de muitos filmes terem finais felizes. As bodas, no entanto, já foram tema de longas-metragens concentrados exclusivamente na festa e na ansiedade que as antecedem.
"Cerimônia de Casamento"
(1978), de Robert Altman, é o
exemplo máximo, com seu veneno destilado contra a família
e suas desordens. "Um Casamento à Indiana" (2001) preferiu focar a família positivamente, como núcleo de resistência
cultural num mundo de identidades flutuantes. "Quatro Casamentos e um Funeral" (1994)
ou "O Casamento do Meu Melhor Amigo" (1997) exploraram
com humor as turbulências de
um dia tão complicado.
Sob tantos sentimentos é
inevitável que o melhor e o pior
venham à tona. E é disso que "O
Casamento de Rachel" tira proveito para fazer seu registro da
fragilidade humana.
A Rachel do título nem é a
personagem central, apesar de
protagonizar a festa que será
também um momento de tumulto para a família. A peça-chave e motor da turbulência é
a irmã, Kim (Anne Hathaway,
indicada ao Oscar de atriz), cuja
internação numa clínica de reabilitação será suspensa apenas
o tempo suficiente para botar
água no champanhe.
A "ovelha negra" servirá, portanto, como catalisador das
emoções e, colado nela, o filme
flutuará entre ruptura e reconciliação, conduzido pela constante simbólica do casamento
como aliança entre as partes.
Ao se interessar por essa dimensão, o diretor Jonathan
Demme demonstra ainda alguma vitalidade, que parecia perdida depois dos ápices de "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e
"Filadélfia" (1993).
Seguindo os europeus
"O Casamento de Rachel" parece mais um esforço de Demme para colocar sua carreira de
volta nos eixos com um filme
que é mais uma demonstração
de força de controle, capaz de
recolher sucesso de estima junto a certos públicos, sem entusiasmar pela novidade.
O uso de câmera na mão, projeção da instabilidade dos caracteres e da trama, e a narrativa flutuante entre espaços, personagens e situações aproxima
o que Demme busca neste "O
Casamento..." de um "estilo" à
vista num cinema europeu hoje
consagrado sob nomes como os
dos irmãos Dardenne e do francês Arnaud Desplechin.
Contudo, a impressão de inacabamento e de obra em progresso que vem da visão dos filmes destes cineastas não acompanha este longa de Demme.
"O Casamento..." é, antes, calculado demais, sem a força da
surpresa. Vale mais pelo esforço de reabilitação do cineasta e,
sobretudo, pelo tour de force da
interpretação de Hathaway.
O CASAMENTO DE RACHEL
Produção: EUA, 2008
Direção: Jonathan Demme
Com: Anne Hathaway, Debra Winger,
Rosemarie Dewitt
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco Augusta, iG Cine e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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