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A atriz Esther Góes revisita a personagem que já viveu no cinema e no teatro nos anos 60
Tarsila [ao cubo]
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No centro do palco, no alto, um
cubo envolto em tela branca recebe a projeção dos quadros de Tarsila do Amaral (1886-1973).
"É ali que se dá a presença da
memória, do subconsciente. As
projeções são deformadas, como
manda o raciocínio cubista da
desconstrução", afirma a artista
plástica Maria Bonomi, de volta à
cenografia.
Foi por meio do cubismo, descoberto na França, que Tarsila
empreendeu outras leituras para
o Brasil, um tema dileto.
No espetáculo "Tarsila", a personagem-título é representada ao
lado de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfati.
Resta a quinta parte, Patrícia Galvão, a Pagu, apenas citada nos
diálogos, para completar o eixo
que instaurou novos paradigmas
para as artes brasileiras a partir
dos agitados anos 20.
As relações de afeto e hostilidade que guiaram esse grupo, sob o
prisma da pintora e da mulher
Tarsila, estão na peça de Maria
Adelaide Amaral. A montagem
estréia amanhã no teatro Sesc Anchieta, em São Paulo, com direção
de Sérgio Ferrara.
"Não me senti intimidada pela
importância histórica e artística
[desses personagens" porque preferi abordá-los através de sua humana condição. Foram vitais as
leituras da correspondência, as
entrevistas com as pessoas que os
conheceram pessoalmente", afirma Maria Adelaide, 60.
Entre as fontes, estão Tarsila do
Amaral, a Tarsilinha, sobrinha-neta da pintora, e o artista Tuneu,
que trabalhou com ela durante 15
anos. O arco da dramaturgia vai
de 1922, quando acontece a Semana de Arte Moderna (da qual Tarsila não participa), até 1973, quando a pintora morre, aos 86 anos.
Apesar do recorte histórico,
Ferrara, 35, deseja extrair do texto
a "ética da amizade", a cumplicidade desses artistas. O diretor espera que o público compartilhe
essa intimidade evocada como se
ouvisse uma história ao pé do ouvido. "Há uma sinceridade nos relacionamentos que não encontramos hoje, quando muitos artistas
ficam em seus casulos, mais preocupados com o que o outro vai fazer com a verba que conseguiu", diz Ferrara.
A atriz Esther Góes parece completar mais um ciclo do seu eterno
retorno com Tarsila. Ela estava lá,
por exemplo, na montagem de "O
Rei da Vela" (1967), de Oswald,
pelo Oficina de Zé Celso; e no filme "Eternamente Pagu" (1967),
de Norma Benguel, interpretando
o papel da pintora. "Tarsila tinha
uma fantástica alegria de viver
que brilhava nos olhos. Ela era
contida, por reflexão até, mas,
quando agia, fazia questão de colocar os pingos nos is", diz Esther.
Como Oswald (José Rubens Chachá), Mário (Luciano Chirolli) e Anita (Agnes Zuliani), sua personagem foi concebida "com
os pés no chão, não na mitologia",
afirma a atriz protagonista.
"As obras deles já são eternas.
Optamos pelo enfoque humanista", completa Ferrara.
São pontuais, por exemplo, o
casamento de Tarsila com Oswald
(1926-29). A ruptura, "sem nenhum grito", observa Ferrara,
acontece quando ela descobre
que ele a traia com Pagu.
Outros dois momentos de tragédia surgem na separação de
Luis Martins, 21 anos mais novo, e
nas mortes da neta e da filha. E
Tarsila pincela a tudo e a todos
com a dor e a alegria de se viver.
TARSILA - De: Maria Adelaide Amaral.
Direção: Sérgio Ferrara. Com: Esther
Góes, José Rubens Chachá, Luciano
Chirolli e Agnes Zuliani. Onde: teatro
Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila
Buarque, tel. 0/xx/11/3256-2281).
Quando: estréia amanhã, às 21h; qui. a
sáb., às 21h; dom., às 19h. Quanto: R$ 30.
Até 25/5. Patrocínio: Vega e Grupo
Santander Banespa.
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