São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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LIVRO

David Callahan comenta sobre desgaste do tecido social dos EUA e sobre descrença da população nas regras do jogo

"Americanos vivem crise de legitimidade"

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Leia abaixo a continuação da entrevista com David Callahan. (ANGELA PIMENTA)
 

Folha - A condenação da empresária e apresentadora de TV Martha Stewart, que mentiu ao governo sobre a venda de ações, não é um exemplo de que a lei pune?
David Callahan -
Os investigadores do governo estão tentando fazer o trabalho deles, mas a verdade é que a maioria dos ricos que trapaceiam tem pego penas ínfimas. Por exemplo, do analista da [corretora] Merrill Lynch Henry Blodget? Para não ser processado, no ano passado, Blodget concordou em pagar uma multa de US$ 4 milhões. Mas, durante seu emprego na Merril, ele ganhou US$ 20 milhões. Novamente, a mensagem que as pessoas comuns recebem é que, se você é rico e pode pagar advogados caríssimos, você está acima da lei.

Folha - Jayson Blair, ex-repórter do "New York Times" demitido por fraudar reportagens, está em evidência, com um livro de memórias que deve virar best-seller. É mais um sinal de que o crime compensa?
Callahan -
Esse é um belo exemplo dessa tese. Depois de tudo o que fez, Blair se tornou um autor de livros. Por esse primeiro título, ele recebeu um adiantamento na casa dos seis dígitos.

Folha - Seu livro também afirma que o americano se tornou mais moralista nos últimos tempos. A reação à exposição do seio da cantora Janet Jackson durante a final do campeonato de futebol, em fevereiro, é prova disso?
Callahan -
Sim. O debate sobre os valores nesse país tem sido definido pela ala religiosa da direita. A esquerda não fala sobre valores. Essa história envolvendo Janet Jackson é um exemplo do tolo moralismo americano.

Folha - Por que o sr. cita o Brasil como exemplo de país que explora os pobres? Por que o Brasil e não o México, por exemplo?
Callahan -
Porque nos EUA, quando as pessoas falam de grande desigualdade de renda entre os pobres e ricos, e sobre corrupção, o Brasil sempre vem à tona. Na televisão nós vemos as imagens da vida opulenta dos ricos no Rio de Janeiro e uma maioria incrível de pobres. Já o México ou a Índia não têm a mesma imagem. Não quis ser injusto, mas o Brasil é um exemplo que funciona melhor junto aos leitores americanos.


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