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LIVRO
David Callahan comenta sobre desgaste do tecido social dos EUA e sobre descrença da população nas regras do jogo
"Americanos vivem crise de legitimidade"
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Leia abaixo a continuação da
entrevista com David Callahan.
(ANGELA PIMENTA)
Folha - A condenação da empresária e apresentadora de TV Martha Stewart, que mentiu ao governo sobre a venda de ações, não é
um exemplo de que a lei pune?
David Callahan - Os investigadores do governo estão tentando fazer o trabalho deles, mas a verdade é que a maioria dos ricos que
trapaceiam tem pego penas ínfimas. Por exemplo, do analista da
[corretora] Merrill Lynch Henry
Blodget? Para não ser processado,
no ano passado, Blodget concordou em pagar uma multa de US$
4 milhões. Mas, durante seu emprego na Merril, ele ganhou US$
20 milhões. Novamente, a mensagem que as pessoas comuns recebem é que, se você é rico e pode
pagar advogados caríssimos, você
está acima da lei.
Folha - Jayson Blair, ex-repórter
do "New York Times" demitido por
fraudar reportagens, está em evidência, com um livro de memórias
que deve virar best-seller. É mais
um sinal de que o crime compensa?
Callahan - Esse é um belo exemplo dessa tese. Depois de tudo o
que fez, Blair se tornou um autor
de livros. Por esse primeiro título,
ele recebeu um adiantamento na
casa dos seis dígitos.
Folha - Seu livro também afirma
que o americano se tornou mais
moralista nos últimos tempos. A
reação à exposição do seio da cantora Janet Jackson durante a final
do campeonato de futebol, em fevereiro, é prova disso?
Callahan - Sim. O debate sobre
os valores nesse país tem sido definido pela ala religiosa da direita.
A esquerda não fala sobre valores.
Essa história envolvendo Janet
Jackson é um exemplo do tolo
moralismo americano.
Folha - Por que o sr. cita o Brasil
como exemplo de país que explora
os pobres? Por que o Brasil e não o
México, por exemplo?
Callahan - Porque nos EUA,
quando as pessoas falam de grande desigualdade de renda entre os
pobres e ricos, e sobre corrupção,
o Brasil sempre vem à tona. Na televisão nós vemos as imagens da
vida opulenta dos ricos no Rio de
Janeiro e uma maioria incrível de
pobres. Já o México ou a Índia não
têm a mesma imagem. Não quis
ser injusto, mas o Brasil é um
exemplo que funciona melhor
junto aos leitores americanos.
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