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Réplica/teatro
Texto sobre DVDs do Oficina não reparou que vivemos numa era "cyber"
JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
ESPECIAL PARA A FOLHA
N
ão sei se foi o editor da
Ilustrada ou o crítico
que deu o título do texto sobre o lançamento dos
DVDs do OficinaUzynaUzona
como "Registro". Não importa.
Os espetáculos remontados
foram gravados caleidescopicamente por muitas câmeras, e
no Avid, mesa de montagem,
ganharam autonomia da linguagem dessa mídia, desprenderam-se do teatro e transformaram-se num objeto-sujeito
novo no universo audiovisual,
como manifestaram-se em debate os espectadores de uma
exibição feita em tela de cinema em um festival em Paris.
Essa especificidade reducionista limita a qualidade de
obras de arte desses DVDs. O
novo, como em "Roda Viva",
quando o espetáculo passava-se na plateia e os fotógrafos da
época ainda fotografavam somente o palco, dificilmente é
percebido sem olhos novos. São
obras validadas por si; ao contrário de sofrerem a limitação
de "congelar o que é por natureza efêmero", eternizam e libertam obras de atores artistas
antes condenados a terem seu
trabalho "imortalizado" nos vídeos, mas interpretados pelo
marketing moralista e maniqueísta das novelas de TV.
O crítico da Folha não teve
ainda a percepção para captar
que vivemos numa era cyber,
por isso talvez tenha um aparelho de DVD de baixa qualidade,
incapaz de reproduzir a LUZ
deslumbrante de Carlos Alberto Ebert para "Ham-let", e por
isso talvez tenha confundido a
bela fotografia com escuridão,
confusão em que certamente
não cairão os críticos de cinema, assim como não deixarão
passar despercebida a beleza
de Marcelo Drummond, de
suas atuações nos quatro
DVDs, em que, além de Hamlet, interpreta Dionisio, Boca
de Ouro e Walmor Chagas.
Luiz Fernando Ramos dedica parágrafo inteiro para bodificar Marcelo inspirado num
ressentimento de caráter pessoal, por um lado, e, por outro,
levado por seu espírito de rebanho, fazendo coro com os "hate
groups" decretadores cinquentenários do fim do Teatro Oficina e de tentativas fracassadas
de assassinarem os Bodes Cantores do Oficina.
"Universotário"
Depois disso vem a história
de "espetáculos intermináveis
que costumam dificultar a recepção do público". "Ham-let"
e todas as peças que inspiraram
essa nova obra foram sucessos
imensos de público e de crítica;
todas, à exceção de "Boca de
Ouro", premiadas. Aí vem o lado "universotário", criando o
estigma no nosso trabalho de
"pedagogia do êxtase".
Nietzsche explodiu a filosofia
metafísica porque trouxe a percepção da alegria na tragédia,
retornou ao pagão e deixou seu
legado enorme para nossa época. Nos deu coragem para não
sermos niilistas, positivistas
tristes. Nestes anos de "change" do império nossa alegria é
vista como uma "militância"
por todos os Pentheus, inclusive por esse que escreve a crítica.
Não podem admitir os antropófagos gozadores da vida,
na dor, na felicidade, no amor
mortal misturado com o imortal que aprendemos com a mãe
de Dionísio, Semelle, que nas
"Bacantes" inaugura a cópula
da mortal com a imortal e introduz, na morte, vida, transformação: a eternidade do
amor bacante.
JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA é diretor de teatro.
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