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Ricupero revê Tancredo "presidente"
Ex-ministro da Fazenda e embaixador publica memorial e diário de sua viagem com o presidente eleito
VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA
"Diário de Bordo", do ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, é um dos raros documentos dos breves "momentos
presidenciais" de Tancredo Neves, presidente eleito em 1985
que jamais assumiria o cargo.
Tancredo ainda temia não
ser empossado quando, recém-eleito, viajou por Europa, EUA
e América Latina. O tour tinha
também como objetivo obter
respaldo internacional para a
transição democrática. Ricupero foi como um escrivão-mor
dessa viagem de Tancredo.
O núcleo do livro é a reprodução do seu diário. Relata de impressões de viajante a graves
conversas políticas. Ou nem tão
graves assim, como encontros
com Ronald Reagan, François
Mitterrand e Raul Alfonsín.
Complementam o volume
artigos de José Serra, Celso Lafer, Sergio Danese, "briefings"
diplomáticos, fotos, entrevistas
e discursos de Tancredo.
O livro também é uma aula
sobre minúcias da profissão de
diplomata. Ricupero viajou na
condição de embaixador (chefiava o Departamento das Américas do Itamaraty); compôs a
pequena equipe oficial que auxiliou Tancredo na viagem.
Um dos pontos altos do livro
é o relato de uma conversa de
Tancredo com o secretário de
Estado americano George
Schultz, registrada palavra por
palavra. É um raro documento
de uma reunião oficial reservada, em que se tratava de questão crítica, a dívida externa.
Tancredo temia que seu governo fosse logo de início desnorteado devido a um impasse
na negociação da dívida externa. Queria que os acordos mais
duros fossem fechados ainda
pelo general João Figueiredo.
Tancredo imaginava que, se o
assunto ainda estivesse em
aberto quando assumisse, seu
partido, o PMDB, poderia levá-lo a um rompimento com o sistema financeiro mundial.
Na reunião, Schultz informa
que as negociações estão para
desandar: o Brasil descumprira
o acordo com FMI. Sem o respaldo do Fundo, ruiria o acerto
com bancos e outros credores.
Schultz recomendava que a
equipe de Tancredo deveria
conversar com o FMI. Na prática, os EUA estavam a dizer que
o governo Tancredo deveria começar logo, negociando desde
antes da posse com o FMI.
DIÁRIO DE BORDO
Autor: Rubens Ricupero
Editora: Imprensa Oficial de SP
Quanto: R$ 80 (456 págs.)
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