São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Ricupero revê Tancredo "presidente"

Ex-ministro da Fazenda e embaixador publica memorial e diário de sua viagem com o presidente eleito

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

"Diário de Bordo", do ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, é um dos raros documentos dos breves "momentos presidenciais" de Tancredo Neves, presidente eleito em 1985 que jamais assumiria o cargo.
Tancredo ainda temia não ser empossado quando, recém-eleito, viajou por Europa, EUA e América Latina. O tour tinha também como objetivo obter respaldo internacional para a transição democrática. Ricupero foi como um escrivão-mor dessa viagem de Tancredo.
O núcleo do livro é a reprodução do seu diário. Relata de impressões de viajante a graves conversas políticas. Ou nem tão graves assim, como encontros com Ronald Reagan, François Mitterrand e Raul Alfonsín.
Complementam o volume artigos de José Serra, Celso Lafer, Sergio Danese, "briefings" diplomáticos, fotos, entrevistas e discursos de Tancredo.
O livro também é uma aula sobre minúcias da profissão de diplomata. Ricupero viajou na condição de embaixador (chefiava o Departamento das Américas do Itamaraty); compôs a pequena equipe oficial que auxiliou Tancredo na viagem.
Um dos pontos altos do livro é o relato de uma conversa de Tancredo com o secretário de Estado americano George Schultz, registrada palavra por palavra. É um raro documento de uma reunião oficial reservada, em que se tratava de questão crítica, a dívida externa.
Tancredo temia que seu governo fosse logo de início desnorteado devido a um impasse na negociação da dívida externa. Queria que os acordos mais duros fossem fechados ainda pelo general João Figueiredo.
Tancredo imaginava que, se o assunto ainda estivesse em aberto quando assumisse, seu partido, o PMDB, poderia levá-lo a um rompimento com o sistema financeiro mundial. Na reunião, Schultz informa que as negociações estão para desandar: o Brasil descumprira o acordo com FMI. Sem o respaldo do Fundo, ruiria o acerto com bancos e outros credores.
Schultz recomendava que a equipe de Tancredo deveria conversar com o FMI. Na prática, os EUA estavam a dizer que o governo Tancredo deveria começar logo, negociando desde antes da posse com o FMI.


DIÁRIO DE BORDO
Autor:
Rubens Ricupero
Editora: Imprensa Oficial de SP
Quanto: R$ 80 (456 págs.)



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