São Paulo, domingo, 13 de março de 2011

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OPINIÃO

Primeira versão carregava nostalgia pelo mundo rural

RAFAEL CARIELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As meias coloridas e a roupa "disco" habilitariam Emília para integrar o grupo dançante das Frenéticas no final dos anos 70.
Mas não era só na indumentária da boneca de pano que a primeira versão do "Sítio do Picapau Amarelo" produzida pela Rede Globo encarnava um certo espírito do tempo.
Quem foi criança entre 1977 e 1986, período em que as histórias rurais-delirantes adaptadas da obra de Monteiro Lobato foram ao ar, ainda não estava tão distante da roça assim.
Parte significativa da geração anterior havia migrado de pequenas cidades para estudar ou trabalhar nas grandes metrópoles.
E não era improvável que os avós dos pequenos telespectadores tivessem, eles próprios, algum sítio ou uma fazenda -quando não houvessem trabalhado diretamente no campo.
Dona Benta, Tia Nastácia e os agregados do Sítio eram, portanto, figuras da família, ou quase. Viviam num lugar que se conhecia das histórias contadas pelos mais velhos ou que se visitava nas férias escolares.
Ao mesmo tempo, o rápido processo de urbanização por que o país passara nas décadas anteriores chegava ao final ou, pelo menos, perdia fôlego justamente naquela época.
A grande cidade, antes promessa de progresso e ascensão social, se tornava cada vez mais inchada, conflituosa, violenta.
Era preciso fazer como Pedrinho e fugir para o Sítio.

RECONFORTO
Outros programas, na mesma época, deram vazão a essa nostalgia por um mundo rural pouco produtivo, economicamente atrasado, mas que, em contraste com São Paulo ou o Rio de Janeiro, parecia reconfortante do ponto de vista social, mesmo para quem não pertencesse à "casa-grande".
No "Som Brasil", lançado em 1981, Rolando Boldrin fazia da música caipira a trilha sonora das casas brasileiras nas manhãs de domingo. Na mesma toada tivera início, no ano anterior, o excelente "Globo Rural".
Programa que sobreviveu e conseguiu fazer a ponte entre a nostalgia do mundo caipira e a modernidade do agronegócio, com seus recordes de safra, multinacionais do etanol e magnatas da soja.
Um admirável mundo novo que, em 1977, pouca gente, além da boneca Emília, teria sido capaz de imaginar.


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