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Para alemão, Jorge Luis Borges foi invenção de Bioy Casares
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Com a morte de Adolfo Bioy Casares, só resta uma pessoa viva,
Maria Kodama, para comprovar
ou negar a tese ficcional do alemão
Gerhard Kopf, segundo a qual Jorge Luis Borges nunca existiu.
Em "There Is No Borges" (George Braziller, 1993, 196 páginas),
Kopf levanta a hipótese de Borges
ter sido um personagem de Bioy
Casares, interpretado por um ator.
Kodama, a viúva de Borges, foi
contratada por Bioy Casares, de
acordo com o romance de Kopf,
para ajudar o ator quando ele começou a perder a memória.
Em troca dos direitos autorais de
todos os livros com a assinatura de
Borges, Kodama jurou nunca revelar ao público a grande encenação
de Bioy Casares, diz o livro.
O narrador de "There Is No Borges" é um decadente e suicida professor de literatura portuguesa que
viaja da Alemanha para participar
em Macau de uma conferência.
No vôo, que enfrenta sérias turbulências, ele trava longa conversação com um estranho argentino.
É esse personagem que desenvolve a teoria de que Borges foi
uma criação de Bioy Casares.
Com citações de entrevistas de
Borges e Bioy Casares sobre a natureza peculiar de sua amizade, referências a fatos como eles terem
escrito juntos novelas policiais assinadas por Biorges, o argentino
conta sua versão dos fatos.
Segundo ela, Bioy Casares inventou Borges para conseguir a realização que os escritores mais ambicionam: não só criar personagens
mas torná-los seres vivos.
Para isso, contratou um ator de
teatro mambembe, chamado
Aquiles Scatamacchia, para corporificar Jorge Luis Borges. Scatamacchia decorava tudo que Casares escrevia para ser assinado por
Borges. Leu tanto, que teve problemas de vista até acabar cego.
Sua cegueira, em vez de reduzir o
"projeto Borges", ampliou-o. O
"mito do cego que vê" transformou a admiração por Borges num
culto. De acordo com o argentino,
a chave da trama está no livro "A
Invenção de Morel", de Bioy Casares, prefaciado por Borges.
A semente de desconfiança lançada pelo passageiro argentino cai
em solo fértil, a mente do professor
de literatura portuguesa.
Ele próprio já levantara as hipóteses de que Shakespeare e Cervantes haviam sido, na verdade, uma
só pessoa e de que Borges não passara de um personagem.
Mas a dúvida havia se dissipado
para o professor, quando os dois se
encontraram numa feira de livros
em Munique. Borges até lhe havia
autografado uma cópia do "Livro
das Criaturas Imaginárias".
O relato do passageiro argentino,
no entanto, reinstaura a questão
na consciência do professor.
Enquanto o avião com destino a
Macau sacode e os dois intelectuais ingerem incontáveis drinques, o professor se lembra de frases de Borges (como "ler é pensar
com a mente de um estranho") que
poderiam corroborar a história.
Kopf teria tido ainda mais material para trabalhar se tivesse sabido, em 1992, quando escreveu
"There Is No Borges", que Bioy Casares prepararia "Conversações
com Borges", em que relata as conversas noturnas diárias que os dois
tiveram durante 40 anos, meticulosamente registradas em 2 mil páginas de anotações feitas nos dias
seguintes a seus jantares literários.
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