São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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comentário

Suíço se opõe à cultura do consumo

GUILHERME WISNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA

Marceneiro e mestre-de-obras antes de se tornar arquiteto, Peter Zumthor se tornou uma figura de culto na arquitetura contemporânea. Tanto por sua personalidade monástica quanto pelo rigor, refinamento e escassez de suas obras. Aceita raras encomendas.
Sete anos mais velho que os também suíços Herzog e De Meuron, é o guru da fortíssima produção arquitetônica da Basileia, chamada de "minimalista". E, de fato, possui obras que impressionam pela combinação radical entre aspereza e refinamento. Como a capela em Sumvitg, as termas em Vals (um conjunto de piscinas formando uma caverna de pedra escura com frestas de luz) e o Museu de Bregenz -um cubo de concreto envolvido por cortina de vidro translúcida, que faz com que a luz adentre as salas misteriosamente pelo alto, embora não haja claraboia.
Herdeiro de uma longa tradição artesanal, Zumthor se define como alguém entregue à arquitetura do fazer, dando a esse fazer uma dimensão ontológica. Aferrado a uma paixão essencialista pela matéria, o arquiteto recusa a mediação superficial das imagens, a tirania simbólica e visual da cultura de consumo. Por isso, raramente faz maquetes ou desenhos mais ilustrativos. Contra a representação, prega a necessidade da experiência direta na relação com as coisas.
Daí sua admiração pelo modo como Joseph Beuys emprega os materiais, enraizado num saber ancestral anterior à mediação cultural das formas. Tamanha recusa do mundo construído pelo fetiche da imagem acaba fetichizando a sua obra, cultuada por ser escassa. Um isolado bastião de resistência contra a cultura de consumo.

GUILHERME WISNIK, crítico de arquitetura, é autor de "Lucio Costa" (Cosac Naify) e "Estado Crítico" (Publifolha)


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