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comentário
Suíço se opõe à cultura do consumo
GUILHERME WISNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Marceneiro e mestre-de-obras antes de se tornar arquiteto, Peter Zumthor se tornou
uma figura de culto na arquitetura contemporânea. Tanto
por sua personalidade monástica quanto pelo rigor, refinamento e escassez de suas obras.
Aceita raras encomendas.
Sete anos mais velho que os
também suíços Herzog e De
Meuron, é o guru da fortíssima
produção arquitetônica da Basileia, chamada de "minimalista". E, de fato, possui obras que
impressionam pela combinação radical entre aspereza e refinamento. Como a capela em
Sumvitg, as termas em Vals
(um conjunto de piscinas formando uma caverna de pedra
escura com frestas de luz) e o
Museu de Bregenz -um cubo
de concreto envolvido por cortina de vidro translúcida, que
faz com que a luz adentre as salas misteriosamente pelo alto,
embora não haja claraboia.
Herdeiro de uma longa tradição artesanal, Zumthor se define como alguém entregue à arquitetura do fazer, dando a esse
fazer uma dimensão ontológica. Aferrado a uma paixão essencialista pela matéria, o arquiteto recusa a mediação superficial das imagens, a tirania
simbólica e visual da cultura de
consumo. Por isso, raramente
faz maquetes ou desenhos mais
ilustrativos. Contra a representação, prega a necessidade da
experiência direta na relação
com as coisas.
Daí sua admiração pelo modo como Joseph Beuys emprega os materiais, enraizado num
saber ancestral anterior à mediação cultural das formas. Tamanha recusa do mundo construído pelo fetiche da imagem
acaba fetichizando a sua obra,
cultuada por ser escassa. Um
isolado bastião de resistência
contra a cultura de consumo.
GUILHERME WISNIK, crítico de arquitetura, é autor de "Lucio Costa" (Cosac Naify) e "Estado Crítico" (Publifolha)
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