São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Menos é mais

Conhecido por estilo austero, o recluso arquiteto suíço Peter Zumthor ganha o Pritzker, prêmio máximo da área

Walter Mair/Divulgação
Exterior da capela rural Irmão Klaus, em Wachendorf, Alemanha

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de dois anos seguidos premiando "estrelas" da arquitetura -Richard Rogers, em 2007, e Jean Nouvel, no ano passado-, o júri do Pritzker 2009 reservou a um ex-marceneiro, que vive recluso em uma vila nos Alpes suíços, o prêmio máximo da área.
Peter Zumthor, 65, é o detentor da honraria, que equivale a um Nobel da arquitetura, em sua 31ª edição. O prêmio, de US$ 100 mil (cerca de R$ 217 mil) e uma medalha de bronze, será dado em cerimônia que vai acontecer pela primeira vez na América do Sul -em Buenos Aires, em 29 de maio. O anúncio do prêmio foi feito ontem.
Pouco afeito a entrevistas, conhecido por recusar diversos projetos e morador de uma vila com menos de mil habitantes (Haldenstein), Zumthor era um dos nomes sempre citados nos bastidores do meio como possível premiado.
Na nota oficial da fundação Hyatt, que organiza o Pritzker, Zumthor é considerado um profissional "excepcionalmente determinado", que "combina clareza e rigor por meio de uma verdadeira dimensão poética".
"Em uma sociedade que celebra o não essencial, a arquitetura pode colocar-se como resistência", destaca o arquiteto no comunicado oficial, que reproduz ideias defendidas por ele no livro "Pensar a Arquitetura" (ed. Gustavo Gili).
O júri do prêmio -composto por nove prestigiados profissionais, entre acadêmicos e arquitetos, como o italiano Renzo Piano, o japonês Shigeru Ban e o chileno Alejandro Aravena- frisou alguns projetos-chave de Zumthor, em especial as termas na cidade suíça de Vals, "sua obra-prima", mas também o Museu de Arte Kolumba, em Colônia (Alemanha), um projeto de linhas contemporâneas, que se relaciona com "camadas de história".
Os banhos termais são "um projeto incontornável na arquitetura contemporânea", afirma à Folha a crítica de arquitetura portuguesa Ana Vaz Milheiro, 40. Destacado por sua extrema sobriedade, o conjunto é frequentemente tido como um exemplar minimalista da carreira de Zumthor, assim como o museu em Bregenz, na Áustria, que se aproveita discretamente da luz natural para iluminar o interior.
Já o museu em Colônia está instalado sobre as ruínas de uma antiga igreja, destruída durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Zumthor criou uma estrutura de concreto que abriga 17 espaços expositivos de diferentes tamanhos e iluminações, muitos deles expondo camadas de antigas ocupações do local, algumas do século 7. O museu abriga de peças medievais a instalações contemporâneas.
Para Milheiro, a melhor fase da obra do suíço é a dos anos 80 e 90, em que se destacam a capela de São Benedito e as termas, em Vals. "Sua fase recente, sintetizada no projeto da capela em Wachendorf, é quase puramente artística. Prefiro Zumthor quando ele recorre ao ancestral, ao mais clássico."
Os brasileiros Oscar Niemeyer, 101, e Paulo Mendes da Rocha, 80, venceram as edições de 1988 e 2006 do Pritzker.


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