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ERUDITO
Osesp e Meneses alternam brilho em dois concertos
ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
U m concerto foi quase o
contrário do outro. Sábado
passado a grande estrela da tarde
foi a própria orquestra, maior que
qualquer solista e maior, nas circunstâncias, até do que a música.
Já o concerto de quinta-feira teve
seu ponto alto no bis do violoncelista Antonio Meneses, tocando
sozinho duas peças de Bach.
Seja regida por Roberto Minczuk ou pelo maestro convidado
Uri Mayer, a Osesp começa a dar
mostras do que será sua personalidade. Nem toda orquestra chega
a ter som e caráter reconhecíveis.
É possível até ser um bom conjunto sem isso; mas não é possível ser
uma grande orquestra. A Osesp
avança rápido a caminho de si e é
um privilégio poder assistir a isso,
na música e para além dela.
Ninguém teria imaginado que
se pudesse escutar uma interpretação como a de sábado de "Till
Eulenspiegels lustige Streiche", de
Richard Strauss. Humores fáceis e
amores difíceis se alternam com
uma vivacidade estonteante. A
Osesp tocou um Strauss de referência. Destaque especial para
trompas e sopros; parabéns para
metais. Minczuk brilhando.
As palmas para as cordas podem-se guardar para o concerto
de quinta. Para o adágio da "Sinfonia nº 6", de Dvorak, quando o
som próprio do naipe já aparecia
para todo mundo ouvir. É um
som de outono, mas com bastante
luz; na fronteira do sentimento
aberto, "paulistanamente" atrevido e precavido. Nada paulistano é
o som de Antonio Meneses, que
faz tanta música, e tão bonita, que
a gente só pode entregar os pontos: a linguagem nem chega perto
de lá. É verdade que a "Fantasia",
de Villa-Lobos, é uma obra menos de inspiração do que de ambição trabalhada. E Villa-Lobos,
quando não tem a grandeza da espontaneidade, fica muito diminuído. Mas a "Fantasia" não poderia ter sido melhor tocada, por
um músico que se esforçou para
tornar a música melhor do que é.
Meneses retribuiu o carinho da
platéia tocando uma giga e uma
sarabanda de Bach. O violoncelo
encheu de música a sala. Nessas
horas, todo mundo fica pequeno,
na sombra universal da música.
Até Antonio Meneses, que é grande o bastante para ter essa modéstia transcendental.
Ninguém é maior do que a música. Mas há certos momentos em
que os músicos chegam a ter a estatura do que estão tocando. A
maior bênção é que a gente cresce
junto com eles e carrega depois a
memória da música, amuleto forte contra a truculência dos dias.
Concerto: Osesp e Antonio Meneses
(dia 6/5)
(dia 11/5)
Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, região central, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3337-5414)
Quanto: R$ 10 a R$ 30 (R$ 5 a R$ 15 para estudantes)
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