São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Grafiteiro anônimo é hype da arte britânica

Pintura de Banksy alcançou US$ 576 mil; painel destruído valia US$ 600 mil

Artista guerrilheiro esconde identidade da mídia; suas obras são colecionadas por celebridades de Hollywood, como o casal Jolie-Pitt

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco se sabe sobre o novo queridinho da arte britânica: ele atende por Banksy e começou a carreira grafitando muros e trens nos arredores de Bristol, em 1993. No mais, faltam dados biográficos básicos, como o ano de nascimento (1974 ou 1978), nome completo (especula-se que seja Robert Banks), a cidade natal e a de residência. Seu rosto é desconhecido, mas seu trabalho faz parte do dia-a-dia dos ingleses.
Um painel do artista, paródia de uma cena do filme "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino, foi apagado por funcionários do metrô de Londres no mês passado. Vizinhos e fãs se revoltaram contra a atitude.
O metrô rebateu: o grafite dava uma atmosfera de abandono e decadência ao local, ao lado da estação Old Street, na região central da cidade.
A obra, que mostrava Samuel L. Jackson e John Travolta empunhando bananas no lugar de armas, estava avaliada em US$ 600 mil (R$ 1,2 milhão).
Não foi a primeira nem será a última obra assinada por ele que desaparece. Os grafites feitos em 2005 no muro que separa Israel da Cisjordânia não existem mais. Os desenhos misturam paisagens idílicas e idéias de liberdade e fuga, como janelas, escadas e balões de gás.

Celebridades
Fora das ruas, o artista faz fama em Hollywood. Uma exposição dele organizada em Los Angeles atraiu compradores como o casal Angelina Jolie e Brad Pitt. Eles levaram um Banksy original por cerca de US$ 500 mil (R$ 1 milhão).
O valor é próximo ao seu recorde de preço, US$ 576 mil (R$ 1,17 milhão), alcançado há duas semanas em um leilão, com a pintura "Space Girl and Bird". Cifras muito altas para um artista jovem e que se mantém no anonimato.
Para comparação: em 1997, ano da exposição "Sensation", que lançou toda uma nova geração britânica ao estrelado, uma tela do expoente Damien Hirst foi vendida por US$ 53 mil (R$ 107 mil). Outro exemplo: uma pintura do consagrado ex-grafiteiro americano Jean-Michel Basquiat (1960-88) foi negociada por US$ 315 mil, em fevereiro deste ano.
Apesar do sucesso comercial, Banksy tenta se distanciar da imagem de artista em ascensão e ironiza os seus compradores.
No começo deste ano, quando a pintura "Bombing Middle England" foi arrematada na Sotheby's por US$ 202 mil (R$ 409 mil), ele postou em seu site (www.banksy.co.uk) um desenho com os dizeres: "Não posso acreditar que esses idiotas compraram esta merda".
O desenho virou uma série de pôsteres vendidos no site Pictures on Walls (www.pic
turesonwalls.com), com preços entre 250 libras (R$ 1.000) e 650 libras (R$ 2.600), já esgotada. (O único pôster disponível do artista é "Soup Can", uma referência explícita a Andy Warhol, uma pilha de latas de sopa da marca do supermercado Tesco. Custa 10 libras, R$ 40.)
"O dinheiro que meu trabalho faz hoje me deixa um pouco desconfortável, mas é um problema fácil de ser resolvido -é só parar de nhenhenhém e doar tudo. Não acho possível fazer arte sobre um mundo cheio de pobreza e depois levar todo o lucro, é uma ironia muito grande, até mesmo para mim", disse Banksy, em rara entrevista, por e-mail, para a revista "New Yorker".
A atitude rebelde é coerente com algumas de suas ações "terroristas". Em julho passado, por exemplo, ele pirateou 500 CDs de Paris Hilton. Fez novos remixes, trocou o nome das faixas e a foto da socialite pela de um cachorro. Os CDs foram colocados em prateleiras de 48 lojas do Reino Unido e vendidos como originais.
Banksy "atacou" ainda vários museus, colocando obra de sua autoria no meio do acervo, sem autorização. No Louvre, uma versão "smile face" da "Monalisa"; no MoMa, em Nova York, uma gravura com a lata de sopa Tesco (exposta durante seis dias, sem que o museu percebesse a intrusa); e no British Museum, uma pedra da era "pós-catatônica", com o desenho de um homem, um touro e um carrinho de supermercado, que permaneceu oito dias em exibição. A instituição só retirou o objeto depois de ser alertada pelo site do artista.


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