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Grafiteiro anônimo é hype da arte britânica
Pintura de Banksy alcançou US$ 576 mil; painel destruído valia US$ 600 mil
Artista guerrilheiro esconde identidade da mídia; suas obras são colecionadas por celebridades de Hollywood, como o casal Jolie-Pitt
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pouco se sabe sobre o novo
queridinho da arte britânica:
ele atende por Banksy e começou a carreira grafitando muros
e trens nos arredores de Bristol, em 1993. No mais, faltam
dados biográficos básicos, como o ano de nascimento (1974
ou 1978), nome completo (especula-se que seja Robert
Banks), a cidade natal e a de residência. Seu rosto é desconhecido, mas seu trabalho faz parte
do dia-a-dia dos ingleses.
Um painel do artista, paródia
de uma cena do filme "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino, foi
apagado por funcionários do
metrô de Londres no mês passado. Vizinhos e fãs se revoltaram contra a atitude.
O metrô rebateu: o grafite dava uma atmosfera de abandono
e decadência ao local, ao lado da
estação Old Street, na região
central da cidade.
A obra, que mostrava Samuel
L. Jackson e John Travolta empunhando bananas no lugar de
armas, estava avaliada em US$
600 mil (R$ 1,2 milhão).
Não foi a primeira nem será a
última obra assinada por ele
que desaparece. Os grafites feitos em 2005 no muro que separa Israel da Cisjordânia não
existem mais. Os desenhos
misturam paisagens idílicas e
idéias de liberdade e fuga, como
janelas, escadas e balões de gás.
Celebridades
Fora das ruas, o artista faz fama em Hollywood. Uma exposição dele organizada em Los
Angeles atraiu compradores
como o casal Angelina Jolie e
Brad Pitt. Eles levaram um
Banksy original por cerca de
US$ 500 mil (R$ 1 milhão).
O valor é próximo ao seu recorde de preço, US$ 576 mil
(R$ 1,17 milhão), alcançado há
duas semanas em um leilão,
com a pintura "Space Girl and
Bird". Cifras muito altas para
um artista jovem e que se mantém no anonimato.
Para comparação: em 1997,
ano da exposição "Sensation",
que lançou toda uma nova geração britânica ao estrelado,
uma tela do expoente Damien
Hirst foi vendida por US$ 53
mil (R$ 107 mil). Outro exemplo: uma pintura do consagrado ex-grafiteiro americano
Jean-Michel Basquiat (1960-88) foi negociada por US$ 315
mil, em fevereiro deste ano.
Apesar do sucesso comercial,
Banksy tenta se distanciar da
imagem de artista em ascensão
e ironiza os seus compradores.
No começo deste ano, quando a pintura "Bombing Middle
England" foi arrematada na Sotheby's por US$ 202 mil (R$
409 mil), ele postou em seu site
(www.banksy.co.uk) um desenho com os dizeres: "Não
posso acreditar que esses idiotas compraram esta merda".
O desenho virou uma série
de pôsteres vendidos no site
Pictures on Walls (www.pic
turesonwalls.com), com preços entre 250 libras (R$ 1.000)
e 650 libras (R$ 2.600), já esgotada. (O único pôster disponível do artista é "Soup Can",
uma referência explícita a
Andy Warhol, uma pilha de latas de sopa da marca do supermercado Tesco. Custa 10 libras,
R$ 40.)
"O dinheiro que meu trabalho faz hoje me deixa um pouco
desconfortável, mas é um problema fácil de ser resolvido -é
só parar de nhenhenhém e
doar tudo. Não acho possível
fazer arte sobre um mundo
cheio de pobreza e depois levar
todo o lucro, é uma ironia muito grande, até mesmo para
mim", disse Banksy, em rara
entrevista, por e-mail, para a
revista "New Yorker".
A atitude rebelde é coerente
com algumas de suas ações
"terroristas". Em julho passado, por exemplo, ele pirateou
500 CDs de Paris Hilton. Fez
novos remixes, trocou o nome
das faixas e a foto da socialite
pela de um cachorro. Os CDs
foram colocados em prateleiras de 48 lojas do Reino Unido
e vendidos como originais.
Banksy "atacou" ainda vários
museus, colocando obra de sua
autoria no meio do acervo, sem
autorização. No Louvre, uma
versão "smile face" da "Monalisa"; no MoMa, em Nova York,
uma gravura com a lata de sopa
Tesco (exposta durante seis
dias, sem que o museu percebesse a intrusa); e no British
Museum, uma pedra da era
"pós-catatônica", com o desenho de um homem, um touro e
um carrinho de supermercado,
que permaneceu oito dias em
exibição. A instituição só retirou o objeto depois de ser alertada pelo site do artista.
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