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Cannes usa grandes nomes para ofuscar crise
Diretores de prestígio são escalados para minimizar impacto da retração no cinema
Do veterano Alain Resnais ao jovem Brillante Mendoza, seleção oficial é dominada por cineastas que já disputaram a Palma de Ouro
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao anunciar os longas selecionados para a corrida pela
Palma de Ouro no 62º Festival
de Cannes, o diretor-geral
Thierry Frémaux afirmou:
"Vão dizer que é um festival de
habitués, mas não é isso".
É mais do que isso. Além de
serem frequentes em Cannes,
muitos dos cineastas que competem neste ano estão entre os
mais prestigiados do mundo e
têm filmes aguardados por cinéfilos de todos os quadrantes.
A disputa entre os 20 títulos
escolhidos (entre 1.670 inscritos) começa amanhã, mas o
evento tem abertura hoje, com
a exibição fora de concurso da
animação em 3D "Up -°Altas
Aventuras", da Pixar.
Entre os diretores que competirão neste ano no Palácio
dos Festivais, Pedro Almodóvar apresenta seu novo tratado
sobre o amor, o ciúme e a arte
("Los Abrazos Rotos"); Ang Lee
esquadrinha os ideais libertários dos anos 60, recriando o
festival de Woodstock ("Taking
Woodstock"); e Lars von Trier
testa seu poder de fogo num filme de terror ("Anticristo").
Alain Resnais mostra sua nova obra no mesmo ano em que
comemora o cinquentenário de
"Hiroshima Meu Amor", que
concorreu à Palma de Ouro em
1959, antes de virar um clássico
absoluto. Tsai Ming-liang dá ao
ator Jean-Pierre Léaud -imortalizado por François Truffaut
em "Os Incompreendidos", outro concorrente de 1959- o papel de Herodes em "Visage", sobre um cineasta taiwanês que
tenta filmar uma adaptação de
"Salomé" no Louvre.
"Inglourious Basterds", de
Quentin Tarantino, tem Brad
Pitt como líder de um grupo de
soldados judeus americanos
em busca de vingança contra os
oficiais do Terceiro Reich.
A Primeira Guerra é o pano
de fundo de Michael Haneke
em "The White Ribbon", cuja
trama transcorre numa cidade
alemã, naquele período.
Todos esses diretores e os demais -Jane Campion, Elia Suleiman, Ken Loach, Gaspar
Noé, Marco Bellocchio, Park
Chan-Wook, Andrea Arnold,
Johnnie To, Lou Ye, Xavier
Giannoli, Jacques Audiard, exceto Isabel Coixet, que faz sua
estreia na disputa- já competiram pela Palma de Ouro. Alguns, com vitória.
Cinema contra a crise
A novidade está em serem escalados num só time, o que cerca a disputa de curiosidade e da
expectativa de que seja arrepiante. Com essa estratégia, a
direção do festival pretende
que os cineastas e as suas obras
suplantem as atenções voltadas
à crise financeira mundial e seu
impacto na produção de cinema, sendo o mais imediato uma
retração de investimentos nos
filmes de perfil autoral -precisamente os que o Festival de
Cannes valoriza.
Com tantos pesos-pesados
reunidos, não sobrou lugar para nenhum diretor estreante
nem para representantes da
América Latina na briga pela
Palma de Ouro deste ano.
O filipino Brillante Mendoza
participa da competição pelo
segundo ano consecutivo. Em
2008, dividiu opiniões com
"Serbis", painel humano com
fortes tintas sexuais ambientado num cinema decadente no
interior do país. Desta vez, ele
apresenta o policial "Kinatay",
rodado em Manila.
Para Thierry Frémaux, a presença de Mendoza na disputa
expressa o lugar que as Filipinas ocupam hoje de liderança
na renovação do cinema.
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