São Paulo, quarta-feira, 13 de maio de 2009

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Cannes usa grandes nomes para ofuscar crise

Diretores de prestígio são escalados para minimizar impacto da retração no cinema

Do veterano Alain Resnais ao jovem Brillante Mendoza, seleção oficial é dominada por cineastas que já disputaram a Palma de Ouro

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao anunciar os longas selecionados para a corrida pela Palma de Ouro no 62º Festival de Cannes, o diretor-geral Thierry Frémaux afirmou: "Vão dizer que é um festival de habitués, mas não é isso".
É mais do que isso. Além de serem frequentes em Cannes, muitos dos cineastas que competem neste ano estão entre os mais prestigiados do mundo e têm filmes aguardados por cinéfilos de todos os quadrantes.
A disputa entre os 20 títulos escolhidos (entre 1.670 inscritos) começa amanhã, mas o evento tem abertura hoje, com a exibição fora de concurso da animação em 3D "Up -°Altas Aventuras", da Pixar.
Entre os diretores que competirão neste ano no Palácio dos Festivais, Pedro Almodóvar apresenta seu novo tratado sobre o amor, o ciúme e a arte ("Los Abrazos Rotos"); Ang Lee esquadrinha os ideais libertários dos anos 60, recriando o festival de Woodstock ("Taking Woodstock"); e Lars von Trier testa seu poder de fogo num filme de terror ("Anticristo").
Alain Resnais mostra sua nova obra no mesmo ano em que comemora o cinquentenário de "Hiroshima Meu Amor", que concorreu à Palma de Ouro em 1959, antes de virar um clássico absoluto. Tsai Ming-liang dá ao ator Jean-Pierre Léaud -imortalizado por François Truffaut em "Os Incompreendidos", outro concorrente de 1959- o papel de Herodes em "Visage", sobre um cineasta taiwanês que tenta filmar uma adaptação de "Salomé" no Louvre.
"Inglourious Basterds", de Quentin Tarantino, tem Brad Pitt como líder de um grupo de soldados judeus americanos em busca de vingança contra os oficiais do Terceiro Reich.
A Primeira Guerra é o pano de fundo de Michael Haneke em "The White Ribbon", cuja trama transcorre numa cidade alemã, naquele período.
Todos esses diretores e os demais -Jane Campion, Elia Suleiman, Ken Loach, Gaspar Noé, Marco Bellocchio, Park Chan-Wook, Andrea Arnold, Johnnie To, Lou Ye, Xavier Giannoli, Jacques Audiard, exceto Isabel Coixet, que faz sua estreia na disputa- já competiram pela Palma de Ouro. Alguns, com vitória.

Cinema contra a crise
A novidade está em serem escalados num só time, o que cerca a disputa de curiosidade e da expectativa de que seja arrepiante. Com essa estratégia, a direção do festival pretende que os cineastas e as suas obras suplantem as atenções voltadas à crise financeira mundial e seu impacto na produção de cinema, sendo o mais imediato uma retração de investimentos nos filmes de perfil autoral -precisamente os que o Festival de Cannes valoriza.
Com tantos pesos-pesados reunidos, não sobrou lugar para nenhum diretor estreante nem para representantes da América Latina na briga pela Palma de Ouro deste ano.
O filipino Brillante Mendoza participa da competição pelo segundo ano consecutivo. Em 2008, dividiu opiniões com "Serbis", painel humano com fortes tintas sexuais ambientado num cinema decadente no interior do país. Desta vez, ele apresenta o policial "Kinatay", rodado em Manila.
Para Thierry Frémaux, a presença de Mendoza na disputa expressa o lugar que as Filipinas ocupam hoje de liderança na renovação do cinema.


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