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entrevista
Diretor diz que lamenta falta de longa nacional
DA REPORTAGEM LOCAL
Olivier Père, diretor da
Quinzena dos Realizadores, seção paralela do Festival de Cannes cuja meta
é revelar nomes que entrarão para a história do cinema, esteve no Brasil à procura de novos talentos. Ele
conta a seguir por que não
há longas nacionais na edição que começa amanhã,
com "Tetro", de Francis
Ford Coppola.
(SA)
FOLHA - O sr. veio ao Brasil,
mas não escolheu longas daqui. O que o decepcionou?
OLIVIER PÈRE - Vi muitos filmes enquanto estive aí.
Todos tinham qualidade e
criatividade, mas nenhum
foi consenso entre o comitê de seleção, que os achou
muito frágeis ou inadequados a Cannes. É algo
que lamento, porque vejo
o Brasil como um país do
futuro no cinema e queria
consolidar isso selecionando um longa. Mas teremos "Superbarroco", um
dos mais belos curtas que
vi neste ano. Talvez eu
buscasse nos longas algo
assim, mais artístico.
FOLHA - Coppola disse que
"Tetro" é o seu retorno às origens. O sr., que viu o filme, pode dizer em que sentido?
PÈRE - É, sem dúvida, o filme mais pessoal de Coppola. Ele pensou de forma
livre e fala de maneira extremamente pessoal sobre
seu tema de sempre -a relação com o pai. Ao mesmo
tempo, é um cineasta que
concilia criação cinematográfica e uma história forte. Faz sentido a presença
dele na Quinzena porque
ele sempre lutou pela independência, criou seu estúdio e alcançou a liberdade de fazer esse filme com
seu próprio dinheiro.
FOLHA - Mas Coppola diz que
sua liberdade cinematográfica
vem do fato de ter se tornado
rico com a produção vinícola.
PÈRE - É fato que a noção
de liberdade dele passa pelo dinheiro, mas ele vê o cinema como uma forma de
guerrilha, de resistência.
Hoje, alguns conseguem
resultados iguais com menos dinheiro. Há também
uma questão geracional.
FOLHA - A direção do festival
ofereceu a "Tetro" uma exibição hors-concours. É indício de
que o filme é pessoal demais?
PÈRE - Não acho que "Tetro" seja inacessível. Ele é
magnífico na forma. Obviamente não é o Coppola
de "Apocalipse Now" ou
"O Poderoso Chefão". Ele
é desses cineastas, como
foi Kubrick, de quem esperamos sempre algo diferente do que estão dispostos a fazer. Mas "Tetro" é
um grande momento do
cinema. Estar fora de competição em Cannes é uma
honra que ele não quis.
Não quer ser considerado
como o grande mestre.
Com esse filme, sobretudo, preferia competir.
FOLHA - O sr. selecionou "I
Love You, Phillip Morris", que
tem o ator brasileiro Rodrigo
Santoro e Jim Carrey. O que lhe
agrada no filme?
PÈRE - É um filme original, com uma história incrível, apesar de baseada
em fatos reais, sobre esse
personagem que não para
de dar golpes e mudar de
identidade e se apaixona
por outro homem na prisão. É engraçado, ousa e
tem uma performance extraordinária dos dois atores principais, Carrey e
Ewan McGregor.
FOLHA - Há dez filmes de estreantes em longa na Quinzena. Há um traço comum? Para
que direção eles apontam?
PÈRE - Eles apontam para
o surgimento de talentos
surpreendentes, de partes
diversas. O traço comum
talvez seja a comédia e a
maior porosidade entre cinema e outras artes, como
a animação, o vídeo.
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