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63º FESTIVAL DE CANNES
Tempestades deixam Cannes em apreensão
Passadas as chuvas que prejudicaram os preparativos, competição do festival começa hoje, após noite de abertura
Diretor prevê que o frio deixe a região e lida com problemas como o cancelamento da presença do cineasta Ridley Scott
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Na tela, o cinema espetáculo
de Ridley Scott e os franceses
na pele de vilões. Na Croisette,
a avenida do Palais des Festivals, o mar que as tempestades
da última semana deixaram
cinza. No aeroporto de Nice, a
expectativa em torno do humor
com que chegarão os convidados, dada a confusão que o vulcão Eyjafjallajokull tem causado no espaço aéreo europeu.
"É um ano com muita ebulição", diz, da mesa que reserva
ao visitante um lugar com vista
para o mar, Gilles Jacob, diretor do festival. "Pelo menos as
tempestades pararam e parece
que o frio vai partir", prevê ele,
que se orgulha de, na véspera
da abertura do maior festival de
cinema do mundo, manter-se,
na aparência, calmo.
"É uma calma exterior", sorri Jacob. "Mas a quantidade de problemas que terei de resolver
nos próximos dias não vai ser pequena."
O primeiro deles surgiu já na
abertura. Ridley Scott, sob a
alegação de estar se recuperando de uma cirurgia, não veio para a apresentação de "Robin
Hood". Coube aos atores Russell Crowe e Cate Blanchett fazer as honras.
Mas Jacob passou por outras
bem piores. No livro "Cidadão
Cannes", que chega esta semana às livrarias no Brasil, ele relata, por exemplo, o ano de
1981, quando, horas antes da abertura, o papa João Paulo 2º ter levado um tiro e o futuro ministro da Cultura do recém-eleito presidente François Miterrand ter decidido comparecer à cerimônia. Entre cancelar a sessão em nome do papa ou
arrumar mais um assento VIP,
ficou com a segunda opção.
Dois anos antes, o sufoco
também tinha sido grande, com
a escolha de "Apocalipse Now"
para a abertura. "Era preciso
aceitar as chamadas dia e noite,
chantagens, ameaças de cancelamento à menor contrariedade", conta o diretor que, após
anos em silêncio, decidiu abrir
um pouco as cortinas da cena
cinematográfica e mostrar que
as tempestades, tanto quanto o
glamour, são parte do festival.
FOLHA ONLINE
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Festival de Cannes
www.folha.com.br/101304
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