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DA RUA
Quentinho escuro
FERNANDO BONASSI
Eu sei muito bem que a geladeira está fedendo, as toalhas estão duras, os tapetes,
crocantes e a companhia de
água não é a minha mãe.
Tem ainda aqueles telefonemas inadiáveis para dar, além
de abrir a maldita caixa de
correspondência e responder
com um "prezado" tabulado
no começo e um "atenciosamente" centralizado no final,
avisando as pessoas que, claro, tudo foi um mal-entendido e desculpar-me muito.
Eu sei de tudo isso mas, por
enquanto e de verdade, quero
apenas saber se um desgraçado não pode simplesmente ficar no escurinho quente debaixo das suas cobertas, bebendo leite quente, balbuciando preces incompreensíveis e tentando dormir sem
parar.
Pode... não pode?
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