São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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O jovem Bond

Chega ao Brasil a série com aventuras do espião de Ian Fleming na adolescência

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2008, ano do centenário do escritor Ian Fleming, uma nova aventura de James Bond, seu célebre personagem, chegará às estantes. Quem assinará a primeira história inédita em três anos (até 2003 foram publicadas continuações autorizadas pelo espólio de Fleming) ainda é um mistério: "Os detalhes são estritamente confidenciais; se revelássemos, teríamos que matá-lo", "ameaça" a reportagem uma porta-voz da Ian Fleming Publications.
A editora, que pertence aos herdeiros de Fleming, começou a comemorar o seu centenário já no ano passado, com o lançamento de "prequels", as primeiras aventuras de Bond, aos 13, nos anos 30. "O objetivo é recuperar a imagem de Bond como personagem literário, e não apenas de filmes", explica à Folha o escritor inglês Charlie Higson, 48, autor de "Missão Silverfin", o primeiro livro de uma série de cinco, que já está nas livrarias brasileiras.
Fã das missões de Bond, inicialmente com os filmes nos anos 60, e só depois com os livros, Higson conta que foi escolhido para o projeto por conta do estilo "seco" que imprimiu aos seus próprios romances policiais, para adultos, lançados no início dos anos 90. "Queriam histórias bem masculinas, adultas e sombrias, porque as de Fleming também eram assim", diz o escritor.
Adulto, mas nem tanto. Ainda que mire fãs maduros de 007, Higson teve que levar em conta seu público alvo, o infanto-juvenil. "Se você pensa nas coisas pelas quais Bond é famoso, como fumar muito, beber ainda mais, fazer sexo com várias mulheres, dirigir carros velozes e matar pessoas, sabe que não pode colocá-las no personagem na adolescência. Mas obviamente se trata de James Bond, e tentei manter o máximo de suas características. Então, temos ação, bondgirls etc."
Higson tirou de "Com 007 Só se Vive Duas Vezes", de 1964, as poucas pistas autobiográficas deixadas por Fleming: aos 11 anos, o personagem perde seus pais num acidente, é criado por uma tia e enviado à aristocrática escola Eton. O resto é novo.
O Bond de Higson é um garoto que, apesar de fazer amigos facilmente, é solitário, mais interessado nos esportes do que nos estudos. O futuro do personagem pouco aparece no passado, diz Higson. Não há "piadas internas", como um jovem "Q" ou uma jovem "Moneypenny", ou um garoto careca com uma cicatriz, na escola. "Queria fugir da idéia de um vilão com deformidades. Então, criei um incrivelmente bonito e perfeito."
O belo vilão de Higson é George, aluno mais velho de Eton, um escocês "americanizado". Seu pai, Lorde Hellebore, é um traficante de armas que conduz experimentos genéticos sinistros: uma forma de esteróides para criar supersoldados. Hellebore quer experimentar a droga em crianças.
"Escolhi o experimento esperando ter uma ressonância nas crianças em relação ao uso de drogas nos esportes", conta o autor, que parou por aí com as referências à realidade. "Acho que muitas crianças não querem ser lembradas do que acontece no mundo real, preferem algo escapista. Harry Potter funciona num universo alternativo e, de certo modo, o jovem Bond, nos anos 30, também. É quase um reino fantástico."


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