São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

CASO VARIG

Filipe Redondo/Folha Imagem
A advogada Valeska Teixeira, que emagreceu 20 kg nos últimos meses, defende a legalidade da operação da Varig

"Lula não tem tempo para fofocas"

Acusada pela ex-diretora da Anac, Denise Abreu, de ser "truculenta" e de usar o nome do presidente Lula para defender os interesses do fundo americano Matlin Patterson na compra da Varig, a advogada Valeska Teixeira, filha do compadre de Lula, Roberto Teixeira, fala pela primeira vez sobre o caso. Vinte quilos mais magra depois de um regime radical, ela defende a legalidade da operação, na qual trabalhou junto com o pai, e afirma nunca ter usado o nome de Lula. Diz que suas conversas com a ex-diretora da Anac sempre foram "amenas" e que até chegou a elogiar "a bolsa Louis Vuitton" que Denise teria usado em um dos encontros que tiveram.

 

FOLHA - A Denise Abreu declarou no Senado que o comportamento do escritório de vocês foi imoral.
VALESKA TEIXEIRA -
Por tudo o que eu já li sobre ela, a Denise Abreu não tem reputação para julgar o que é moral e imoral.

FOLHA - Por quê?
VALESKA -
Pergunte para a família das vítimas do acidente da Gol. Pergunte para a desembargadora para quem ela mentiu [em 2007, Denise Abreu foi acusada de apresentar documento sem validade legal à desembargadora Cecília Marcondes atestando a "absoluta segurança na operação do aeroporto de Congonhas"]. O fato de ela ter caído [da Anac] por ter mentido já diz muita coisa, né? Ela mentiu perante a desembargadora. Ela mentiu no Congresso Nacional.

FOLHA - Ela diz que você agia de forma truculenta na Anac.
VALESKA -
Imagina! De jeito nenhum. Tive uns três contatos com ela. Foram, inclusive, conversas muito amenas. Na primeira vez, eu a procurei porque, no nosso entendimento, a venda da VarigLog [para o fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros para quem Valeska e o pai advogavam] já estava aprovada pelo antigo DAC. E esse processo não poderia ser reaberto, como ela queria fazer. Ela estava numa reunião. Falou que depois me receberia. Não me recebeu. Eu deixei os pareceres jurídicos que defendiam nossa tese com outra pessoa. E ficou nisso.

FOLHA - E os outros encontros?
VALESKA -
Numa outra vez, depois de muitos e muitos meses, eu estava na Anac, com outros advogados, e a Denise Abreu me chamou. Eu até achei estranho: ela começou a se abrir comigo. Disse: "Ai, eu fico muito chateada com os ataques que a imprensa faz à minha pessoa por conta da minha relação com o ex-ministro José Dirceu." Eu me solidarizei com ela, obviamente. E ofereci um modelo de petição, a minuta de uma ação que nós temos contra esse mesmo jornalista, que nos atacava também.

FOLHA - Que jornalista?
VALESKA -
Prefiro omitir o nome. O fato é que nós oferecemos a petição e ela adorou muito. A Denise Abreu falou também que tinha muita mágoa do presidente Lula. Ela disse: "A maior mágoa da minha vida é o presidente Lula nunca ter me recebido". Eu falei: "Olha, eu não posso te ajudar. É um momento atribuladíssimo do país, época de campanha eleitoral [em 2006], não posso te ajudar nesse sentido." E elogiei muito a bolsa Louis Vuitton dela. Ela tinha acabado de chegar de uma viagem particular à Europa. Elogiei a bolsa e o relógio, que era bem chamativo.

FOLHA - Denise Abreu diz que você usava o nome do presidente Lula, que é compadre do seu pai, para pressionar a favor de seus clientes.
VALESKA -
Tenho muito orgulho de nosso relacionamento pessoal, mas nunca usei o nome de Lula. Se, em vez de me apresentar como advogada, eu me apresentasse como afilhada do Lula, estaria me diminuindo. Eu sou advogada antes de qualquer coisa. E advogo bem.

FOLHA - Vocês têm relação próxima com o presidente Lula, familiar. Nunca tiveram oportunidade de reclamar com ele da Denise?
VALESKA -
Eu cresci com ele. Só que Lula é o presidente do país. Se alguém imagina que Lula tem tempo para ouvir fofoca, "tá" muito equivocado. E estávamos em 2006. Era uma época atribulada, o presidente Lula estava em plena campanha da reeleição. Nós reclamamos dela, sim, mas pelas vias legítimas. Fizemos uma representação contra a Denise no Ministério da Defesa e entramos com mandado de segurança na Justiça Federal de Brasília.

FOLHA - De que reclamavam?
VALESKA -
O processo [de compra da VarigLog pelo fundo Matlin Patterson e pelos sócios brasileiros] já estava finalizado pelo antigo DAC, com todos os pareceres das áreas técnicas aprovando a operação. Quando meu cliente fez a proposta para a compra da Varig [a VarigLog adquiriu a empresa e depois vendeu para a Gol], a Denise Abreu resolveu reabrir o processo. Os pareceres favoráveis à operação sumiram do processo administrativo. E apareceram outros, inconclusivos.

FOLHA - Ela diz outra coisa: que pareceres contrários aos interesses de seus clientes foram modificados depois de pressão feita pela ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.
VALESKA -
Será que não foi o contrário? Os pareceres favoráveis somem e aparecem novos, contra a operação. Depois, apresentamos todos os documentos solicitados num ofício dela [Denise Abreu]. E aí concluíram novamente pela aprovação. Esses são os fatos.

FOLHA - Documentos mostram que o fundo americano Matlin Patterson emprestou dinheiro para os sócios brasileiros entrarem na empresa. Ou seja, o dinheiro não era deles, o que burlaria a legislação, que exige que 80% do capital de empresa aérea seja nacional.
VALESKA -
Eles [sócios brasileiros] fizeram empréstimo pessoal no banco JP Morgan para subscrever as ações da Volo Brasil [que adquiriu a Varig- Log]. O fundo Matlin Patterson emprestou dinheiro para a empresa investir.

FOLHA - Reclamaram de Denise Abreu com a ministra Dilma?
VALESKA -
Não. Não.

FOLHA - E por que a ministra Dilma interferiu no processo?
VALESKA -
Eu duvido que tenha acontecido isso. A minha percepção das coisas, o que eu vivi lá, foi o seguinte: nós ficávamos em sala de espera, junto com outros advogados. E tudo, tudo foi feito nos autos do processo de recuperação judicial da Varig, que corria na 1ª Vara Empersarial do Rio de Janeiro. Se não fosse a Denise Abreu, a Varig hoje seria a terceira maior companhia do país. A demora do processo prejudicou muito a empresa. Falar que o processo foi recorde... A Anac prometeu fazer a homologação [para funcionamento da VarigLog] em um mês. Demorou seis. A empresa não conseguia fazer leasing de avião, não conseguia crédito.

FOLHA - Denise diz que foi acusada de trabalhar para a TAM quando apenas zelava pela lisura da operação e que inclusive foi impedida de pedir o imposto de renda dos sócios para comprovar que eles tinham como comprar a VarigLog. Vocês fizeram essa acusação?
VALESKA -
Não. A única coisa que eu sei, que eu vi, que eu vivi, era o esforço que ela fazia para que a Varig não sobrevivesse. É a única coisa que posso relatar, por ter vivido.

"Ela [Denise Abreu] tinha acabado de chegar de uma viagem particular à Europa. Elogiei a bolsa Louis Vuitton e o relógio, que era bem chamativo"

PORTA DA RUA
O deputado Paulo Maluf (PP-SP) está tentando seduzir o PHS (Partido Humanista da Solidariedade) para uma aliança na eleição municipal. E já chegou a conversar com a ex-deputada Zulaiê Cobra Ribeiro. "Tenho com ela uma amizade política muito antiga", diz. Já Zulaiê pretende sair do partido, ao qual se filiou em agosto do ano passado com a promessa de ser lançada candidata à Prefeitura de SP. "Fui traída. E não vou ficar num partido que apóie o Maluf", diz.

MÃO NO BOLSO
Maluf está em fase de contratação de publicitário para a campanha. Ele tem conversado com Duda Mendonça. Afinal, diz, "ele fez fama dizendo que elegeu até o Paulo Maluf". O ex-prefeito, no entanto, afirma que não pretende assumir compromissos financeiros muito significativos. "Não vou colocar mais dinheiro do meu próprio bolso. Já fiz um mal desgraçado com a Eucatex, que cobriu contas de campanhas minhas no passado."

NA LINHA
O promotor Arnaldo Hossepian Junior convocou o ex-presidente do Metrô, Luiz Carlos David, para depor na investigação criminal sobre a cratera na obra da linha 4, que deixou sete mortos em janeiro de 2007. Será questionado sobre como a empresa estatal fiscalizava a construção, realizada por um consórcio de empreiteiras.

LEILÃO
Um paparazzo procurou ontem a imprensa de celebridades tentando vender uma foto que seria de Ronaldo e de uma morena com quem o craque teria passado a noite de terça no hotel Fasano. Na foto, ele aparece dormindo, e ela de roupa, tirando a foto com um celular. O fotógrafo, que diz negociar pela moça, pede R$ 10 mil pelo direito de publicação. A assessoria de Ronaldo afirma desconhecer a imagem.

CONJUNTO DA OBRA
O Masp calculou que seus cofres vão arrecadar cerca de R$ 10 milhões até o ano que vem. O museu conseguiu patrocínio do grupo Camargo Corrêa e renovou com a Mercedes-Benz até 2010. O valor de empréstimos de obras também entram no cálculo.

"B" COM ORGULHO
O estilista Reinaldo Lourenço "declarou guerra" contra a primeira fileira dos desfiles da SP Fashion Week, alvo da cobiça dos convidados e fonte de dor de cabeça para os organizadores. "É muita vaidade, todo mundo quer sentar na fila A", diz ele, que assistirá às coleções da mulher, Gloria Coelho, e do filho Pedro Lourenço na fila B.

 

"Qual o problema de sentar na segunda fileira? Não afeta em nada nem diminui meu talento. Você continua nobre", completa.

ALUNO NOTA 10
Pupilo de Picasso, o artista espanhol Manuel Ángeles Ortiz será um dos destaques da exposição "Desenhos Espanhóis do Século XX - Coleção Fundação Mapfre", que será aberta hoje, no Masp. Autor da obra "Desnudo", ele recebeu nota máxima do mestre por ter unido com perfeição as linguagens cubista e neoclássica, ainda no início dos anos 20.

CHURRASCO COM VISTA
Já está pronto o projeto assinado pelo arquiteto Isay Weinfeld para a filial do restaurante Rodeio, no shopping Iguatemi. A casa, que ficará no oitavo andar no prédio que está sendo construído no estacionamento descoberto, terá vista panorâmica para o clube Pinheiros, ambientes separados por desníveis no piso - como na unidade dos Jardins - e um bar no térreo, com elevador exclusivo para os clientes. A idéia é repaginar a churrascaria sem perder suas características acolhedoras. "Será mais ou menos o que fiz com o Fasano", garante Weinfeld.

CURTO-CIRCUITO

SÉRGIO AMARAL faz palestra hoje sobre geração de empregos, para empresários do Vale do Paraíba, em Cruzeiro (SP).
O CLUBE A Hebraica promove, no domingo, recital da pianista Yoko Tokue. Na terça, haverá concerto do Quarteto de Cordas da Orquestra Filarmônica de Israel. Livre.
A ATRIZ CLARICE NISKIER lê trechos do romance "Judite no País do Futuro", de Adriana Armony, amanhã, às 12h, na Livraria da Vila da Casa do Saber. Para maiores de 16 anos.

com JULIANA BIANCHI, DIÓGENES CAMPANHA E DÉBORA BERGAMASCO

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