São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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JORGE ZAHAR
"O Brasil perdeu seu único editor"

da Reportagem Local

Leia a seguir depoimentos de editores, escritores e estudiosos sobre Jorge Zahar, que morreu ontem, no Rio de Janeiro.

Luís Schwarcz, editor da Companhia das Letras - "O Brasil perdeu seu maior editor. Ou melhor, o Brasil perdeu seu único editor. Nós que restamos somos meros comerciantes. Jorge Zahar era o nosso ideal, o exemplo de dignidade que a profissão sempre teve. Será que terá depois dele? Minha esperança são Cristina, Jorginho e Aninha, seus filhos, e Mariana e Clarisse, suas netas. Eles nasceram vendo-o fazer livros eruditos com o mesmo carinho que destinava aos homens mais simples. Viram Jorge amar a nobreza das idéias e a singeleza dos pobres. Viram-no cumprimentar o ascensorista dando-lhe a mesma importância que dava a um autor badalado. Viram-no ensinar a gerações de editores sua profissão e abrir as portas para que nós entrássemos e mobiliássemos a casa. Viram no dia-a-dia o exemplo de um homem generoso como só ele, pessimista no discurso, mas otimista na sua atuação. Eles ouviram as gargalhadas que Jorge deu ao contar a última piada que ouvira a todos os enfermeiros, serventes e médicos que o levaram à mesa de operação, de onde saiu sem vida, mas com um sorriso inesquecível."

Pedro Paulo de Sena Madureira, editor da Siciliano - "No mundo editorial, é como se fosse meu pai. Tenho duas grandes figuras editoriais que me influenciaram, Antonio Houaiss e Jorge Zahar. Não só aprendi praticamente tudo que sei convivendo com ele como foi também um amigo nas horas mais difíceis que passei. Do ponto de vista das ciências humanas, é o maior editor brasileiro. Houve três editores importantes no Brasil: José Olympio, na literatura brasileira, Jorge Zahar, nas ciências políticas e humanas, e Ênio Silveira, na Civilização Brasileira."

Jacó Guinsburg, editor, fundador da Perspectiva - "Foi dos mais renovadores editores brasileiros dos últimos 50 anos. Destacou-se pela qualidade da apresentação das edições e pela qualidade das obras escolhidas, no campo da sociologia, da antropologia, da história, da filosofia. Nos anos 60 e 70, seu papel, junto com o de Ênio Silveira (Civilização Brasileira) e do Jean-Paul Monteil (Difel), foi revolucionário, redefinindo o processo editorial. Para quem o acompanhou de longe, como eu, sua atividade foi sempre objeto de uma admiração crescente."

Sérgio Machado, editor da Record - "Estamos todos abalados, ele era para nós um mentor, um conselheiro, o último de uma geração de editores que implantaram a indústria e a defenderam nos tempos mais difíceis. Foi um exemplo de independência."

João Ubaldo Ribeiro, escritor - "É um homem de grande importância para a cultura brasileira. Quando eu era professor universitário, não podia prescindir dos títulos publicados por sua editora."
Ferreira Gullar, poeta - "Ele era uma pessoa preciosa e fraterna e um editor consciente. Editou obras importantes para a arte, a cultura e a filosofia."

Dias Gomes, dramaturgo - "Foi um editor arrojado. Em tempos de ditadura, publicou livros considerados subversivos, mas absolutamente necessários à educação. Ele se arriscou e teve um papel acima do comércio livreiro."

Cândido Mendes de Almeida, reitor da Universidade Cândido Mendes - "Sua morte nos priva de um personagem da maturidade brasileira. Ele trouxe as ciências sociais ao mercado e nunca abdicou da visão militante e generosa de uma ideologia de mudança e de um projeto brasileiro."

Helio Jaguaribe, cientista político - "Era um excelente editor, um desses homens de paixão pelo livro, uma pessoa importante na cultura brasileira, pois fazia o trabalho por paixão."



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