São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Histórias reais de transexuais aparecem no espetáculo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aurora: "Vocês usaram preservativos, espero".
Bibi: "Eu esqueci".
Aurora: "Você esqueceu. Você trepa com um marciano e se esquece de usar camisinha. Você ficou maluca?".
O diálogo acima está na peça "A Vida na Praça Roosevelt", da dramaturga alemã Dea Loher, mas não é muito diferente daquele que aconteceu na vida real com as atrizes transexuais Phedra de Córdoba, 67, e Savana Meireles, 35, em um apartamento na praça Roosevelt.
A história das duas também está em outra peça, "Transex", de Rodolfo García Vázquez, que entra em cartaz em agosto, no Espaço Satyros, com Phedra fazendo seu próprio papel. O espetáculo inicia uma trilogia da qual também faz parte "A Vida na Praça Roosevelt", que deve estrear em versão brasileira no ano que vem.
Em cartaz com a peça "Kaspar", também dos Satyros, Phedra ficou surpresa ao saber que havia servido de inspiração para a personagem Aurora.
"Fiquei muda. Parecia um sonho", diz. Depois muda o tom: "Não é sonho, é empenho. Minha meta sempre foi ser respeitada no mundo artístico, para mostrar que eu não era aquela mariquinha que as pessoas falavam em Cuba", afirma ela, que fugiu do país de Fidel aos 16 anos para trabalhar numa boate no Panamá, em noitadas memoráveis com marujos norte-americanos. "O Panamá era a glória" é o bordão de Phedra, que também acabou na peça.
"Cada personagem tem uma raiz autêntica, mas no fim é uma mistura de realidade e ficção. Nesse sentido, a Phedra "real" é com certeza um modelo excepcionalmente forte para a personagem da Aurora", afirma a dramaturga alemã Dea Loher, que conheceu Phedra por meio dos Satyros.
"Eu a achei tão divertida. A levamos a um terreiro em Santa Cecília. Ela é filha de Iemanjá", lembra Phedra.
Ao ler o texto em português levado pela Folha, Phedra se reconhece na pele de Aurora, entre lágrimas e gargalhadas: "Ela captou todas as conversas que tivemos. Que cabeça tem essa mulher".
Savana Meireles, "Bibi" entre os íntimos, morava com Phedra antes de ela conhecer a dramaturga alemã. Mas as duas acabaram se desentendendo depois que Savana, que também já trabalhou como atriz nos Satyros, "iniciou um romance com um extraterrestre". "Eu dizia que era um exu, e ela não aceitava", lembra Phedra. As duas discutiram, e Savana desapareceu por uns tempos.
Depois de incansáveis buscas pelas bocas da cidade, finalmente Savana foi encontrada e também leu o texto de Dea Loher. "Nossa, a Phedra deve ter contado tudo para ela. Algumas coisas são exageradas, afinal é uma ficção, mas os diálogos estão iguais", afirma Savana, que, segundo ela, numa noite de outubro de 2003 deu de cara com um ET pelado enquanto fazia ponto perto do Jockey Clube. Apaixonou-se no ato.
"Os ETs são muito bem resolvido sexualmente. Eles transam fêmea com fêmea, macho com macho... Não existe preconceito", diz Savana, que ensaia uma volta aos palcos e está escrevendo o livro "Apaixonei-me Loucamente por um Extraterrestre".
Seja exu ou ET, a raça humana ainda tem muito o que aprender com esse ser sobrenatural. (MD)


Texto Anterior: Alemães perdidos numa noite suja
Próximo Texto: Arte engajada: Mostra critica consumismo por meio de supermercado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.