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Histórias reais de transexuais aparecem no espetáculo
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Aurora: "Vocês usaram preservativos, espero".
Bibi: "Eu esqueci".
Aurora: "Você esqueceu. Você
trepa com um marciano e se esquece de usar camisinha. Você ficou maluca?".
O diálogo acima está na peça "A
Vida na Praça Roosevelt", da dramaturga alemã Dea Loher, mas
não é muito diferente daquele que
aconteceu na vida real com as
atrizes transexuais Phedra de
Córdoba, 67, e Savana Meireles,
35, em um apartamento na praça
Roosevelt.
A história das duas também está
em outra peça, "Transex", de Rodolfo García Vázquez, que entra
em cartaz em agosto, no Espaço
Satyros, com Phedra fazendo seu
próprio papel. O espetáculo inicia
uma trilogia da qual também faz
parte "A Vida na Praça Roosevelt", que deve estrear em versão
brasileira no ano que vem.
Em cartaz com a peça "Kaspar",
também dos Satyros, Phedra ficou surpresa ao saber que havia
servido de inspiração para a personagem Aurora.
"Fiquei muda. Parecia um sonho", diz. Depois muda o tom:
"Não é sonho, é empenho. Minha
meta sempre foi ser respeitada no
mundo artístico, para mostrar
que eu não era aquela mariquinha
que as pessoas falavam em Cuba",
afirma ela, que fugiu do país de Fidel aos 16 anos para trabalhar numa boate no Panamá, em noitadas memoráveis com marujos
norte-americanos. "O Panamá
era a glória" é o bordão de Phedra,
que também acabou na peça.
"Cada personagem tem uma
raiz autêntica, mas no fim é uma
mistura de realidade e ficção. Nesse sentido, a Phedra "real" é com
certeza um modelo excepcionalmente forte para a personagem da
Aurora", afirma a dramaturga
alemã Dea Loher, que conheceu
Phedra por meio dos Satyros.
"Eu a achei tão divertida. A levamos a um terreiro em Santa Cecília. Ela é filha de Iemanjá", lembra
Phedra.
Ao ler o texto em português levado pela Folha, Phedra se reconhece na pele de Aurora, entre lágrimas e gargalhadas: "Ela captou
todas as conversas que tivemos.
Que cabeça tem essa mulher".
Savana Meireles, "Bibi" entre os
íntimos, morava com Phedra antes de ela conhecer a dramaturga
alemã. Mas as duas acabaram se
desentendendo depois que Savana, que também já trabalhou como atriz nos Satyros, "iniciou um
romance com um extraterrestre".
"Eu dizia que era um exu, e ela
não aceitava", lembra Phedra. As
duas discutiram, e Savana desapareceu por uns tempos.
Depois de incansáveis buscas
pelas bocas da cidade, finalmente
Savana foi encontrada e também
leu o texto de Dea Loher. "Nossa,
a Phedra deve ter contado tudo
para ela. Algumas coisas são exageradas, afinal é uma ficção, mas
os diálogos estão iguais", afirma
Savana, que, segundo ela, numa
noite de outubro de 2003 deu de
cara com um ET pelado enquanto
fazia ponto perto do Jockey Clube. Apaixonou-se no ato.
"Os ETs são muito bem resolvido sexualmente. Eles transam fêmea com fêmea, macho com macho... Não existe preconceito", diz
Savana, que ensaia uma volta aos
palcos e está escrevendo o livro
"Apaixonei-me Loucamente por
um Extraterrestre".
Seja exu ou ET, a raça humana
ainda tem muito o que aprender
com esse ser sobrenatural.
(MD)
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