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Pressão das TVs foi "grande", diz Romão
Diretor do Dejus afirma que autoclassificação indicativa é "risco democrático" e que "sociedade deve ficar atenta"
Ele nega que a pressão das emissoras tenha motivado as mudanças na portaria de classificação indicativa, que foi editada anteontem
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia após o Ministério da
Justiça ter editado uma portaria sobre as novas regras para a
classificação indicativa, o diretor do Dejus (Departamento de
Justiça, Classificação, Títulos e
Qualificação da pasta), José
Eduardo Elias Romão, disse
ontem que foi "bastante grande" a pressão das emissoras de
televisão e que o poder de autoclassificação dado às TVs representa "risco democrático".
Segundo Romão, que esteve à
frente da formulação da portaria no ministério, a sociedade
deve ficar atenta à defesa dos
direitos de crianças e adolescentes pois "os governos são
muito mais propensos a cederem a interesses dos grandes
grupos econômicos".
"Há um equilíbrio entre liberdade de expressão e defesa
da criança e do adolescente que
está estabelecido na portaria. O
que vai nos exigir é o refinamento do controle social sobre
a atividade do ministério, e, recorrentemente, os governos
são muito mais propensos a cederem a interesses dos grandes
grupos econômicos que se oporem a eles e é necessária a vigilância da sociedade para que
nem o Estado nem as emissoras cometam abusos contra o
direito da criança", afirmou.
"Há um risco, que é o risco
democrático. Se um programa
vai ao ar hoje, com cenas de sexo explícito às 15h, nós temos
de correr esse risco para o bem
da democracia e para o bem da
manutenção desse modelo."
Anteontem, o ministro Tarso
Genro (Justiça) editou portaria
que entregou às emissoras de
TV, sem o risco de sanção do
ministério, o poder de autoclassificação indicativa de seus
programas. Uma outra portaria, editada em fevereiro e revogada anteontem, dizia que uma
"análise prévia" da grade seria
feita pelo Ministério da Justiça,
o que causou críticas da Abert
(Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), de
artistas e da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil).
"O que foi modificado nos últimos 60 dias é a análise prévia
de conteúdo. O ministério acolheu a demanda das emissoras
para que elas se responsabilizassem pela primeira análise.
Como a análise prévia foi sempre vista como resquício da
censura, o ministério afastou
esse resquício", disse Romão.
Indagado sobre a pressão das
emissoras, disse: "[Foi] bastante grande". A uma questão se a
modificação na portaria ocorreu por conta da censura ou da
pressão das emissoras, Romão
disse que não houve recuo.
"Não houve recuo [do governo]. O que a portaria 1.220 contempla são os melhores argumentos deste debate. E qual é o
argumento que venceu o debate? O fim da análise prévia. Nenhuma organização não-governamental e de defesa dos direitos da criança defendia a existência da análise prévia, mesmo diante do risco de se ter
uma lesão evidente como essa
aqui considerada."
A Abert informou ontem que
seus advogados e os das emissoras representadas por ela
passaram o dia analisando a
portaria. Como ainda restam
dúvidas sobre alguns pontos, a
associação disse ter optado por
não se pronunciar.
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