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Casal de artistas faz defesa dos índios
Jimmie Durham e Maria Thereza Alves misturam militância e discurso estético em suas obras para a Bienal
Americano ironiza a colonização, buscando artefatos da elite de SP, e brasileira vai traduzir dicionário dos krenak
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Listados numa única página, os atos políticos de Jimmie Durham e Maria Thereza
Alves talvez ocupassem mais
espaço do que o número de
obras e mostras que fizeram.
Engrossam as linhas anos
de trabalho representando
tribos indígenas nas Nações
Unidas, armando congressos, passeatas e manifestos.
Ele é índio cherokee norte-americano radicado na Europa desde os anos 90. Ela é
brasileira, casada com ele.
São artistas que mantiveram
o ativismo político no centro
de seus trabalhos sem cair
num panfletarismo forçado.
Também fizeram do próprio casamento uma espécie
de união em defesa de populações dizimadas, línguas e
costumes em extinção.
Juntos, com trabalhos diferentes, Durham e Alves estão escalados para a Bienal
de São Paulo, em setembro.
Enquanto ela faz um dicionário da língua dos krenak,
tribo quase extinta, ele vai
encarnar um antropólogo,
analisando a elite paulistana
e juntando seus artefatos de
valor para expor em vitrines.
É uma espécie de inversão
contemporânea das expedições dos grandes navegadores, que davam quinquilharias em troca de ouro.
No caso dela, a única tradução do krenak para um
idioma ocidental era para o
alemão, feito no século 19
por um farmacêutico. Reduzidos a cerca de 500, a tribo
agora terá o primeiro registro
de sua língua em português.
De certa forma, a obra desses artistas traduz para o
campo estético séculos de exploração, mas com humor no
lugar da retórica política.
ESPIÃ EM NOVA YORK
Durham conheceu a mulher nos anos 70 em Nova
York. Depois dos conflitos de
Wounded Knee, em que policiais cercaram a reserva de
Pine Ridge, na Dakota do
Sul, o artista virou representante dos índios na ONU.
Foi quando Alves ofereceu
sua ajuda. "Pensei que ela
fosse uma espiã, então disse
que não queríamos nada",
lembra Durham. "Mas acabei
indo atrás dela na rua e estamos juntos desde então."
Na época, Alves fazia
lobby nos Estados Unidos
contra o tratamento que o governo brasileiro dava aos índios. De volta ao país, ela trocou o PT (Partido dos Trabalhadores) para ser uma das
fundadoras do Partido Verde
e esteve nos debates em torno da Constituição de 1988.
Passada a era da política
mais forte do que a arte, deram um tempo na militância.
"Antes não achava que minha obra de artista pudesse
alcançar resultados", diz Alves. "Agora acredito que esse
trabalho acaba provocando
mais mudanças positivas."
Deslocaram a subversão
da política para a arte. "Ativismo e arte andam juntos,
mas não vou pregar para as
pessoas", resume Durham.
"Este é um momento belo para a arte: pode ser tudo que o
artista for capaz de fazer."
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