São Paulo, Terça-feira, 13 de Julho de 1999
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"Sinatra '57 - In Concert" faixa a faixa

1. "You Make Me Feel So Young" (Myron/ Gordon) - Uma abertura inusual de show, substituindo a tradicional "I've Got the World on a String". Sinatra começa a todo vapor, aproveitando a faixa de abertura de um de seus maiores sucessos em disco, "Songs for Swinging Lovers" (1956).

2. "It Happened in Monterey" (Wayne/ Rose) - Uma versão turbinada em metais, o único registro ao vivo da canção.

3. At Long Last Love (Cole Porter) - Ouça Sinatra estalando os dedos ao início. É a maior prova da excelência técnica da gravação de Wally Heider. Compare com outra versão ao vivo, gravada em Paris em 1962, com arranjos de Bill Miller. A orquestrada por Riddle tem muito mais histamina.

4. I Get a Kick Out of You (Cole Porter) - A mais irônica interpretação de uma das assinaturas do Sinatra maduro. Ele insere aqui os dois primeiros "cacos" do show. Logo na introdução, brinca com o verso "the only exception I know is the case". Iniciando a série de piadas com álcool que marcaria a noite, faz um jogo de palavras com "case" no sentido de caixa de bebida e pede: "let's buy one" (vamos comprar uma). Um pouco adiante, ao cantar o verso "some like the perfurm of Spain" (alguns gostam do perfume da Espanha), ecos de uma viagem atribulada atrás de uma reconciliação com Ava Gardner, levam-no a arrancar gargalhadas por acrescentar: "Spain?! Oh Gee! (Espanha?! Oh Jesus!). Uma variação da mesma piada, substituindo a frase por um esgar de asco, aparece na versão para o CD ao vivo de Paris.

5. Just One of Those Things (Cole Porter) - A mais agressiva e irônica versão de Sinatra para um dos "standards" de Porter que tornou assinatura sua. A orquestra de Nelson Riddle silencia por um segundo antes de atacar a segunda parte, com Sinatra passando a escandir mais a pronúncia. Torna ainda mais ácida a letra de Porter esticando a despedida "Goodbye dear and amen" com dois outros "goodbyes", um "so long", um humilhante "ta ta", encerrando tudo com "you might even add Amen" (você pode até adicionar amém).

6. "A Foggy Day" (George/Ira Gershwin) - Uma versão integral e carinhosa da declaração de amor a Londres dos Gershwin. Sinatra a completa com um "caco" romanticamente ambíguo, "An Englishman is happy when he's fighting for his queen" (Um inglês fica feliz ao lutar por sua rainha).

7. "The Lady Is a Tramp" (Rodgers/ Hart) - O primeiro registro ao vivo do mais delicioso retrato feminino satírico de Sinatra. Como se tornaria praxe, improvisa o tempo todo. De saída, brinca com a platéia: "Who are all these people and what do they want here?" (Quem é toda essa gente e o que eles querem aqui?). Muda a letra várias vezes, goza "theatre" entonando-o em sotaque britânico e guturaliza a voz num dos refrões finais.

8. "They Can't Take That Away from Me (George/Ira Gershwin) - Uma breve versão, sem a introdução, do clássico imortalizado por Fred Astaire. Sinatra escorrega duas vezes na letra, mas recupera-se com charme e velocidade.

9. "I Won't Dance" (Kern/Fields/ McHugh) - Também a única versão ao vivo disponível de um dos "highlights" de outro disco excepcional lançado por Sinatra e Riddle naquele ano, "A Swingin" Affair". "Ring-a-ding-ding", uma de suas expressões favoritas, faz uma aparição incidental.

10 - Monólogo - Sinatra esbanja charme e humor numa entreato cômico que tem o álcool por tema principal. Tudo soa como um aquecimento para os shows irreverentes com o Rat Pack (Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford) na década seguinte.

11. "When Your Lover Has Gone" (Swan) - Sinatra brinca com o tamanho dos óculos do pianista Bill Miller na introdução da segunda parte do show. O tom mais romântico segue o de dois LPs do período, "Songs for Your Lovers" (1954), com arranjos de George Siravo, e o recentíssimo -e insuperado- "In The Wee Small Hours", já em parceria com Riddle.

12. "Violets for Your Furs" (Dennis/Adair) - "Isn't that a lovely song?", pergunta o cantor ao final, depois de uma das delicadas interpretações da noite.

13. "My Funny Valentine" (Rodgers/Hart) - Uma das mais sóbrias versões de Sinatra para a balada, menos pungente que o registro ao vivo em Paris.

14. "Glad to Be Unhappy" (Rodgers/ Hart) - Sinatra reclama da garganta e logo defende-se assobiando um verso inteiro. Uma rouquidão inicial é aos poucos superada.

15. "One for My Baby" (Arlen/Mercer) - Um depoimento histórico apresenta-a como a "melhor canção de bar" de sua geração. Segue-se um número antológico, apenas a Voz e o Piano (Miller). A versão definitiva seria gravada no ano seguinte no LP "Only the Lonely".

16. "The Tender Trap" (Cahn/Van Heusen) - O show volta a se acelerar, com Sinatra pedindo aplausos para a orquestra e classificando como "extraordinária" a canção gravada para "um filme que adorei fazer". Mais uma vez esquece a letra -"há muito tempo não a canto"-, improvisando um "la-ra-la-la".

17. "Hey! Jealous Lover" (Cahn/Walker/ Thomey) - A mais espirituosa e anárquica interpretação da noite. Até Sinatra se rende, exclamando ao fim "I like this. It's fun" (Gosto disso. É divertido). Começa anunciando que "absoluta e inequivocadamente detesta esta canção". Em seguida, interrompe a introdução orquestral com uma citação breve de um sucesso brega de Patti Page, "Mama From The Train". Ri e solta "cacos" sucessivos.

18. "I've Got You Under My Skin" (Cole Porter) - Sinatra anima a orquestra com palmas e interjeições. Ao fim, acelera e diminui a velocidade, sem por um instante tornar uma sílaba menos clara.

19. "Oh! Look at Me Know" (De Vries/ Bushkin) - A despedida é um animado editorial do Sinatra pós-Ava: um conquistador cético, durão mas generoso, solitário embora sociável. "Nunca liguei para amor. Nunca liguei para fortuna. Nunca me preocupei muito. Olhe para mim agora. Sou um novo homem, melhor que Casanova no pico", canta um irônico Sinatra, revisitando "a canção que mais fez por mim do que qualquer outra", quando interpretada em 1940. Sucesso sempre foi sua maior vingança.


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