São Paulo, Terça-feira, 13 de Julho de 1999
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DISCO - LANÇAMENTOS
CD ressuscita o melhor de Sinatra ao vivo

AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas

Quem disse que Sinatra morreu? Ei-lo vivo e sedutor como nunca em "Sinatra '57 - In Concert", de longe o melhor registro disponível da Voz em ação diante de uma platéia.
Os anteriores empalidecem em comparação. "Sinatra at the Sands" (1966) não se equipara aos dois LPs de estúdio gravados com a mesma Count Basie Band. "The Main Event" (1974), marcando seu retorno da aposentadoria, é uma festa mais que um show.
"Sinatra and Sextet - Live in Paris" (1994), apesar da formação improvisada, era até aqui o melhor instantâneo de Sinatra ao vivo, similar em repertório mas superior em técnica e em pathos a "Live in Australia, 1959" (1997), com o quinteto Red Norvo. Já o recente "The Summit in Concert" (1999) não registra um show solo de Sinatra, mas sim um espetáculo divertido e politicamente incorretíssimo de três membros do Rat Pack -Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr.
Contando com o brasileiro Roberto Quartin como produtor e Tina Sinatra na produção executiva, "Sinatra '57" flagra-o no auge de sua colaboração com o maestro e arranjador Nelson Riddle. A parceria iniciada quatro anos antes resultaria no período áureo da discografia de Sinatra, mais de 300 gravações em 15 anos de intermitente trabalho conjunto.
É a era dos maravilhosamente melancólicos álbuns da fase Capitol, títulos obrigatórios como "In the Wee Small Hours" (1955), "Only the Lonely" (1958) e "Nice'n'Easy" (1960). Sinatra reinventava a si mesmo, renascendo da queda profissional do pós-Guerra e amorosa pós-Ava Gardner. Não era mais o jovem crooner romântico da era de ouro das "big bands".
Surgia o cantor maduro, de pronúncia cristalina e fôlego insuperável, que entoava céticas baladas que se orgulhavam das cicatrizes adquiridas.
Ninguém como Nelson Riddle soube valorizar aquela voz. Miles Davis notou como os arranjos de Riddle "preservavam seu espaço". Will Friedwald, autor do estudo maior sobre os estilos musicais de Sinatra ("The Song Is You", da Capo Press, 1997), destaca a "leveza" como o essencial do "estilo Riddle".

Sobre bebidas
Na certeira nota introdutória que acompanha o novo CD, Friedwald não deixa por menos: "o concerto de Seattle, de 9 de junho de 1957, é o maior documento de Sinatra e Riddle trabalhando juntos frente a um auditório". Sinatra surge relaxado, irônico, sensível mas não vulnerável, nem mesmo quando esquece uma letra ou sente a garganta o trair.
O repertório mescla sucessos dos álbuns com Riddle e destaques do popularíssmo "Songs for Young Lovers" (1953), com arranjos de George Siravo.
A primeira metade do show é alegre e dançante. O ritmo desacelera aos poucos e, após um hilário monólogo em torno de bebidas, chega afinal a hora das baladas. Esteja onde você estiver, são quinze para três, não há mais ninguém na sala, só ele e você.
Corra para a poltrona predileta, sirva-se um Jack Daniels e leia ao lado uma análise faixa a faixa.



Avaliação:    



Disco: Sinatra '57 - In Concert
Artista: Frank Sinatra
Como: edição limitada em CD com cobertura de Ouro 24-Karat, Artanis, 1999
Quanto: US$ 30,97
Onde: encomendas pela www.amazon.com


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