São Paulo, Terça-feira, 13 de Julho de 1999
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TEATRO
O brasileiro "Caixa de Imagens" e o francês "Petits Contes Nègres Titre Provisoire" estão no festival
Bonecos levam encanto a Avignon

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
enviado especial a Avignon

Avignon, sede do principal festival de teatro e dança da França, fez dos bonecos seus espetáculos mais populares. Dos 13 cm aos 2,50 m, eles atraem um público maior a cada dia, estimulado pela propaganda boca-a-boca.
As pequenas marionetes estão em "Caixa de Imagens", do Brasil, e as grandes, em "Petits Contes Nègres Titre Provisoire" (Pequenos Contos Negros Título Provisório), francês.
Os dois utilizam técnicas semelhantes, mas em espaços completamente diferentes.
"É mágico", diz a professora Liliane Maire ao sair de "Caixa de Imagens". "Lembra o tempo em que eu era garota. Mas o que senti mesmo vou descobrir mais tarde."
Para ver a magia da caixa de 40 cm (largura) por 50 cm (altura) por 60 cm (profundidade), Maire chegou ao átrio Saint-Louis 15 minutos antes do espetáculo -que, pela manhã, é "Em Algum Lugar do Passado", homenageava o fotógrafo lambe-lambe. Dez minutos depois de ela chegar, a sessão, de duas horas, estava completa.
Cada espectador assiste sozinho a miniespetáculos que duram de 3 a 5 minutos. E só. É verdade que o festival colaborou com a "Caixa". A espera se dá junto a uma fonte repleta de peixes, longe do barulho e da confusão das ruas de Avignon nos dias do festival, atualmente na sua 53ª edição.
"Depois, o público percebe que esse tempo de espera também faz parte da apresentação", afirma o iluminador Carlos Gaúcho.
As marionetes da "Caixa de Imagens", de movimentos suaves, manipuladas no fundo da caixa por Mônica Simões, Evelyn Cristina e Fábio Coutinho, são tecnicamente semelhantes às do grupo Royal de Luxe, que montou "Petits Contes Nègres". Os bonecos são movimentados com hastes, ligadas à cabeça e aos membros das figuras.
Mas há duas diferenças importantes. A primeira é a dimensão -os bonecos do Royal de Luxe são grandes, com em média pouco mais de 1 metro de altura, bem como o palco, de cerca de 20 m de largura, e a platéia (800 pessoas).
A fila para ver "Petits Contes Nègres" passa de duas horas, é confusa e não falta gente tentando furá-la. Mas o espetáculo recompensa. Logo no início, a platéia sorteia a ordem dos nove pequenos contos. Isso significa que são 362.880 possibilidades de ver o espetáculo, na verdade um show que mistura música, mágica, efeitos especiais, dança e teatro.
Num dos contos mais espetaculares, "Apollo dans la Savane", um astronauta chega a uma lua e lá encontra uma girafa azul de metal. Começa então a cavalgar (ou girafar?) nela, num ritmo lunar. Em outro conto, numa fina ironia política, um casal de africanos conta uma viagem num navio negreiro como se falasse de uma viagem de férias. Num ritmo frenético, os contos se sucedem. Pequenos esquetes ajudam a distrair o público, enquanto a companhia, com 12 atores em cena, arma o próximo cenário.


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