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ARNALDO JABOR
Nunca o Brasil esteve tão chato...
Meu Deus, como o Brasil está
chato! Não acontece mais nada.
Porque o país -justiça seja feita- nunca foi "chato". Foi louco,
sim; foi esculhambado, sim, com
os eternos ratos roubando, sim,
sempre foi um pacto de elites imperturbáveis sendo criticadas por
um populismo imbecil e oportunista, sim, sempre foi. Mas, "chato", isso não.
Nossas crises que tinham o charme de minuetos à beira do abismo, nossos dramas que chocavam
a inteligência eram, contudo, excitantes. Lembrem-se do frisson
do impeachment, lembrem-se da
montanha-russa da inflação. Era
terrível. Mas, tinha "zest", "wit",
"pep".
Agora, tudo virou um brejinho
de águas mornas. Nossos suspenses são ridículos. Será que o ACM
vai conseguir implantar a Ford?
Quem disca melhor, a Ana Paula
Arósio ou a Luana? E Temer já está numa boa com ACM? Conseguirá Jader Barbalho proteger o
PMDB? Meu Deus, que tédio, que
leseira, que maçada, que fastio,
que estopada, que "pé no saco"!...
Que saudade das esperanças
loucas, dos gestos impensados...
Tudo anda em círculo vicioso, minhocas mordendo o próprio rabo
ao som do pagode e das "bundas-tchan", sob as risadas de "Caras".
É verdade que, antes, éramos
animados pela grande ilusão estatal que nos dava combustível
para utopias deslavadas, mas que
criava subprodutos culturais.
Quanta coisa saiu da loucura de
JK, desde o aeroporto de ETs que é
Brasília até a crença ingênua em
um "primeiro mundo" instantâneo e mágico. Até mesmo as derrotas "revolucionárias" tinham o
gosto amargo e viril das batalhas
perdidas, "vitórias" masoquistas
pelo avesso... Em janeiro deste
ano, parecia que a roda-gigante
da história iria esmagar a Rússia
e o Brasil. Pois mexeram no câmbio, nada aconteceu e tudo parou.
Não estamos em crise. Estamos
em quê? Em caos? Em lama? Em
banho-maria? Onde estamos? É
terrível este silêncio histórico. Crise? Não. Chamemos de quê? Chá
de cadeira, semicúpio, banho de
cuia?
Diante do impasse da "globalização", nome atual do imperialismo, o presidente brinca de roda,
em "cimeiras", ganhando presentinhos, recebendo Ratinhos, mísseis, falando de "globalismo simétrico", Santo Deus... Que "saco",
que "aluguel"...
A "destranscendentalização"
(uff...) da vida -mercado em vez
de sonhos- acelera os países ricos e cria um frisson consumista
para eles. Para nós, sem poder, sobra apenas a raspagem de todas
as "auras", a morte de todas as
fantasias.
Aqui, as coisas parecem acontecer e acabam de repente, surgem e
morrem como as rosas, "no espaço de uma manhã". As CPIs, os
precatórios, os escândalos, as
ameaças, tudo fenece no meio. Só
se realizam os acontecimentos
que interessam às oligarquias e
aos americanos.
O episódio da Ford foi exemplar. Começou com a sabujice de
Britto, que deu mais do que devia,
e cresceu com o veto correto de
Olívio Dutra, que, no entanto,
veio com sobretons de machismo
petista. A Ford, "puta velha" de
mercado, reagiu, agarrada em
ACM: "Ah, é? Pois agora vai ser o
dobro do preço...".
Quando acontecerá alguma coisa profunda, renovadora? Entre o
fracasso do Estado-Nação e o globalismo malandro, ficamos no
meio, otários, paralisados. Enquanto o turbo-capitalismo dá
aos EUA a maior prosperidade do
milênio, nós ficamos parados,
com celularzinho na mão, bonezinho do "Chicago Bulls", tenizinho
"Reebok", feito uns babacas.
O que está acontecendo é um
impedimento aos acontecimentos. O que está acontecendo é um
"não-acontecer" proposital. Os
Três Poderes competem em corporativismo, anulando as "reformas", deformadas e mortas, como
esqueletos de peixes. O governo
gasta seu mandato administrando trapalhadas políticas evitáveis.
A viciosa circularidade tucana é
responsável por isso: o "bom senso" que esconde o medo, a mentalidade falsamente "processual"
que esconde a preguiça. Tudo isso
está provocando uma "castração
silenciosa" da nação, em vez da
tal "revolução silenciosa" que viria.
A cara de tédio "itamarateca"
de Sérgio Amaral foi substituída
pela cara de tédio de Lamazière. E
a sociedade continua ignorada
em matéria de comunicação, única coisa que teria importado para
mudar estruturas. E, cada vez
mais, o povo cai no conto dos populistas espertos, dos dinossauros
renascidos com slogans fáceis de
entender.
Em quatro anos e meio de governo, não se emplacou medida
social-democrata alguma, nada
contrário aos interesses de aliados
liberais. Nada. A nossa expectativa lamentável é esperar que o presidente mude de personalidade.
Em vez de uma esperança histórica, temos um suspense psicológico. Conseguirá ele fazer ao menos
um ministério? Nada pior, num
presidencialismo ibérico, que um
chefe sem peito.
Além de Belíndia, estamos virando uma Suíça mixada com Índia, chata e faminta: "Suicíndia".
A personalidade de FH está se
abatendo sobre o ritmo do país todo.
Nossa única esperança de acontecimentos é uma boa crise internacional que vai nos pegar, claro,
como sempre, despreparados, já
que, claro, como sempre, não fizemos nem faremos ajuste fiscal
porra nenhuma.
Achávamos que FH ia desconstruir um Estado patrimonialista,
mas o pacto pelo atraso vence, como sempre. Íamos cair num abismo e acabamos afogados numa
poça d'água.
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