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PERSONALIDADE
Ensaísta francês era uma das últimas testemunhas de fase gloriosa da cultura européia
Pierre Klossowski morre aos 96 em Paris
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Morreu ontem em Paris o escritor, ensaísta e artista plástico Pierre Klossowski, três dias após completar 96 anos (em 9 de agosto) e
quase seis meses depois da morte
do pintor Balthus, seu irmão,
ocorrida também num domingo
(18 de fevereiro).
É uma perda de grande importância para a França, embora
Pierre Klossowski nunca tenha
ocupado o panteão central -e
mais midiático- da intelligentsia
do país. Ele era uma das últimas
testemunhas de toda uma fase
gloriosa da cultura européia e
francesa neste século e um dos
seus personagens mais intrigantes e perturbadores.
Tanto seu pai (Erich Klossowski) quanto sua mãe (Elizabeth
Spiro) eram pintores. De origem
polonesa, a família imigrou para a
Itália e mais tarde para a França,
no início do século. Na infância,
Pierre Klossowski conviveu com
o pintor Pierre Bonnard, professor de sua mãe, o escritor André
Gide e o poeta Rainer Maria Rilke,
que foi para ele uma espécie de tutor. Na juventude, associou-se aos
surrealistas e foi um dos interlocutores de Georges Bataille (escritor e pensador) e André Masson
(artista plástico). Os filósofos Michel Foucault e Gilles Deleuze estavam entre seus admiradores.
Talvez por causa da Ocupação
na França, os primeiros livros de
Klossowski só foram publicados
quando ele já havia passado dos
40 anos ("Sade, Meu Próximo" é
de 1947, traduzido no Brasil). A
primeira exposição de seus desenhos só ocorreu em 1952.
Seus romances, durante muito
tempo considerados escandalosos, ocupam um lugar extravagante na literatura francesa do século passado, bem como seu ensaísmo filosófico e mais ainda as
suas esculturas e pinturas.
Em quase toda a sua obra, o erotismo é um tema dominante, mas
numa combinação complexa
com filosofia e teologia, que ele
estudou na juventude.
Entre os seus romances, "Le Baphomet" chegou a ser traduzido
no Brasil (está esgotado). O restante ainda está esperando uma
boa versão brasileira, como a trilogia "Les Lois de l'Hospitalité"
(As Leis da Hospitalidade), da
qual faz parte "Roberte Ce Soir",
talvez a sua melhor ficção.
Para os cinéfilos, Pierre Klossowski é um dos personagens-chaves de "Au Hasard Balthazar"
(Ao Acaso Balthazar, 1966), de
Robert Bresson: é quem chicoteia
impiedosamente o jumento que
dá nome e é o personagem central
desse filme magnífico.
O diretor franco-chileno Raoul
Ruiz adaptou um de seus livros (A
Vocação Suspensa) no filme "A
Hipótese do Quadro Roubado".
Dois textos de Klossowski também aparecem em "Salò ou os 120
Dias de Sodoma", de Pier Paolo
Pasolini.
Recentemente, foi publicado no
Brasil "Nietzsche e o Círculo Vicioso" (editora Pazulin), de Klossowski, um dos mais radicais estudos sobre o pensador alemão. A
obra leva ao paroxismo a análise
nietzschiana da dimensão mistificatória da metafísica, do encerramento da história e do aparecimento de um novo tempo mítico.
Para os pós-modernos, Klossowski é um dos nomes de referência no que diz respeito à crítica
do princípio de identidade e da
representação, com sua perspectiva de um mundo que se tornou
"fábula" e "narrativa", como ele
expõe em "Un Si Funeste Désir"
(Um Desejo Tão Funesto).
Com agências internacionais
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